29/04/2017 às 18h30min - Atualizada em 29/04/2017 às 18h30min

A greve geral: ‘Silêncio das ruas’ teve duplo sentido

Sinal de força.

Estadão Conteúdo
 
 

Acostumados aos recentes protestos, com milhares de populares tomando avenidas pelo País, a greve geral com “clima de feriado” provocou reações dúbias entre acadêmicos e analistas acostumados a observar – e interpretar – fenômenos econômicos, sociais e políticos que emergem das massas. Enquanto alguns avaliaram o “silêncio das ruas” como um sinal de baixo engajamento, outros consideraram o ato um sucesso, alegando que uma greve pressupõe a parada que se viu.

 

Para uma parcela dos observadores, os piquetes pontuais em ruas vazias deixaram a impressão de que a maioria das pessoas não foi trabalhar por pura falta de opção para se locomover ou medo de represália, já que na véspera se espalhou a informação de que manifestantes iriam interditar avenidas de grandes cidades e rodovias.

 

A GREVE FOI FRACA

 

Samuel Pessôa, Pesquisador do Ibre

 

“Fazer greve é parar porque você quer impor prejuízo para o patrão (...). Essa foi uma greve política, contra algumas medidas do governo Temer: não ir para rua, nesse caso, não é greve, é feriado.” 

 

A GREVE FUNCIONOU

 

Carlos Melo, Cientista político/ Insper

 

“Podemos dizer que as corporações, seja de metroviários ou professores, deram um sinal de força. (...) Há, agora, um argumento a mais: O povo é contra as reformas.”

 

Nesse caso, o movimento estaria restrito a ação organizada de alguns sindicatos, corporações, grupos estudantis. Teria faltado a adesão espontânea da população, como se viu nos protestos contrários ao aumento da passagem do transporte público, em 2013, e em favor do impeachment, no ano passado.

 

“Não poderia haver silêncio nas ruas porque essa greve teve uma natureza diferente das greves por salários, como a dos metalúrgicos”, diz o pesquisador Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

 

E Pessôa explica o ponto de vista: “Fazer greve é parar porque você quer impor um prejuízo para o seu patrão; é usar um instrumento de barganha na relação conflituosa entre capital e trabalho, mas essa foi uma greve puramente política, contra algumas medidas do governo Temer: não ir para rua, nesse caso, não é greve, é feriado.”

 

Essa também foi a percepção do economista-chefe da Rio Bravo, Evandro Buccini, que teve ontem um dia de trabalho comum. Ficou para ele a percepção de que a mobilização deixou a desejar. “Pareceu um movimento isolado, com impacto baixo, mas se mobilizações similares se repetirem nas próximas semanas, posso reconsiderar a avaliação”, disse Buccini.

 

Sinal de força. O cientista político Carlos Melo, professor do Insper e colunista do Estado, tem a análise oposta. “Podemos dizer que as corporações, seja de metroviários, motoristas de ônibus ou professores, deram um sinal de força”, diz ele. Como essas são as categorias com capacidade de articulação e pressão política, avalia Melo, a greve tende a ecoar negativamente sobre a votação das reformas, em especial da reforma da Previdência, que sofre mais resistência.

 

“Deputados que já criavam problemas para o governo, com medo de votar, percebem que as corporações estão organizadas. Na base, elas podem pressioná-lo ainda mais: colocar a foto, o nome e o voto dele em cartazes. Há, agora, um argumento a mais: o povo é contra as reformas.”

 

O “feriadão” nacional também seria um alerta. Foi sinal de adesão. Seja por falta de transporte público, vontade ficar em casa ou protesto de fato, para os padrões desse tipo de mobilização, gente demais aderiu.

 

“Não deixa de ser até certo ponto surpreendente que o movimento tenha se estruturado nacionalmente, algo que não é frequente na história do Brasil: á última greve nacional do gênero ocorreu em 1996”, diz Ruy Braga, chefe do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP).

 

Braga lembra que greves gerais são difíceis de construir em qualquer lugar do mundo, porque exigem um nível elevado de integração entre movimentos sociais, sindicais e instituições muito diferentes. “O consenso é sempre complicado, mas aparentemente o consenso foi alcançado na reação a mudanças na lei trabalhista e, principalmente, na Previdência”, diz ele.

 

 

Acostumados aos recentes protestos, com milhares de populares tomando avenidas pelo País, a greve geral com “clima de feriado” provocou reações dúbias entre acadêmicos e analistas acostumados a observar – e interpretar – fenômenos econômicos, sociais e políticos que emergem das massas. Enquanto alguns avaliaram o “silêncio das ruas” como um sinal de baixo engajamento, outros consideraram o ato um sucesso, alegando que uma greve pressupõe a parada que se viu.

 

Para uma parcela dos observadores, os piquetes pontuais em ruas vazias deixaram a impressão de que a maioria das pessoas não foi trabalhar por pura falta de opção para se locomover ou medo de represália, já que na véspera se espalhou a informação de que manifestantes iriam interditar avenidas de grandes cidades e rodovias.

 

A GREVE FOI FRACA

 

Samuel Pessôa, Pesquisador do Ibre

 

“Fazer greve é parar porque você quer impor prejuízo para o patrão (...). Essa foi uma greve política, contra algumas medidas do governo Temer: não ir para rua, nesse caso, não é greve, é feriado.” 

 

A GREVE FUNCIONOU

 

Carlos Melo, Cientista político/ Insper

 

“Podemos dizer que as corporações, seja de metroviários ou professores, deram um sinal de força. (...) Há, agora, um argumento a mais: O povo é contra as reformas.”

 

Nesse caso, o movimento estaria restrito a ação organizada de alguns sindicatos, corporações, grupos estudantis. Teria faltado a adesão espontânea da população, como se viu nos protestos contrários ao aumento da passagem do transporte público, em 2013, e em favor do impeachment, no ano passado.

 

“Não poderia haver silêncio nas ruas porque essa greve teve uma natureza diferente das greves por salários, como a dos metalúrgicos”, diz o pesquisador Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

 

E Pessôa explica o ponto de vista: “Fazer greve é parar porque você quer impor um prejuízo para o seu patrão; é usar um instrumento de barganha na relação conflituosa entre capital e trabalho, mas essa foi uma greve puramente política, contra algumas medidas do governo Temer: não ir para rua, nesse caso, não é greve, é feriado.”

 

Essa também foi a percepção do economista-chefe da Rio Bravo, Evandro Buccini, que teve ontem um dia de trabalho comum. Ficou para ele a percepção de que a mobilização deixou a desejar. “Pareceu um movimento isolado, com impacto baixo, mas se mobilizações similares se repetirem nas próximas semanas, posso reconsiderar a avaliação”, disse Buccini.

 

Sinal de força. O cientista político Carlos Melo, professor do Insper e colunista do Estado, tem a análise oposta. “Podemos dizer que as corporações, seja de metroviários, motoristas de ônibus ou professores, deram um sinal de força”, diz ele. Como essas são as categorias com capacidade de articulação e pressão política, avalia Melo, a greve tende a ecoar negativamente sobre a votação das reformas, em especial da reforma da Previdência, que sofre mais resistência.

 

“Deputados que já criavam problemas para o governo, com medo de votar, percebem que as corporações estão organizadas. Na base, elas podem pressioná-lo ainda mais: colocar a foto, o nome e o voto dele em cartazes. Há, agora, um argumento a mais: o povo é contra as reformas.”

 

O “feriadão” nacional também seria um alerta. Foi sinal de adesão. Seja por falta de transporte público, vontade ficar em casa ou protesto de fato, para os padrões desse tipo de mobilização, gente demais aderiu.

 

“Não deixa de ser até certo ponto surpreendente que o movimento tenha se estruturado nacionalmente, algo que não é frequente na história do Brasil: á última greve nacional do gênero ocorreu em 1996”, diz Ruy Braga, chefe do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP).

 

Braga lembra que greves gerais são difíceis de construir em qualquer lugar do mundo, porque exigem um nível elevado de integração entre movimentos sociais, sindicais e instituições muito diferentes. “O consenso é sempre complicado, mas aparentemente o consenso foi alcançado na reação a mudanças na lei trabalhista e, principalmente, na Previdência”, diz ele.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »