21/09/2023 às 04h01min - Atualizada em 21/09/2023 às 04h01min

CPI do 8/1 é marcada por embate com STF e poucos avanços

Últimas sessões do colegiado foram por água abaixo depois de decisões expedidas pelos ministros do STF

As últimas duas sessões do colegiado foram por água abaixo depois de decisões tomadas pelos ministros do STF,

 
Criada com o intuito de investigar os atos antidemocráticos que destruíram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) tem acumulado uma série de desavenças com o Supremo Tribunal Federal (STF). As últimas duas sessões do colegiado foram por água abaixo depois de decisões tomadas pelos ministros da Corte, além do aval para o silêncio de depoentes durante a comissão.

Durante a sessão de terça-feira (19/9), o presidente da CPI, Arthur Maia (União-BA), fez um desabafo sobre como está sendo a condução dos trabalhos da mesa diretora diante as ações do Judiciário.

Em sua fala, o parlamentar ressaltou que a comissão está sendo “desmoralizada” e afirmou que entrará com um pedido de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), assinado pelo presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), questionando as ações do STF no colegiado.

“Se um ministro do Supremo Tribunal Federal se acha com direito, com poder de dar uma liminar, autorizando alguém a não comparecer à CPMI e, por conseguinte, desmoralizando essa CPMI e tirando o poder dessa CPMI e esvaziando, obstruindo, obviamente, que nós estamos, na verdade, brincando de fazer CPMI”, apontou Maia.

Na segunda-feira (18/9), o ministro André Mendonça dispensou a ida de Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens e atual integrante da equipe de apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. O depoimento de Crivellati estava marcado para começar às 9h de terça, mas, por volta das 8h30, a defesa do tenente informou à mesa diretora que ele não compareceria.

Na mesma data, Arthur Maia acionou a Advocacia do Senado, que enviou um pedido de urgência à Suprema Corte pedindo a reconsideração da decisão proferida por Mendonça. No ofício, o órgão alegou que o indeferimento do pedido implicaria em “irreversível prejuízo a direitos públicos da mais alta relevância”.

Crises recorrentes
Essa não foi a primeira vez que a mesa diretora da CPMI se irritou com decisões expedidas pelo STF. Na semana anterior, o ministro Kassio Nunes Marques expediu uma liminar no mesmo sentido.

O colegiado ouviria depoimento da ex-diretora de Inteligência do Distrito Federal Marília Alencar, convocada na condição de investigada. Nunes Marques permitiu que ela não comparecesse à sessão. Marília é acusada de omissão na condução do combate aos ataques golpistas às sedes dos Três Poderes.

No fim de agosto, o ministro Cristiano Zanin, do STF, foi criticado pela mesa da CPMI e por parlamentares de diversos partidos em razão do habeas corpus concedido ao depoente Fábio Augusto Vieira, ex-comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal.

A decisão de Zanin permitiu que Vieira ficasse ao silêncio, além de “não ser submetido ao compromisso de dizer a verdade ou de consignar termos com tal conteúdo”. A interpretação dos deputados e senadores foi de que a decisão poderia permitir que o depoente mentisse ao colegiado.

“Lamentável”
Na terça, a relatora da CPI, Eliziane Gama (PSD-MA), classificou as últimas posições do STF como “lamentáveis”. Para a senadora, as limiares trazem “prejuízos graves” ao trabalho da comissão.

“É muito preocupante. Se você tem uma decisão dessa de forma reiterada, acaba causando prejuízos graves para o trabalho da comissão. Uma CPI, para existir, tem de ter o colhimento de dados, as quebras de sigilos e os depoimentos. Uma CPI sem depoimentos tem prejuízo muito grave”, pontuou a parlamentar.

A expectativa de Eliziane é apresentar o relatório da CPMI em 17 de outubro. Apesar de ter ouvido uma série de investigados pelos atos de 8 de janeiro, a tentativa da base governista de fazer um cerco nas apurações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se mostrou frustrada.

Nas últimas semanas, o grupo tentou emplacar uma série de requerimentos de quebras de sigilo de nomes ligados ao ex-presidente. Há, no entanto, resistência por parte do presidente do colegiado, Arthur Maia, em pautá-los, já que os pedidos desagradam a oposição. O deputado tem defendido a construção de acordos entre governistas e oposicionistas, o que tem prejudicado a apreciação de pedidos que possam manchar a imagem de Bolsonaro.

Além disso, o colegiado não trouxe grandes novidades: a maior parte dos pontos levantados pela CPI do 8/1 já são investigados por outras autoridades, como a Polícia Federal e o STF.


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