As investigações sobre a Operação Patmos que envolvem a suposta corrupção do procurador da República Ângelo Goulart Villella e do advogado Willer Tomaz, com vazamentos de informações para o grupo JBS, ainda têm muitos elementos a serem analisados e podem envolver outros personagens. A pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou uma ação controlada que registrou um jantar na mansão onde funciona o escritório de Willer, ocorrido em 3 de maio, e ainda a quebra de sigilo telefônico e telemático de Willer e do procurador.
Durante duas semanas, numa ação também controlada pela Procuradoria-Geral da República, a Polícia Federal monitorou o entra e sai de clientes, políticos e advogados no escritório de Willer Tomaz, no Lago Sul. Entre 3 de maio e a deflagração da Operação Patmos, na última quinta-feira, os e-mails e ligações telefônicas de Willer e do procurador da República também foram interceptados. O Correio tentou contato ontem com as defesas dos dois investigados, mas não conseguiu localizá-las. Ângelo Vilella: procurador foi fotografado em jantar no escritório de Willer (STF/Divulgação)
Rollemberg adere ao Fora, Temer
Em reunião da executiva nacional do PSB, o governador do DF votou a favor de uma manifestação pública pela renúncia do presidente, pela gravidade das delações da JBS, em nome da governabilidade do país
ANA MARIA CAMPOS
Desde que assumiu o Palácio do Buriti, Rodrigo Rollemberg (PSB) se manteve neutro nos embates políticos envolvendo a Presidência da República. Foi assim durante todo o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Em nenhum momento, o governador do Distrito Federal deu declarações contra ou a favor da cassação do mandato da petista, apenas condenou a tese de que houve golpe. Em reunião da executiva nacional de seu partido, no entanto, Rollemberg encampou ontem o grito “Fora, Temer” e votou a favor de uma manifestação pública do PSB pela renúncia do presidente da República. pela gravidade do conteúdo das delações do empresário Joesley Batista e como uma forma de buscar a governabilidade do país.
A decisão do PSB foi unânime. Além de Rollemberg, os outros dois governadores do PSB, Paulo Câmara, de Pernambuco, e Ricardo Coutinho, da Paraíba, votaram a favor de um apelo para que o presidente Michel Temer renuncie ao mandato. “A imensa tensão entre a urgência que aflige a população, em busca de melhoria de suas condições de vida, e a incerteza quanto à demora e resultados do julgamento que atingirá o Presidente da República — que não podem ser dissipados a curto prazo — lhe toma de forma irremediável as rédeas da governabilidade, fenômeno cuja natureza é estritamente política”, aponta a executiva do PSB.
O PSB também decidiu apoiar o impeachment de Temer, caso ele se recuse a renunciar, e a aprovação de uma proposta de emenda constitucional (PEC) que estabeleça eleições diretas para a sucessão presidencial. Hoje a Constituição prevê que, em caso de vacância nos dois últimos anos do mandato, o Congresso deverá escolher o próximo presidente da República.
Rollemberg vinha mantendo uma boa relação com Temer e até mesmo enfrentou a maioria da executiva do partido para defender as reformas em curso no Congresso. Agiu a pedido de Temer. Na última reunião da executiva nacional, o governador do DF foi um dos vencidos ao propor liberdade para que os deputados e senadores votassem, sem punições, a favor das reformas trabalhista e previdênciária. Foi Rollemberg quem telefonou ao presidente para comunicar que a posição do PSB era fechada contra as reformas.
Enquanto o PSB divulgava nota ontem, no início da tarde, Michel Temer fazia um pronunciamento em que atacou Joesley, a delação premiada conduzida pela Procuradoria-geral da República e apontou uma armação para tirá-lo do poder, com uma gravação “editada”. Mas o sentimento político no PSB é de que o fim do mandato Temer é uma questão de tempo. O próprio Rollemberg comentou com aliados ter considerado grave o tom da conversa de Temer com o empresário. Desde o primeiro momento, não acreditava em sobrevivência política para o presidente da República.
Em nota, Rollemberg justificou ontem: “Sou militante histórico do PSB e acompanhei as decisões emanadas de sua direção nacional. O país vive uma crise institucional sem precedentes e as forças políticas sociais e econômicas devem trabalhar no sentido de resolvê-la no menor prazo possível, sempre respeitando a Constituição”.
A neutralidade de Rollemberg em relação a Dilma era justificada como uma cautela para não acirrar ainda mais as disputas entre os manifestantes contra e a favor do impeachment, que se enfrentaram várias vezes na Esplanada dos Ministérios. Ele acreditava que optar por um lado seria como jogar álcool no fogo da briga que ficou separada pelo famoso muro no gramado em frente ao Congresso. Mas agora não há mais aquela divisão. O fim do mandato, apostam os socialistas, não deve demorar e pouca gente sairá às ruas para defender o mandato de Temer.