Um erro simples frustrou um dos planos mais audaciosos do Primeiro Comando da Capital (PCC) a nove dias de sua execução, no segundo turno das eleições do ano passado: o sequestro do senador Sergio Moro (União-PR) e de seus familiares em Curitiba.
Relatório de inteligência do Ministério Público de São Paulo (MPSP) revela que, durante cerca de quatro meses, uma célula da facção criminosa permaneceu na capital paranaense com o intuito de viabilizar o crime.
A logística do grupo envolveu o uso de documentos falsos para alugar um apartamento, uma casa e uma chácara. E foi justamente o atraso no aluguel dos imóveis que enterrou o plano criminoso.
De acordo com as investigações do MPSP, já chamava a atenção o fato de que os pagamentos até então eram feitos em dinheiro vivo. Após o atraso, a imobiliária responsável pelo aluguel dos três imóveis em Curitiba se mobilizou e decidiu procurar a pessoa cujo nome era usado pelos criminosos.
“A verdadeira pessoa nunca havia firmado o respectivo contrato de locação”, diz trecho do documento da Promotoria.
Representantes da imobiliária, então, entraram em contato com o criminoso que havia usado o documento falso e comunicaram que a fraude havia sido descoberta. Informaram, ainda, que estavam a caminho do local com a polícia “para cobrar os aluguéis”.
Diante do risco iminente de prisão, segundo o MPSP, os criminosos fugiram.
A investigação aponta que, após deixar o apartamento, na região do Jardim Botânico, e a casa no Bairro Jardim das Américas, os criminosos foram até a chácara alugada, onde apagaram os registros do sistema de monitoramento com câmeras.
Janeferson Aparecido Mariano Gomes, o Nefo, apontado como o líder da célula do PCC responsável por organizar ataques a autoridades, estaria envolvido nas locações dos imóveis em Curitiba, juntamente com Cintia Aparecida Pinheiros Melesqui.
“Célula de elite”
Como mostrou o Metrópoles nesta sexta-feira (8/12), o ataque ao senador Moro foi organizado pela célula conhecida como “Sintonia Restrita”, que fez treinamento com a guerrilha paraguaia Exército do Povo Paraguaio (EPP). Autodeclarado marxista-leninista, o grupo surgiu em 2008 e foi responsável por mortes de policiais, além de sequestros e atentados contra autoridades no Paraguai.
A mesma célula do PCC chegou a pesquisar, em novembro de 2022, os endereços dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), para realizar uma “missão” no Distrito Federal. Esse suposto plano, contudo, ainda está sob investigação.