A ativista Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), foi detida no aeroporto da Cidade do México nesse domingo (1°/5) por não ter o nome retificado no passaporte. Isso significa que o nome que consta na documentação não corresponde à identidade de gênero da travesti.
Em entrevista a imprensa, Keila contou que ficou detida e incomunicável por cerca de dez horas e, depois, foi deportada.
A ativista viajou ao México para participar do Fórum Social Mundial, representando a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong). O evento reúne representantes de diversos movimento sociais. Na ocasião, Keila apresentaria um painel sobre a violência contra pessoas trans.
Keila explicou que, além do passaporte, os agentes da alfândega pediram que ela apresentasse o voucher do hotel e a passagem de volta, documentos que não eram solicitados a outros passageiros.
Como a reserva da acomodação foi feita em nome da delegação e o bilhete de volta não poderia ser emitido antes de 48 horas, a ativista foi levada para uma sala e teve o documento de identidade e telefone confiscados por policiais. Somente horas após ser detida conseguiu fazer um telefonema para pedir ajuda.
“Para mim, não resta a menor dúvida de que eu fui, de fato, impedida de entrar no México pela minha condição de travesti”, afirma Keila.
Ela acredita que a ação foi motivada porque muitas travestis e mulheres trans imigram para o exterior com o objetivo de buscar uma vida melhor.
Sucessão de erros
“As pessoas que estão fazendo esse percurso estão procurando sobreviver, estão indo para países diferentes, estrangeiros, procurar não ser assassinadas como são aqui no Brasil“, afirmou Keila.
“Foi uma sucessão de erros que aconteceram nessa minha deportação que ficarão marcados na humanidade como uma prática comum desses correligionários, que fazem qualquer coisa para impedir o livre direito das pessoas transitarem e entrarem onde elas quiserem”, completa.
Em nota divulgada pela Antra, em conjunto com a Abong e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), as organizações solicitaram esclarecimentos e ações do Itamaraty e do governo mexicano sobre a postura adotada. Ativistas também pedem reparação pelo acontecimento.
“Independente do motivo de cada pessoa e de cada caso, a autodeclaração de gênero é um direito humano que independe da anuência estatal. Respeitar os pronomes, o nome social, a expressão e a identidade de gênero das pessoas Trans deve estar acima de qualquer norma formal”, diz a nota.