O ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, orientava servidores a enviarem documentos em PDF para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para que os textos não fossem alterados. As informações constam em quebra de sigilo telefônico do ex-diretor disponibilizada à CPMI do 8 de Janeiro no Congresso Nacional, de acesso restrito. Cunha depôs na quinta-feira (26) à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).
Em mensagem trocada entre o ex-diretor-adjunto da Abin e uma servidora, ele pede a ela que reenvie um arquivo ao GSI no novo formato; caso contrário, "vão começar a mexer no texto e dizer que [o documento] é deles. É o texto da Agência". Cunha também solicitava que o envio fosse feito com o logotipo da Abin.
Em outra mensagem, datada de 11 de janeiro, depois das invasões dos prédios dos Três Poderes, em Brasília, Cunha dizia que estava na sala do Palácio "fazendo papel de palhaço", esperando "certo ministro" chamá-lo. Ele não cita, no entanto, com qual chefe de Estado se encontraria.
Durante o depoimento à CPI da CLDF, o ex-diretor se negou a opinar sobre uma possível omissão e politização da Abin, mas disse que, “obviamente” houve falhas em 8 de janeiro. Ele chegou a citar o poder de decisão da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSPDF), que poderia atuar com base nos alertas enviados pela agência.
Cunha afirmou ainda que o órgão de inteligência cumpriu seu papel ao emitir alertas e subsidiar as demais estruturas responsáveis pela segurança da Esplanada e do Estado democrático de Direito.