29/01/2024 às 08h07min - Atualizada em 29/01/2024 às 08h07min

Agência da ONU para refugiados palestinos perde apoio financeiro

Funcionários do organismo de ajuda humanitária a refugiados palestinos são acusados de participar dos ataques de outubro

​Crianças se reúnem em frente a um prédio destruído pelo bombardeio israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 27 de janeiro de 2024, enquanto as batalhas entre Israel e o grupo militante Hamas continuam - (crédito: AFP)

Após denunciar o suposto envolvimento de funcionários da Agência da Organização das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRW) nos ataques de 7 de outubro, Israel afirmou, ontem, que acabará com o organismo na Faixa de Gaza. Os atos concretos pelos quais eles são acusados não foram divulgados. Ao menos oito países — Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Canadá, Itália, Finlândia e Holanda — anunciaram a suspensão de financiamento para a URNW, fundada em 1949 e alvo das autoridades israelenses há muito tempo.

Em um comunicado à imprensa, o comissário geral da agência, Phillippe Lazzarini, disse que os funcionários foram desligados, "para proteger a capacidade da UNRWA de prestar assistência humanitária". Desde Amã, Lazzarini garantiu que lançou uma investigação "a fim de estabelecer a verdade sem demora". O comissário também afirmou que condena os ataques de 7 de outubro, apelou para a libertação dos reféns israelitas e assegurou que qualquer prestador de serviço da UNRWA envolvido nos atos de terror será responsabilizado, "inclusive por meio de processo criminal".

Apelo
Primeiro país a anunciar a suspensão temporária do financiamento à agência, ainda na sexta-feira, os Estados Unidos afirmaram que são 12 os funcionários que estariam envolvidos no ataque do Hamas. Ontem, o chanceler Yisrael Katz divulgou nota afirmando que Israel pretende "deter" todas as atividades da agência. Também pediu que os doadores da UNRWA, que presta ajuda humanitária a refugiados palestinos no Oriente Médio, passem a "favorecer agências que se dedicam à paz e ao desenvolvimento, de maneira sincera".

Hamas, por sua vez, apelou à comunidade internacional para que "não ceda às ameaças e à chantagem". O grupo islamita, classificado como organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, acusou Tel Aviv de querer privar os moradores de Gaza de qualquer ajuda.

O alto representante para a política externa da União Europeia, Josep Borrell, pediu prudência. Apesar de reconhecer que a agência desempenha um "papel vital" em Gaza, ele afirmou que espera total transparência, antes de o bloco tomar uma decisão sobre o financiamento. A Suíça também se recusou a tomar partido e pediu mais informações.

Tanque
A UNRWA, que atua nos territórios palestinos ocupados, assim como no Líbano, Jordânia e Síria, enfrentou dificuldades para financiar suas operações nos últimos anos. As relações com Israel pioraram depois que a agência da ONU atribuiu a tanques israelenses os disparos que atingiram, na quarta-feira, um de seus centros de abrigo aos deslocados em Khan Yunis, no sul de Gaza.

Ao menos 13 pessoas morreram e 56 ficaram feridas no ataque, segundo a agência, que denunciou uma "violação flagrante das regras fundamentais da guerra". O Exército israelense anunciou que iniciaria uma "investigação exaustiva" de suas operações na região, mas não descartou a responsabilidade do Hamas no ataque.

A guerra começou em 7 de outubro, quando os combatentes do Hamas atacaram o sul de Israel, mataram quase 1.140 pessoas, a maioria civis, e sequestraram outras 250, segundo um balanço da agência de notícias France Presse. Em resposta, Tel Aviv iniciou uma ofensiva aérea e terrestre que deixa, até o momento, pelo menos 26.257 mortos em Gaza, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.

No sul de Gaza, forte combate
Forças israelenses e milicianos do Hamas travaram intensos combates ontem, no sul da Faixa de Gaza, empurrando milhares de desligados em direção à fronteira do território palestino com o Egito. As batalhas concentram-se em Khan Yunis, a maior cidade região, onde os dois principais hospitais, que abrigam milhares de pessoas que perderam suas casas, mal funcionam em um cenário de ofensiva implacável.

A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que quase 1,7 milhão de civis abandonaram suas casas desde o início da guerra, em 7 de outubro. "Disparos de tanques apontam desde a manhã (de sábado) para os setores do oeste da cidade, para o campo de refugiados de Khan Yunis e os arredores do hospital Nasser", onde provocaram "um corte de energia elétrica", anunciou o Hamas. Rafah, para onde muitos foram em busca de refúgio, também não escapa das bombas.

Genocídio
Na sexta-feira, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), com sede em Haia, determinou que Israel deve prevenir possíveis atos de "genocídio" em sua guerra contra o Hamas, classificado como organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia. Também pediu ao país que facilite a entrada de assistência humanitária em Gaza. O tribunal, no entanto, não tem como exigir o cumprimento de suas decisões.

A guerra prossegue sem trégua, mas Catar, Egito e Estados Unidos tentam atuar como mediadores para obter uma nova trégua, que incluiria a libertação de reféns e prisioneiros palestinos, como aconteceu no fim de novembro. Segundo a agência de notícias France Presse, a Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americana se reunirá com autoridades de Israel, egípcias e catarianas nas próximas semanas para discutir a situação em Gaza.


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