10/03/2021 às 15h32min - Atualizada em 10/03/2021 às 15h32min

O mercado do sexo em tempos de pandemia da Covid-19

Zuleika lopes
Blog da Zuleika
Submundo que caminha paralelo ao chamado mundo normal, a prostituição existe desde que as pessoas começaram a conviver: dados históricos remontam 2500 a. C. na Grécia Antiga. Ignorada por grande parte da sociedade, mas que dela usufrui sem pudores no sigilo de quatro paredes, a prostituição faz parte de um mercado que contempla inúmeros trabalhadores informais, que também foi afetado pela pandemia de Covid-19 que se abateu na humanidade em 2020. 

O Blog da Zuleika foi conversa com uma trabalhadora do sexto, codinome Iara Daher de 25 anos, para saber quais são as necessidades, os conflitos e as agruras de exercer uma profissão tão mal vista pela sociedade. E, aproveitou para descortinar o véu que existe sobre a prostituição e suas mazelas em tempos de pandemia. Descobriu que os homens não se cuidam se cuidam durante os encontros com o uso de máscara e álcool em gel, e que a internet se tornou a aliada das prostitutas em 2020/2021, que deixaram ás ruas e se utilizam dos sites de sexo, canais no You tube e Instagram para oferecer seus serviços aos potenciais clientes.

Uma bela goiana, que no auge dos seus 25 anos atende na cidade de Cristalina, onde mora e nas cidades do Entorno, na capital Goiânia e dá seus pulos no Distrito Federal. Dentre suas responsabilidades está a criação de um filho e o amparo financeiro e emocional a um irmão. 

Blog da Zuleika: Quais os percalços desta profissão?

Iara–
As dificuldades em estar nessa vida é saber que a sociedade sempre irá nos julgar. Vejo a diferença nas poucas festas que eu vou na cidade ( antes da pandemia ), os homens nunca chegam para conversar, esses mesmos que estão no meu whatsapp a procura de programa. Em público sentem vergonha e preconceito. Outro problema ( ou não ) é que conheço mais sobre a índole e a capacidade de um homem, e isso me torna mais “imune” a ele, em sentido de investir para relacionamento. Não consigo acreditar mais neles. Então acaba que a longo prazo isso irá me tornar uma mulher fria e sem sentimentos para uma vida conjugal. 

É um profissão rentável?

Sim bastante! E para mim trouxe a minha independência… Consigo tirar em torno de 6 mil por mês trabalhando metade do mês apenas. Porém trabalho muito acordo muito cedo e vou dormir muito tarde. Há meninas que levantam mil reais a mais e um único dia. Realmente esse é o real motivo para muitas estarem nessa profissão o lucro é alto.



Existem muitas garotas de programas?
Sim. As vezes até quem nunca pensei faz. Vai desde aquela menina novinha que ganha presentes a troco de sexo, até aquela mulher casada da alta sociedade que está com o seu marido para manter um status e uma posição social… A prostituição pra mim e muita complexa. Mas essas que estão anunciadas em sites , boates e ruas são muitas também. São meninas jovens até senhoras. Existem também os travestis. E como eu digo tem pra todo gosto. 

Os seus clientes estão com medo durante a pandemia?

Os que atendo são poucos que estão com medo. Não vejo que estao tendo os cuidados nessa nova rotina de pandemia. Poucos estão com máscaras , ou se higienizando com álcool em gel ou setenta.

E você? durante seu trabalho usa as medidas protetivas?

Os meus cuidados são precários infelizmente. Eu não trabalho com máscara e também não tenho sempre ou deixo a disposição o álcool. Porém, sempre que irei fazer um atendimento e que termino tomo um bom banho. Acho que este está sendo o meu único cuidado na minha profissão. Ainda não me contaminei com o vírus.

Porque você optou por esta profissão?

Optei por ela por me trazer a autonomia e a independência financeira. Não tenho outro meio que não seja esse e que me traga tantos ganhos. Não quero e nem irei ser funcionária de ninguém. Até porque não conseguiria viver com menos de 3 mil por mês. As minhas despesas são altas. Sou mãe e cuido de um irmão também. 

Já passou por alguma saia justa?

Sim. Principalmente tendo que lidar com as mulheres dos clientes que descobrem. Então sempre opto em não mentir e conto que sou garota de programa. Sempre sou ameaçada por elas e também fico com medo dos maridos se sentirem no direito de virem tirar satisfação comigo depois. Mas nunca aconteceu nada mais violento, sempre somem com o tempo. Já aconteceu também de levar golpes no início e até ser ameaçada com arma. Mas com o tempo aprendi a me defender e a agir de melhor forma.

Você cobra por hora?

Não. Eu atendo por ejaculação. Estipulo um horário entre meia hora para que isso ocorra. Caso o cliente queira uma hora o preço modifica e ele pode ejacular duas vezes dentro desse período. Acho que desta maneira fica menos maçante. Mas tem clientes que pagam a hora ou até mais para apenas conversar e ter uma companhia.

Quais são seus clientes mais assíduos?



Geralmente são funcionários e empresários também. E tem de todo o ramo. Policiais, professores, fazendeiros, etc… Mas procuro sempre manter o profissionalismo e dificilmente pergunto sobre seu trabalho e sua vida íntima. Quando me falam é que eu fico sabendo. O público varia muito… Já atendi menores de idade como senhores de idade… Geralmente a faixa etária gira em torno de 25 a 40 anos.

Quais os pedidos dos clientes? alguns são bizarros? 

Os pedidos são muitos. E cada um com sua peculiaridade… Vai do mais comum onde praticamente todas as meninas que eu conheço e que fazem programa já fizeram ou irão fazer, e que são esses: beijo grego , fio terra e inversão de papeis. Que seria literalmente o homem ser penetrado pela mulher. Eu sou uma simpatizante do mundo BDSM e estou sempre disposta e aberta a novos fetiches… Então comigo já aconteceu de pedirem para cuspir, bater , asfixiar, pisar entre outras práticas Já houve quem pedisse para lamber o meu pé, e em cima de seus corpos, urinar, e teve quem oferece pagamento alto também para que eu defecasse. Já teve pedido de ser chutado em seu saco escrotal até o limite. Teve o facefuck que seria praticar o sexo oral até o vômito. Então nunca se sabe quando virão esses pedidos inusitados. Pois geralmente vem de quem menos espero… 

A chegada da internet facilitou ou prejudicou o trabalho de prostituição ? 

Com certeza ajudou muito. Porque muitas meninas que optaram em trabalhar com o sexo ou estavam em boates ou estavam nas ruas. Sempre trabalhando para alguém. Então com a internet conseguimos hoje trabalhar para nós mesmas e atender em nossos locais. Podemos nos anunciar para um público muito maior. Conseguimos também chamadas de vídeo e vendas de conteúdo adulto para o mundo todo. Santa internet… rsrs

Na pandemia, quantos clientes atende hoje e quantos eram antes?

Já posso deixar bem claro que baixou e muito os meus ganhos nessa época de pandemia. Principalmente agora que estamos em Lockdown. Conseguia sempre tirar em torno de 800 por dia hoje consigo 400 pra menos… Trabalhando como trabalho nas ruas. Em frente a motéis. Em sites na cidade que eu moro ( cristalina GO ) cidade do interior, bem pequena consigo fazer em torno de 300 por dia quando aparece… E antes da pandemia conseguia tirar até em torno de 800 reais em meu local sem precisar viajar… Hoje vejo muito a necessidade de ficar viajando para conseguir me manter… Está bem difícil.

Já parou de atender durante a pandemia?

Sim. Apenas no começo. Pois eu estava sendo sugar baby de um homem de Belo Horizonte. Fiquei 6 meses parada.

E agora com o toque de recolher nas cidades do Entorno e no DF?

Semana passada estive trabalhando no DF e algumas colegas estavam reclamando… As ruas estão mais paradas. Os sites estão tendo uma maior procura nesse período.
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