Ricarda Raquel Barbosa Lima (foto em destaque), chefe de gabinete da senadora Leila Barros, conhecida como Leila do Vôlei (PSB), foi alvo de mandado de busca e apreensão nesta terça-feira (2/2). Ela teve celular e equipamentos eletrônicos recolhidos pela equipe Divisão de Repressão à Corrupção do Departamento de Combate à Corrupção (Decor), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
Ricarda, ex-atleta da Seleção Feminina Brasileira de Vôlei e medalhista de bronze nas Olimpíadas de Sydney em 2000, é investigada pela Operação Tie-Break, que apura irregularidades na contratação do Instituto Amigos do Vôlei (IAV) para prestação de serviços no Centro Olímpico de Santa Maria, por meio de licitação vinculada à Secretaria de Esportes do DF.
O convênio investigado e a respectiva execução tiveram início no ano de 2011, sendo que a fase conclusiva ocorreu a partir de 2017, com a prestação de contas finalizada em novembro de 2018. Em novembro do ano passado, o Tribunal de Contas do DF (TCDF) condenou três gestores do antigo Instituto Amigos do Vôlei, atual Brasília Vôlei Esporte Clube, a pagar R$ 21 mil em multas. Entre os condenados está a chefe de gabinete da senadora.
À época, segundo processo do TCDF, Ricarda era a presidente da fundação e teve pena estipulada em R$ 7 mil. O mesmo valor devido pelos então diretores financeiros, André Luis Pedrosa e Francisco Barbosa Pedrosa.
Veja o que diz o processo do TCDF:
Reprodução/TCDF
Para a condenação, pesou contra eles a fragilidade na apresentação dos resultados dos indicadores, direcionamento de licitações para empresas ligadas a membros da diretoria do instituto e combinação de preço nas aquisições realizadas por dispensa de licitação, com evidências de fraude nos procedimentos.
Quando a investigação ainda estava em curso, Ricarda foi contratada no gabinete da senadora Leila Barros. Segundo mostrou o Portal do Senado Federal, ela exerce função comissionada desde 2019. O salário bruto atual de Ricarda no gabinete da senadora é de R$ 22.943,73. Ela está na função SF02 do Senado Federal.
Reprodução/Senado Federal
Ricarda e Leila são amigas há décadas. Elas atuaram juntas nas quadras de Vôlei, na seleção brasileira. Em 2006, começaram a investir juntas no terceiro setor. Elas participaram, como atletas e no incentivo de jovens jogadores, de programas junto aos governos de José Roberto Arruda (PL) e Agnelo Queiroz (PT), até ocuparem a Secretaria de Esportes e Lazer do DF, na gestão de Rodrigo Rollemberg (PSB), antecessor de Ibaneis Rocha (MDB).
A ex-atleta também foi consultora da EVB (Escola de Vôlei Bernardinho) em Brasília e gestora da Vila Olímpica “Rei Pelé”, em Samambaia. Ricarda atuou ainda como secretária-adjunta de Esporte, Turismo e Lazer do Distrito Federal, na gestão da então secretária Leila Barros, hoje senadora. No Senado, Ricarda é chefe de gabinete de Leila e representa o Conselho Nacional do Esporte na Comissão Técnica da Lei de Incentivo ao Esporte.
Operação Tie-Break
Nesta terça-feira (2/2), a PCDF cumpriu três mandados de busca e apreensão em empresa e em residências localizadas em Águas Claras, Taguatinga e Ceilândia, visando obter elementos probatórios a fim de subsidiar as investigações em andamento. Até o momento, os indícios são de crimes previstos na Lei de Licitações e outros delitos contra a administração pública.
Veja fotos da operação:
Ao longo da investigação, os policiais identificaram diversos indícios que demonstraram o direcionamento da contratação do IAV e também do valor total do contrato (R$ 9.952.055,14). O montante de, aproximadamente, R$ 3 milhões não contava com comprovação de gasto.
Segundo a PCDF, parte das irregularidades também foi apontada pelo TCDF. Algumas irregularidades apontadas no relatório de auditoria da Corte de Contas foram:
As investigações contaram com participação dos peritos criminais do Instituto de Criminalística da PCDF, os quais apontaram que o valor devido aos cofres públicos, mesmo após as glosas, seria de R$ 800.463,56.
O termo Tie-Break, que dá nome à operação, faz alusão ao set decisivo do voleibol. As investigações seguem em curso.
O advogado de Ricarda, Fábio Paganella, afirmou que a ex-atleta recebeu a notícia da investigação com surpresa. “A Ricarda sempre pautou sua conduta de forma ilibada, dentro da ética, praticou todos os atos, buscando sempre a legalidade e ficou muito surpresa com o fato desta terça-feira (2/2). Em princípio, estamos apurando para realizar a defesa da forma mais rápida possível”, disse o defensor da chefe de gabinete da senadora Leila do Vôlei.
Em nota, a senadora Leila Barros afirmou que “acompanha com atenção os desdobramentos da Operação Tie-Break e defende que os fatos sejam esclarecidos o mais rapidamente possível. Sua atuação — tanto na vida pública quanto na vida pessoal ou nos anos que se dedicou ao esporte — sempre foi pautada nos princípios da legalidade, moralidade e da ética”.
O Instituto Amigos do Vôlei, também em nota, informou que “está colaborando com as investigações da Operação Tie-Break. O IAV é o maior interessado em comprovar que não há débitos com o Distrito Federal e que não houve má-fé dos gestores, que se dedicaram a promover a inclusão social por meio do esporte”.
Já o Serviço Social da Indústria do Distrito Federal (Sesi-DF) esclareceu que “manteve com o Instituto Amigos do Vôlei uma parceria de mais de 10 anos, na oferta de aulas esportivas gratuitas à comunidade. Não houve transferência de recursos ao Sesi-DF para operacionalização das ações. Todos os custos envolvidos no acordo — pessoal, insumos, preparação e manutenção de espaços — eram de responsabilidade do Sesi-DF, em cumprimento a uma das funções sociais da instituição, que é a inclusão esportiva em atendimento à comunidade”.
No texto encaminhado à reportagem, a entidade disse manter “parceria com o Brasília Vôlei Esporte Clube, por meio de acordo de cooperação técnica, que também ocorre sem transferência de recursos. As equipes masculina e feminina do Brasília Vôlei utilizam os espaços do Sesi Taguatinga para treinamento de atletas e como sede de partidas pela Superliga e, em contrapartida, o clube expõe a marca do Sesi-DF.”
Por fim, o Sesi-DF destacou estar à disposição das autoridades, afirmando que “atua sempre com o objetivo de cumprir com os propósitos do Sesi-DF, de atender aos trabalhadores da indústria e à comunidade com serviços de esporte e lazer de qualidade.”