27/12/2023 às 07h19min - Atualizada em 27/12/2023 às 07h19min

O navio de guerra que Reino Unido está enviando para Guiana

O Ministério da Defesa britânico confirmou que o navio participaria de exercícios conjuntos depois do Natal.

​HMS Trent, um navio de patrulha de alto mar, participará de exercícios na costa da Guiana - (crédito: Getty Images)

Em um gesto de apoio diplomático e militar, o Reino Unido decidiu enviar um navio de guerra para a Guiana.

A decisão, anunciada no domingo (24/12), ocorre em meio a reivindicações da Venezuela pela região de Essequibo, território rico em petróleo e minerais, que disputa com a Guiana.

O Ministério da Defesa britânico confirmou que o navio HMS Trent participaria de exercícios conjuntos depois do Natal.

A Guiana, ex-colônia britânico e membro da Comunidade Britânica, é o único país de língua inglesa na América do Sul.

O HMS Trent, um navio patrulha de alto mar, foi enviado ao Caribe para interceptar traficantes de drogas, mas sua missão foi alterada depois que o governo venezuelano ameaçou anexar Essequibo no início deste mês.
Isso levantou preocupações de que a Venezuela pudesse invadir e desencadear a primeira guerra entre estados da América do Sul desde o conflito das Ilhas Malvinas em 1982.

O HMS Trent
O HMS Trent é um navio de patrulha cujo nome é uma homenagem ao rio Trent, o terceiro maior rio do Reino Unido.

Tem cerca de 90 metros de comprimento e Sua velocidade máxima é de 25 nós (cerca de 45 km/h), com alcance de 5.500 milhas náuticas (cerca de 10.200 km)

O navio pode transportar dois barcos infláveis e acomodar até 50 soldados. A sua tripulação varia entre 34 e 45 membros.

Sua construção foi encomendada pelo governo britânico em 2014 e o barco passou a integrar oficialmente a frota da Marinha Real do Reino Unido em 2019.

A primeira missão do HMS Trent foi a chamada Operação Guardião do Mar, da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), no Mediterrâneo.

Liderado pelo Comandante Tim D. Langford, foi o terceiro navio britânico enviado para essa missão. A operação tem como principais objetivos manter a segurança marítima e combater o que a Otan chama de "terrorismo marítimo".

Em 2021, o navio foi designado para ficar permanentemente baseado em Gibraltar, território ultramarino britânico no sul da Espanha, como parte do Esquadrão de Gibraltar para operações no Mar Mediterrâneo e no Golfo da Guiné.

Mas logo após sua chegada a Gibraltar, o Trent foi enviado ao Mar Negro para treinamentos com navios ucranianos e de aliados da Otan.

O barco também participou de testes para ser usado para o transporte e pouso de helicópteros em seu convés.

Após ficar um período em manutenção, o Trent passou a atuar na região da África Ocidental e do Golfo da Guiné até retornar a Gibraltar em outubro de 2023.

Mas no início de dezembro, o HMS Trent foi enviado ao Caribe para participar de missões de combate a traficantes de drogas, enquanto outro navio de patrulha britânico, o HMS Medway, passa por um período de manutenção.

Pouco depois, porém, o Ministério da Defesa britânico confirmou o seu envio para a Guiana.

'Continuamos alertas'
O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino, comentou no domingo (24/12) sobre o anúncio na rede social X (antigo Twitter): "Um navio de guerra em águas a serem delimitadas? E então? E o compromisso com a boa vizinhança e a coexistência pacífica? E o acordo de não ameaçar e usar a força uns contra os outros em nenhuma circunstância?", escreveu.

"Continuamos alertas a estas provocações que colocam em risco a paz e a estabilidade do Caribe e da nossa América!".

No dia 15 de dezembro, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e o seu homólogo guianense, Irfaan Ali, comprometeram-se, em uma reunião em São Vicente e Granadinas, a continuar os seus diálogos para que a disputa territorial seja resolvida de forma pacífica.

Os líderes concordaram que "a Guiana e a Venezuela, direta ou indiretamente, não ameaçarão ou usarão a força uma contra a outra em nenhuma circunstância, incluindo aquelas decorrentes de qualquer controvérsia existente entre ambos os Estados".

A Venezuela reivindica há muito tempo o território de Essequibo, uma região de 159.500 quilômetros quadrados que cobre cerca de dois terços da Guiana.

Suas montanhas e selva são ricas em ouro, diamantes e bauxita, e enormes depósitos de petróleo foram descobertos em suas costas.

Embora a economia da Guiana esteja crescendo rapidamente, a da Venezuela tem sofrido há algum tempo.

O presidente da Venezuela convocou um referendo em 3 de dezembro para justificar o apoio popular à reivindicação do seu país sobre Essequibo.

O resultado foi amplamente controverso, mas Maduro encomendou novos mapas e legislação mostrando Essequibo como parte da Venezuela, nomeou uma autoridade para governar esse território e ofereceu documentos de identidade venezuelanos aos residentes da região escassamente povoada.

Ele também ordenou que a companhia petrolífera estatal PDVSA emitisse licenças de extração de petróleo bruto.

Em entrevista exclusiva à BBC News Brasil e à BBC News Mundo, concedida antes da reunião em São Vicente e Granadinas, Irfaan Ali disse Maduro tenta "incutir medo no povo" guianense e não descartou a instalação de uma base norte-americana no país em meio às tensões.


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