14/12/2023 às 07h38min - Atualizada em 14/12/2023 às 07h38min

Presidente Joe Biden enfrenta processo de impeachment

Por 221 votos a 212, a Câmara dos Representantes acata pedido do Partido Republicano e inicia investigação do líder democrata, acusado de utilizar a própria influência para beneficiar negócios do filho Hunter na Ucrânia e na China

Joe Biden e Hunter (D) desembarcam em Syracuse, no estado de Nova York: negócios nebulosos do filho no exterior atingem a Casa Branca - (crédito: Andrew Caballero-Reynolds/AFP)

A 328 dias das eleições dos Estados Unidos, membros do Partido Republicano na Câmara dos Representantes aprovaram, na noite desta quarta-feira (13/12), a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Joe Biden. Após a votação apertada — 221 votos a favor e 212 contra —, o Congresso decidiu iniciar uma investigação, ante a suspeita de que Biden utilizou de sua influência quando era vice-presidente de Barack Obama (2009-2017) para permitir que seu filho Hunter Biden realizasse negócios nebulosos na China e na Ucrânia.

"Nós estamos muito satisfeitos com o voto. Acho que enviamos uma mensagem alta e clara à Casa Branca", declarou James Comer, chefe do comitê de investigação da Câmara. "Joe Biden mentiu repetidamente ao povo americano", acusou.

Joe Biden reagiu assim que o resultado da votação foi divulgado pela imprensa norte-americana. "Acordo todos os dias concentrado nas questões que o povo enfrenta — questões reais, que têm impactado nas suas vidas e na força e segurança do nosso país e do mundo. Infelizmente, os republicanos da Câmara não se juntam a mim. Em vez de fazerem qualquer coisa para ajudar a melhorar a vida dos americanos, estão concentrados em atacar-me com mentiras. Em vez de fazerem seu trabalho, decidem perder tempo com essa artimanha política infundada que até os republicanos no Congresso reconhecem que não é apoiada por fatos", afirmou, em nota oficial.

Em viagem a Paris, o historiador político James Naylor Green, professor da Universidade Brown (em Rhode Island), assegurou ao Correio que "não há nenhuma chance" de o Senado votar a destituição de Biden. "É quase impossível que o processo seja votado, inclusive, na Câmara. Vinte deputados eleitos em distritos onde Biden ganhou, no último pleito, tentarão a reeleição em 2024. São distritos muito vulneráveis, com maioria de apenas dois deputados. Se três congressistas resolverem não apoiar o impeachment, ele não irá prosperar", explicou.

De acordo com Green, o magnata e ex-presidente republicano Donald Trump está por trás dessa manobra contra Biden. "O interesse dele é de criar uma distração, desviar o foco dos processos aos quais ele responde na Justiça. Ele quer plantar, em base eleitoral, a noção de que Biden e familiares são corruptos e que, por isso, seria melhor apoiar um candidato que apoiará os interesses de algumas camadas da sociedade e combaterá a inflação", disse. "Trump quer criar confusão e enfraquecer Biden."

Impacto nas eleições
O especialista acredita ser prematuro mensurar o impacto eleitoral do processo de impeachment aberto pela Câmara. "É claro que isso ajuda Trump, mas pode criar o efeito reverso. Quando fizeram isso contra Bill Clinton, acabaram por fortalecê-lo. Acho que nem sequer os republicanos conseguirão levar a votação ao plenário da Câmara", concluiu Green. 

Denilde Oliveira Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM-SP, admitiu que os republicanos têm apoiado a investigação de Hunter Biden há muito tempo. "Esses esforços têm se intensificado no segundo semestre. Alegam que Hunter se beneficia do fato de ser filho do presidente para fechar negócios no exterior e sugerem o envolvimento do próprio Biden nessas negociações. Até o momento, não foi feita nenhuma ligação direta entre eles. Então, é mais um passo dos republicanos para tentar atingi-lo politicamente", disse ao Correio.

A estratégia, explica Holzhacker, é desgastar a imagem de Joe Biden perante a opinião pública. "A ideia é transmitir a percepção de que os republicanos combatem a corrupção no país mais do que os democratas."

Para a professora da ESPM, a Câmara terá o desafio de comprovar a ligação dos negócios de Hunter com o próprio presidente. "Até o momento, pelo menos em todas as investigações feitas, inclusive pelos próprios congressistas, não houve associação direta. A conclusão do inquérito será submetida a votação na Câmara. Se aprovada, será encaminhada ao Senado, onde serão necessários 67 votos, de um total de 100 senadores, para a destituição do presidente. É uma situação muito complexa. No cálculo do Partido Republicano, deve estar a máxima extensão possível da investigação", avaliou Holzhacker.

Ela aposta que os partidários de Trump tentarão colocar em dúvida a idoneidade do atual presidente, a fim de impactarem as eleições de 2024. "Existe uma percepção da opinião pública de que Joe Biden tem um relacionamento muito forte com o filho. Isso alimenta desconfiança. Mas pesquisas sugerem que a população não vê envolvimento dele com os negócios do filho."


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