07/01/2022 às 08h55min - Atualizada em 07/01/2022 às 08h55min

Governo e empresas querem convencer Anvisa a liberar cruzeiros

Viagens estão suspensas até 21/1 devido a surto de Covid em navios. Setor alega risco de perder R$ 1,7 bi se temporada não for retomada

Em um vídeo gravado numa praia de Dubai, nos Emirados Árabes, o ministro do Turismo, Gilson Machado, demonstrava empolgação ao anunciar a temporada 2021/22 de cruzeiros marítimos no litoral brasileiro. Era 2 de outubro do ano passado, e o ministro previa uma “temporada belíssima” – a anterior havia sido cancelada devido à pandemia do novo coronavírus, e o clima era de recomeço. Cerca de três meses depois, no entanto, a variante Ômicron parece ter jogado um balde de água fria nas expectativas, e o setor suspendeu as viagens, na última segunda-feira (3/1), ao menos até o próximo dia 21 de janeiro.
 
 
A decisão foi tomada após recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que identificou 829 infecções de Covid-19 entre tripulantes e passageiros das embarcações que operam no país, somente nesta temporada. Desse total, 798 casos foram confirmados recentemente, num curto espaço de nove dias, entre 26 de dezembro e o último dia 3.
 
 
A fim de evitar maiores perdas para o setor, o governo federal trabalha para que os cruzeiros retomem as programações o mais breve possível. Mais 138 viagens estão previstas para acontecer no litoral do país até o fim da temporada 2021/22, em abril.
Os trajetos percorrem toda a costa brasileira, com navios da MSC e da Costa Cruzeiros, as duas únicas empresas que participam desta temporada no Brasil. As companhias foram procuradas para confirmar as escalas, mas evitaram dar maiores informações.
Em o presidente da Brasil Cruise, Carlos Eduardo, explica que as escalas previstas no site da associação podem ser mudadas ou canceladas devido à crise sanitária. “Estão sendo alteradas com uma frequência jamais vista”, pondera.
 
 
Ele estima um prejuízo enorme para o setor com a suspensão das atividades. De acordo com dados fornecidos pelo Ministério do Turismo, a temporada de cruzeiros marítimos, que começou em novembro do ano passado, tinha previsão inicial de movimentar mais de 360 mil turistas, com impacto de R$ 1,7 bilhão, além da geração de 24 mil empregos.
“Este pode ser o segundo ano parado. Os terminais ficaram mais de um ano sem operação. A chance de a gente começar a se recuperar seria com essa temporada, que a gente sabia que ia ser menor, mas teria”, afirma o presidente da Brasil Cruise.
 
 
“Agora vamos torcer para retomar e evitar um prejuízo maior. Não acredito que toda a temporada deva ser suspensa por causa da Covid-19. Na indústria do turismo, o segmento que mais foi prejudicado pela pandemia foi o cruzeiro marítimo. Foram desmanchados mais de 20 navios. Então, hoje, o setor trabalha para ter essa retomada, e os protocolos deverão ser mais rigorosos”, prossegue Carlos Eduardo, por telefone.
 
 
Enquanto o empresário diz esperar protocolos mais rígidos, Gilson Machado, do Turismo, mobiliza-se para que a Anvisa afrouxe as regras. O ministro quer aumentar o percentual de infecções toleradas nas embarcações. “É preciso adequar [a portaria] com a Ômicron, porque ela não está gerando pressão nos hospitais”, disse,
 
 
Em entrevista ao Radar Econômico, da Veja, Machado afirmou esperar que “a baixa letalidade e a alta transmissibilidade leve à imunidade de rebanho e ao fim da pandemia”.
 
 
Em nota o Ministério do Turismo informou que permanece participando de reuniões no âmbito do governo federal com municípios, estados e empresas para juntos reavaliarem a possibilidade do retorno das atividades “no menor tempo possível”.
 
 
 “Cabe registrar que qualquer decisão será tomada por parte das autoridades sanitárias competentes à luz de critérios técnicos condizentes com o cenário epidemiológico do país e amparados em práticas já seguidas em outras partes do mundo para que, desta forma, possamos garantir segurança de turistas e tripulações desta que é uma atividade extremamente importante para o turismo e a economia do país”, assegurou a pasta.
 
 
A recomendação da Anvisa teve como base o aumento vertiginoso dos casos de Covid-19 a bordo das embarcações nos últimos dias, o que indica uma mudança radical do cenário epidemiológico. “Esse aumento pode ser confirmado pelos dados disponíveis, que dão conta da detecção de 31 casos de Covid-19 nos 55 dias iniciais da temporada (de 1º/11 a 25/12), com uma explosão acentuada a partir do dia 26/12, tendo sido registrados 798 casos em apenas nove dias (de 26/12 a 3/1), o que representa um aumento de 25 vezes nesse período”, registrou a agência.
 
 
A Anvisa reforça que, em agosto do ano passado, já havia se manifestado pela inviabilidade da retomada da temporada de navios de cruzeiro no Brasil, a qual deveria estar condicionada à avaliação do cenário epidemiológico do país.
 
 
“As recomendações e ações por parte da agência foram pautadas em critérios técnicos e sanitários, a partir das melhores evidências disponíveis e com fundamento no princípio da precaução, com a finalidade de reduzir o risco de ocorrência de agravos à saúde. Assim, a Anvisa segue atuando de acordo com a sua missão institucional de promover e proteger a saúde da população”, complementa.
 
 
A Associação Brasileira de Navios de Cruzeiros (Clia Brasil) explicou ser importante que haja convergência entre os protocolos dos navios e os acordos feitos com as autoridades.
 
 
A Costa Cruzeiros disse, diante da suspensão da temporada, oferecer a opção de transformar o valor pago pelo cruzeiro em um voucher de crédito a ser utilizado até 31 de dezembro de 2022 para embarques até 30 de junho de 2023. “Também será oferecida a alternativa de reembolsar todo o valor pago pelo cruzeiro a ser executado nos prazos da lei 14.046 de 2020 (suas alterações e prorrogações)”, prosseguiu a empresa.
 


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