Uma cidade que ficou órfã de uma das suas maiores lideranças comunitárias, Santa Maria amanheceu nesse domingo com um nó na garganta por ter perdido seu popular “Voz Ativa” ou “Líder Comunitário Interpessoal”. Francisco de Assis Fonseca, 67 anos completados no último dia 4, faleceu na manhã desse domingo (2) em decorrência da Covid-19 e suas atuações em prol da população ficarão eternamente marcadas na memória de todos aqueles que o conheceram e acompanharam sua luta por Santa Maria.
No atestado de óbito do líder comunitário, está descrido que a causa da morte foi choque séptico, pneumonia bacteriana e viral, muito forte para a saúde fragilizada de Fonseca, que estava internado há aproximadamente três semanas. Ele deixa esposa, seis filhos e oito netos, entre os quais, o recém-chegado Samuel de apenas dois meses, último filho da união com Sabrina Santos.
Logo após o anuncio da morte do líder comunitário, feita pelo filho Luciano Fonseca, nas redes sociais não se falavam de outra coisa a não ser sobre o seu falecimento. O filho escreveu sobre a convivência e a educação recebida do pai. "Papai, com o senhor aprendi sobre honestidade, humildade, respeito, responsabilidade, olhar ao próximo e sempre escolher os melhores caminhos. A saudade é grande, mas a certeza de que está com o Pai, me conforta. Darei continuidade ao seu legado, carregando sempre seu nome e sua força.”
Várias pessoas também lamentaram a partida do líder comunitário. A Administração Regional da cidade, emitiu nota em que reconhece o trabalho do líder. “Administração Regional de Santa Maria presta toda solidariedade e condolências aos amigos e familiares de Francisco de Assis Fonseca, conhecido como Fonseca de Santa Maria. Líder comunitário, Fonseca sempre lutou ativamente pela nossa cidade e nos deixa um legado de empenho pela transformação da nossa região e do Distrito Federal.”
Por sua vez a administradora da cidade, Marileide Romão externou tristeza pelo ocorrido. "Fonseca sempre foi um batalhador incansável em busca de melhorias e transformações em Santa Maria. Todos nós ficamos muitos abalados e tristes com sua partida. Desejo nossos sentimentos a todos os familiares.”
Já o jornalista Vital Furtado escreveu em seu site sobre a atuação do líder. “O vento frio que nos arrepiou logo cedo, parecia uma despedida do céu, para um santamariense que era apaixonado por sua cidade e que se alegrava cada vez que em participava da luta por melhorias para a comunidade que via nele um líder nato e cheio de graça. Saudades Amigo!!! ...Santa Maria chora... está de luto, triste com sua partida.”
Por fim, José Nogueira disse da importância de Fonseca para a concretização do projeto urbanístico da cidade e da sua importância para Santa Maria. “Nós hoje perdemos uma grande liderança, que sempre foi questionada, criticada, elogiada, porém nunca foi valorizada por aquelas que se dizem representantes da cidade na CLDF. (...) foi uma perca enorme, porque tenho certeza que, se Santa Maria teve um dia uma grande liderança comunitária que soube valorizar e defende-la, principalmente a nossa poligonal, essa liderança chama-se Fonseca de Santa Maria.”
A história
Quem não ouviu falar do “popular voz ativa” ou “líder comunitário interpessoal”, ou até mesmo conhece a luta desse popular líder comunitário que conquistou Santa Maria pela simplicidade, humildade e sinceridade em suas palavras, porém insistente nas suas reivindicações, que ainda se destacou como sendo uma das maiores vozes da comunidade junto aos poderes políticos do Distrito Federal.
Casado pela segunda vez, Francisco de Assis Fonseca (67) era servidor aposentado da Secretaria de Educação do Distrito Federal, pai de seis filhos e avó e oito netos. Pioneiro em Santa Maria, ele ganhou notoriedade ao reivindicar melhorias para a quadra que morava (QR 307). Mas, vendo que outras reivindicações da população só aumentavam, decidiu romper as fronteiras da QR 304, decidindo lutar, também, por outras regiões da cidade. Uma das suas maiores lutas é em relação a regularização fundiária das 13 quadras da cidade que “entra e sai governos, as coisas não saem do papel”.
Fonseca ainda foi um eterno lutador para que o asfaltamento da Vicinal-371, via que liga a cidade à DF 290, passando pelo residencial Total Ville, fosse concluído em tempo abio. Isso muito antes da chegada de vários politiqueiros de plantão que pegaram carona na execução do projeto e hoje querem se intitular “pais da criança”. Sempre em reuniões com autoridades do governo, Fonseca com muita autoridade, exercia o seu papel de liderança e cobrava desses, entre outras reivindicações dos moradores. Se destacou ainda na instalação do semáforo no balão de acesso ao Novo Gama, quando cobrou ferrenhamente a instalação do equipamento, tendo em vista a possibilidade de acidentes graves no local. Em ambas ocasiões, ao ter as benfeitorias concluídas, esses mesmos politiqueiros da cidade se aproveitaram dessas para tirar vantagens pelo ato e sequer lembraram que as lutas tiveram a participação ativa do líder comunitário. Foram dele ainda as primeiras reivindicações pela instalação dos redutores de velocidade nas Avenidas Santa Maria (em frente ao Centro Olímpico) e Alagados (em frente à praça central e Caixa Econômica).
Onde tinha problemas, sejam buracos, lixo, obras malfeitas, entre outros, lá estava ele com o seu polegar voltado para baixo, num ato de reprovação e ao reivindicar, principalmente em solenidades, sempre se emocionava, indo as lágrimas. Era verdadeiro.
O Louco
Muitos não entendiam o real significado das suas reivindicações, devido à dificuldade da oratória e o chamavam de doido e muitas vezes viravam não davam importância, dizendo que “se tratava de louco”. Mas por detrás da sua fala existia coerência. “Ele falava com o coração, se emocionava ao expor o seu amor pela cidade e se sentia honrado ao ter suas solicitações atendidas. Ele queria ser ouvido e conseguiu, mesmo por poucos, porém era esses poucos que faziam a diferença no seu dia-a-dia e lhe davam força para ir adiante”, disse um amigo.
Para alguns, Fonseca era um líder “folclórico”, mas para a maioria foi um dos únicos que lutaram pelo bem-estar dos moradores de Santa Maria, além de demonstrar amor incondicional pela cidade. Foi dele o projeto de criação da bandeira de Santa Maria, que sempre fez questão de empunhar em todos os eventos que participou. “Ele sim foi um líder nato que doou o seu sangue por toda a população. Espero que se recupere e volte a lutar por nós, fazendo o que muitos não fazem, mas querem levar vantagens”, relatou a dona de casa e amiga Maria da Gloria, em depoimento antes da morte.
Fonseca sempre quis fazer mais pela cidade, mas como ele mesmo dizia: “Um líder tem suas limitações e não pode ir muito além das reivindicações”. Por tanto, sempre teve o desejo de se tornar administrador, vontade que sabia estar distante, mas nunca desistiu e sempre que havia a oportunidade, lá estava ele colocando o seu nome à disposição para uma eventual sabatina. Talvez por isso é que era chamado de folclórico e louco. Esse talvez, pudesse ser o seu único e desejo não realizado. Mas, para que ser administrador, se o Fonseca era maior do que qualquer cargo político? “Ele era nato, autentico, sincero e participativo, coisa que muitos detentores de mandato e status político tentam e jamais conseguirão alcançar”, falou o amigo e jornalista Celso Alonso.
O amigo
Fonseca tinha a característica de fácil convívio e não guardava rancor quando de certa forma, era atingido com um comentário maldoso. Era amigo de todos e tinha prazer em estar participando de algum grupo, principalmente para discutir os problemas de Santa Maria.
Hoje a cidade perde a referencia de uma líder completo, sem interesses escusos, troca de favores ou reconhecimento individual. Santa Maria perdeu nesse domingo uma parte da sua identidade comunitária, que ao lado daqueles que ajudaram a erguer esta cidade, dedicou sua vida em prol do coletivo.
A dor vai perdurar por uma eternidade, mas o alento é saber que por aqui passou um dos poucos e verdadeiros Líderes Comunitários. Santa Maria pode estar enlutada pela partida de Francisco de Assis Fonseca, mas a partir de hoje, escreverá na sua história mais um aprendizado, de que os homens sérios, verdadeiros e humildes devem ser enaltecidos e terem seus trabalhos reconhecidos.