29/05/2023 às 08h55min - Atualizada em 29/05/2023 às 08h55min

Erdogan vence segundo turno da eleição para presidente na Turquia

O político está no poder desde 2003, período em que cumpriu mandatos de primeiro-ministro e de presidente

Agência Estado e AFP
​Presidente turco Recep Tayyip Erdogan é reeleito em segundo turno - (crédito: MURAD SEZER / POOL / AFP)


O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, 69 anos, reivindicou a vitória no segundo turno da eleição presidencial e vai governar o país por mais cinco anos, até 2028. O político está no poder desde 2003, período em que cumpriu mandatos de primeiro-ministro e de presidente.

"Nossa nação nos confiou a responsabilidade de governar o país pelos próximos cinco anos", disse Erdogan a apoiadores do alto de um ônibus em seu distrito natal, Istambul. "Cumpriremos todas as nossas promessas", completou o chefe de Estado, garantindo que "cada eleição é um renascimento". "Essas eleições mostraram que ninguém pode atacar as conquistas desta nação", continuou.

Segundo a agência oficial turca Anadolu, Erdogan obteve 52,1% dos votos, contra 47,9% do seu adversário, Kemal Kiliçdaroglu, após a apuração de quase 99% dos votos.

Distribuição de dinheiro a eleitores
Durante a votação, Erdogan foi visto distribuindo dinheiro vivo a apoiadores, logo após votar no segundo turno das eleições. Vídeos feitos por apoiadores e postados nas redes sociais mostramo polítici distribuindo dinheiro em uma seção eleitoral onde votou. As notas no valor de 200 liras (cerca de R$ 50) eram entregues enquanto ele apertava as mãos dos apoiadores.

A lei turca proíbe os candidatos de fazer campanha no dia da eleição. As autoridades de supervisão eleitoral do país ainda não tomaram conhecimento da lei de distribuição de dinheiro de Erdogan.

Entretanto, de acordo com a imprensa local, esse movimento é comum entre os eleitores de Erdogan, não só durante o período eleitoral. No dia 14 de maio, no primeiro turno, o chefe de Estado também foi visto distribuindo dinheiro e presente às crianças.

20 anos no poder
Erdogan promoveu mudanças nas regras eleitorais e na Constituição para garantir três mandatos como premiê e outros dois como presidente. Apesar de essa ter sido a disputa mais acirrada da história política do político - é a primeira vez que uma eleição presidencial vai para o segundo turno no país - o presidente turco reeleito teve 26 milhões de votos, 3 milhões a mais que seu adversário.

Erdogan dominou a votação no centro do país, assim como o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), liderado por ele, e que obteve votação expressiva nas eleições parlamentares duas semanas atrás.

O candidato adversário, Kemal Kilicdaroglu, ainda não se manifestou sobre o resultado. Kemal faz parte de uma coalizão de seis partidos e convidou seus apoiadores a permanecerem próximos das urnas após o encerramento da votação, para acompanharem a contagem.

Os dois candidatos votaram perto do meio-dia (6h, em Brasília), ambos acompanhados pelas mulheres. Tanto Erdogan, em Istambul, quanto Kilicdaroglu, em Ancara, pediram que os eleitores fossem às urnas, diante de um clima aparentemente mais tranquilo em comparação com o primeiro turno.

Assim que a votação foi encerrada, às 17h locais, o atual presidente agradeceu aos eleitores no Twitter e instigou os partidários a "cuidarem das urnas até o resultado final", na observação da contagem de votos. "Agora é hora de proteger a vontade de nossa nação até o último momento", escreveu. De acordo com a rede al-Jazeera foram reportados ataques a observadores eleitorais, cédulas pré-preenchidas com votos em Erdogan e pessoas sendo impedidas de votar.

O presidente do Conselho Eleitoral Supremo da Turquia, Ahmet Yener, disse, no entanto, que a votação não foi prejudicada. "Não houve nenhuma situação negativa que tenha sido refletida em nosso conselho e que tenha impactado o processo de votação", informou a repórteres.

Crise econômica em segundo plano
O resultado indica que a crise econômica no país - o índice de inflação na Turquia é de 44% - está segundo plano para a maioria dos turcos. A base eleitoral de Erdogan coloca os interesses nacionais em primeiro lugar, em uma pauta identitária que muitas vezes coincide e se funde com a do Islamismo, que esteve na origem da carreira política do líder conservador.

A votação expressiva agora deve consolidar o domínio de Erdogan na vida pública da Turquia, país membro da Otan, mas cortejado pela Rússia e pela China. Para analistas, a vitória deve dar controle ainda mais firme de Erdogan e tornar seu governo cada vez mais autoritário.
 
A resiliência do presidente turco, apesar de consecutivas pesquisas preverem sua derrota, é sinal do controle sistemático de seu partido sobre os meios de comunicação e os tribunais do país (a Freedom House, entidade que classifica o estado da democracia nos países, baixou a colocação da Turquia de "parcialmente livre" para "não livre" em 2018).

Tevê, música e memória sob vigilância
Sob o comando do agora reeleito presidente, televisão, música, monumentos e memoriais foram alvos de uma campanha de ressentimento cultural e renascimento nacional que culminou em maio, nos carpetes azul-esverdeados instalados sob a abóbada de Hagia Sophia.

A eleição de hoje sugere que o nacionalismo pode ser o verdadeiro fio condutor da revolução cultural de Erdogan. Suas celebrações do passado otomano caminham ao lado de esforços nacionalistas não relacionados com o Islã. O país organizou campanhas agressivas pela devolução de antiguidades greco-romanas levadas para museus no Ocidente e equipes estrangeiras de arqueologia tiveram permissões de trabalho canceladas.

Maioria no Parlamento e terremoto
A aliança liderada pelo Partido da Justiça e Desenvolvimento, de Erdogan, manteve sua maioria no parlamento de 600 assentos, embora a assembleia tenha perdido muito de seu poder após um referendo que deu à presidência poderes legislativos adicionais. O AKP de Erdogan e seus aliados garantiram 321 assentos na Assembleia Nacional, enquanto a oposição conquistou 213 e os 66 restantes foram para uma aliança pró-curda, de acordo com resultados preliminares.

Os terremotos de fevereiro deste ano no sul da Turquia também não foram suficientes para abalar a popularidade do líder turco. Os tremores deixaram a maior parte da cidade em ruínas. Um em cada seis habitantes de Nurdagi morreu nos terremotos. Mais de 50 mil pessoas morreram na região, de acordo com cifras oficiais; muitos observadores acreditam que o número real é muito maior.


 


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