Lisboa — Há 15 anos morando em Portugal, o empresário Marcus Santos, 45 anos, acredita que fará história. Ele é o único brasileiro candidato a deputado nas eleições portuguesas marcadas para 10 de março próximo.
Representando o estado do Porto, concorrerá pelo Chega, partido da ultradireita que vem ganhando cada vez mais espaço na política local. Nas duas pesquisas mais recentes, a legenda, que conta com 12 parlamentares na Assembleia da República, registrou de 19% a 21% das intenções de votos, sendo a única que cresce de forma consistente. Não por acaso, o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD), que se alternam há anos do poder, acenderam o sinal de alerta.
“Será uma honra ser o primeiro luso-brasileiro a ter a confiança dos portugueses para os representar na casa da democracia”, afirma Santos. “Representarei não só os portugueses, mas todos aqueles imigrantes que, como eu, encontraram em Portugal um novo lar. Um país melhor para os portugueses será um país melhor para todos”, acrescenta. Segundo ele, apesar de ser negro e brasileiro, nunca sofreu qualquer discriminação dentro do Chega, apesar de uma grande ala dentro do partido ser contra a presença de estrangeiros em Portugal. “O Chega quer apenas um controle maior na entrada de imigrantes no país. Devem ser permitidos apenas aqueles com habilidades que Portugal precisa, mão de obra qualificada. Não se trata de xenofobia”, destaca.
Santos, que é lutador de artes marciais e tem uma rede de academias em Portugal, ocupa, atualmente, a vice-presidência do Chega no Porto. Para ele, mesmo os imigrantes que escolheram Portugal para morar e trabalhar não querem que as portas estejam escancaradas “para qualquer um”. “Da forma como está, a imigração está trazendo a violência. Já houve piora nos sistemas públicos de saúde e de educação, que estão
sobrecarregados”, frisa. Ele ressalta, ainda, que o trânsito livre para imigrantes facilita o tráfico de seres humanos e leva muitos deles a serem explorados quase que como escravos. “Além disso, não há casas suficientes no país para quem vem de fora. Assim, muita gente acaba se amontoando em um único imóvel. Por isso, o Chega defende o controle da imigração”, emenda.
Segundo o brasileiro, sua bandeira principal na campanha será a proteção à família. “O Chega é um partido de patriotas, de nacionalistas, com prioridade para os portugueses. Esse é o motivo de colocarmos a família à frente de tudo”, diz. Para ele, é justamente o discurso conservador do partido que tem atraído cada vez mais apoiadores, sobretudo, os mais jovens, que “estão desesperançados com tanta corrupção”. Entre os brasileiros que moram em Portugal, a maior parcela dos votantes no Chega é de evangélicos. “São pessoas que não buscam benefícios, querem apenas a família e acreditam que homem é homem e mulher é mulher. Com essa posição, o Chega tem atraído até muçulmanos”, complementa.
Pelos cálculos de Santos, o Chega fará entre 40 e 50 deputados. “As pessoas estão fartas do PS (Partido Socialista, que governou Portugal nos últimos oito anos). Há dificuldades por todos os lados, até o policiais estão fazendo protestos”, assinala. Se essas projeções se confirmarem, afirma o brasileiro, o partido de ultradireita será peça fundamental para que a legenda que obtiver o maior número de votos consiga formar maioria para governar. Nesse caso, o Chega poderia fechar uma aliança com o Partido Social Democrata (PSD), que já indicou não ter interesse em se aliar à direita populista. “Se entrarmos num governo, será para ter participação efetiva, com direito a vários ministérios”, avisa.