Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tiveram uma conversa tensa sobre a demissão do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco. Segundo a revista Veja, que revelou o diálogo nesta sexta-feira (26/2), o ministro teria alertado Bolsonaro que a interferência do governo na Petrobras poderia trazer resultado desastroso para a companhia e a economia, o que de fato ocorreu.
“Presidente, vai desmanchar. Vai ser um horror”, disse Guedes. Em resposta, Bolsonaro teria pedido confiança e afirmado que o novo indicado para a petroleira, o general Joaquim Silva e Luna, consertou a Itaipu. “PG, você precisa acreditar. O nome é muito bom. O cara consertou Itaipu… Tomei facada, apanhei muito para chegar até aqui. Se eu tiver de errar, quero pagar pelos meus erros”, disse Bolsonaro, segundo a revista.
“Tudo bem, o senhor tem voto. Eu não tenho. Agora, vai dar merda”, teria replicado o ministro, enfatizando que não era hora de criar um movimento político dessa magnitude. “Do ponto de vista político, o senhor fuzilou o presidente da Petrobras e vai zerar os impostos para os caminhoneiros. O senhor tentou uma jogada política. Mas isso tem um efeito econômico terrível, um preço caríssimo”, completou Guedes.
“O mercado está achando que o senhor está me dando um tiro. O senhor está entrando na política econômica e falou que não iria entrar”, lamentou o ministro. Bolsonaro teria então justificado a sua decisão dessa forma: “Eu vi que eu tenho de nomear o presidente da Petrobras. Você indicou, mas eu tenho de nomear. O cara já ficou lá dois anos. O cara não tem sensibilidade com os caminhoneiros”.
Os movimentos do presidente, como alertou Guedes, provocaram uma perda de R$ 400 bilhões para a empresa e demais estatais em dois dias, além da alta do dólar.
Nesta sexta, outro nome do time de Guedes também sinalizou que pode deixar o governo. O presidente do Banco do Brasil, André Brandão, é outro que entrou na mira do presidente por tocar uma agenda liberal, a mesma que Guedes prometeu impor quando aceitou ser ministro.
O Palácio do Planalto e o Ministério da Economia ainda não se manifestaram sobre a reportagem da revista Veja. Procurado, o Banco do Brasil negou, por meio de nota, que Brandão tenha apresentado sua carta de demissão.