Por meio da revisão de publicações científicas, pesquisadores da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Minas Gerais, identificaram prejuízos à qualidade de vida pós-alta hospitalar na maior parte dos pacientes internados por Covid entre 2020 e 2022.
Meses depois da alta, até 51% dos recuperados relataram as chamadas sequelas, sobre as quais ainda se sabe relativamente pouco. Os 24 estudos revisados pela equipe de pesquisadores consideravam aspectos sociais, mentais e físicos dos pacientes acometidos pela doença.
A maior taxa referente à piora na qualidade de vida foi identificada entre mulheres e idosos. Homens, no entanto, enfrentam maior letalidade ou gravidade no quadro clínico. Os sintomas postergados pós-internação ultrapassam 30 dias após a alta médica.
Ainda não é possível, porém, explicar com exatidão os motivos por trás da diferença de quadros clínicos entre homens e mulheres. “Atualmente ainda há muita especulação, é complicado afirmar”, explica Henrique Silveira Costa, um dos autores do estudo.
O estudo não visa identificar sintomas, mas apenas constatar condições prejudiciais no cotidiano dos pacientes contaminados. “Observamos que a qualidade de vida é deteriorada em aspectos físicos e mentais. Nos aspectos físicos, predominam as dores por múltiplas causas: dor articular, torácica, na região da cabeça e mialgia generalizada”, detalha Henrique. “Já os aspectos mentais identificados são ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e medo da reinfecção.”
Um dos pesquisadores destaca que constatou o comprometimento mental em pacientes que precisaram de internação por Covid durante a pandemia. “As pessoas passaram a ter medo de ficarem sozinhas em casa, de se reinfectarem. A hospitalização afeta também aspectos sociais”, conta.
Alguns fatores, menos determinantes que gênero ou idade, também foram observados. O tempo de internação ou de permanência na ventilação mecânica influenciam, assim como condições de saúde, como diabetes, insuficiência cardíaca, sobrepeso ou obesidade, doença renal e tabagismo.
Estratégias individualizadas
Para Henrique Silveira, estudos que analisam a qualidade de vida são essenciais nesta etapa da pandemia. “Neste momento, não precisamos olhar só sinais clínicos ou sintomas. Devemos ouvir os relatos do pacientes em recuperação”, observa.
Dessa forma, a análise dos relatos possibilita a criação de estratégias individuais de recuperação. Otimizar os procedimentos de reabilitação constitui, também, mais um passo para compreender melhor a doença depois do fim do quadro clínico.