As famílias de duas bebês trocadas no Hospital Regional de Planaltina há 7 anos encontraram-se pela primeira vez. A princípio, em busca de harmonia, decidiram que as meninas continuarão vivendo com as mães de criação e, gradativamente, passarão a conviver também com as mães biológicas.
Os familiares também aguardam decisão da Justiça sobre o futuro das bebês trocadas. As crianças têm 7 anos e não participaram do primeiro encontro. Segundo os advogados das partes, a conversa foi produtiva e amistosa. A intenção é seguir com as reuniões, construindo o clima apropriado para a participação das meninas.
“O encontro foi muito proveitoso. A gente conversou para se entender, se conhecer e entender qual caminho vamos tomar de agora para a frente. Queremos tentar resolver e viver”, comemorou Geruza Fernandes Ferreira (foto em destaque), 38 anos, mãe de uma das crianças trocadas.
“Por enquanto, vai ficar do mesmo jeito. Cada criança permanece onde está. A gente pretende conviver e criar vínculos de amor e laços. A gente ainda está no ato da emoção”, completou. Gerusa conversou com a filha de criação. “Eu a amo como minha. Vai ser sempre assim. E nada vai separar isso da gente”, arrematou.
“No momento, nossas famílias querem se unir. Não é momento de atritos, brigas, mas, sim, pensar no bem-estar das nossas filhas”, assinalou. Os dois lares trabalham para minimizar os impactos psicológicos nas crianças, para que possam crescer da melhor forma possível. “Não queremos traumas para elas na adolescência”, ressaltou.
Geruza conseguiu apoio psicológico na rede pública. Mas a filha de criação ainda não tem acesso ao tratamento. “Eu contei para ela. Expliquei que ela foi trocada na maternidade, mas contei que o meu amor por ela é infinito. Disse que ela continuaria sendo minha filha, independentemente de qualquer coisa”, comentou.
“Meu coração cada dia vive uma emoção diferente. Antes, era emoção de descobrir quem era a minha filha biológica, como ela estava. Hoje, eu sei quem ela é. Vi fotos. Quero poder encontrar, abraçar e beijar”, assinalou. Há dois anos, Gerusa busca a verdade sobre o caso.
Sintonia
O advogado Caio Vitor Nascimento representa a outra família do caso. A menina soube da verdade recentemente. Por enquanto, os nomes dessa parte serão mantidos em sigilo. Segundo o defensor, não existe a possibilidade de destrocar as crianças ou algo do tipo, neste momento.
“(A decisão) é permanecer da mesma forma. É permanecer no mesmo laço familiar. Entretanto, compartilhando total união, total saída entre as famílias. Podendo ter um contato mais próximo com as mães e os pais biológicos”, afirmou. De acordo com o advogado, as meninas estão bem-cuidadas e têm acesso à educação de qualidade.
A mãe representada por Caio Vitor ainda assimila o episódio. “Ela acabou tendo muita informação em pouco espaço de tempo. Então, ela está abalada. Agora, está melhorando. Ela entendeu que a filha biológica está em boas mãos. Entendeu também que não existe nenhuma possibilidade de alteração de quadro”, explicou.
Segundo Caio Vitor, as famílias estão focadas em construir uma unidade familiar, pensando no bem-estar e na educação das meninas. “O momento agora é de um pensamento único, de união entre as famílias. O maior interesse das mães é ter união para o bem das crianças”, pontuou.
DNA
Ainda não há data para o encontro das famílias com as crianças. O caso é investigado pela 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina). Exames de DNA feitos no Instituto de Pesquisa DNA Forense confirmam a troca. Foram feitos diversos testes em datas diferentes. Todos apontaram o mesmo resultado.
Em agosto, o Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) estabeleceu o pagamento de R$ 300 mil a título de danos morais em favor de Geruza. A Justiça entendeu que a troca de bebês ficou comprovada. No entanto, o Governo do Distrito Federal (GDF) recorreu da decisão, e a mãe ainda não recebeu a indenização.