A expressão nos olhos do pequeno Enzo Machado, 10 anos, não escondia o alívio. Com a mão segurando um dos braços, o menino saiu feliz da Unidade Básica de Saúde (UBS) 1 do Cruzeiro, onde tomou a primeira dose do imunizante contra a dengue. Esta sexta-feira (9) marcou o início da vacinação na rede pública de saúde do Distrito Federal, que tem mais de 71 mil doses disponíveis para imunizar crianças de 10 e 11 anos.
“Eu estava um pouco preocupado, com medo de pegar dengue, né? Mas agora que eu tomei a vacina, estou protegido”, comemorou Enzo. “Mesmo assim, vou continuar passando repelente para ir à escola. E minha família vai seguir tomando cuidado para não ter água parada em casa, porque é onde o mosquito coloca os ovinhos”, ensinou o menino.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, esteve na UBS 1 do Cruzeiro para acompanhar o primeiro dia de vacinação. O local recebeu 2 mil doses. “Esse é um momento histórico – há 40 anos se espera por um imunizante para a dengue, doença que há tempos representa um problema para a saúde pública”, afirmou. “Estamos trabalhando para ampliar o fornecimento de doses, com o apoio da Fiocruz e de outros laboratórios nacionais. Além disso, vamos apoiar a vacina do Instituto Butantã.”
Fornecimento prioritário
O Ministério da Saúde havia informado, em um primeiro momento, que o Distrito Federal receberia 194 mil doses do imunizante, o suficiente para vacinar toda a população de 10 a 14 anos. Na tarde desta quinta-feira (8), no entanto, foram entregues 71.708 doses. A redução alterou o público-alvo desta primeira fase da vacinação, que passou a atender crianças de 10 e 11 anos.
De acordo com o diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Eder Gatti, a mudança no cronograma permitiu que o DF e outros 521 municípios considerados endêmicos para a dengue fossem atendidos de forma mais célere. “Até março, todas as crianças de 10 aos 11 anos dessas localidades serão contempladas”, garantiu. “E, ao longo do ano, avançaremos com a vacinação das outras idades até os 14 anos, além de garantir a segunda dose que todos precisarão receber após 90 dias.”
O governo federal pretende trabalhar, em 2024, com um quantitativo superior a 6 milhões de doses, montante que irá imunizar cerca de 3 milhões de pessoas. “O Ministério da Saúde comprou todas as doses disponíveis, que estão sendo distribuídas de forma ininterrupta – conforme o imunizante chega, ele é entregue”, observou Gratti. “Mudanças futuras no cronograma e até mesmo a previsão de um cenário para o próximo ano vão depender do aumento de capacidade de produção e do surgimento de novas vacinas.”
Acesso universalizado
A secretária de Saúde do Distrito Federal, Lucilene Florêncio, informou que o acesso às vacinas pela rede pública de saúde é universal – todas as crianças entre 10 e 11 anos que não tenham imunodeficiência congênita ou adquirida podem ser vacinadas. “Inclusive quem tomou a primeira dose na rede privada poderá receber a segunda pelo SUS (Sistema Único de Saúde)”, avisou. “A vacina é a mesma, o produtor é um só… Não temos barreiras de acesso aqui.”
Durante todo o Carnaval, 15 unidades básicas de saúde (UBSs) vão fornecer o imunizante. Já a partir de quarta-feira (14), o medicamento passará a ser oferecido em todas as 124 salas de vacina do Distrito Federal. “Nós temos 11 unidades básicas de saúde abertas até as 22h, 53 funcionando até o meio-dia de sábado e outras 10 que abrem aos sábados e domingos. Além disso, nossas nove tendas de hidratação estarão abertas durante o Carnaval”, contou Lucilene.
A médica destacou que a vacinação compõe um rol de cuidados contra a dengue, mas que o imunizante não irá, por si só, acabar com a epidemia da doença. “A busca por criadouros dentro das residências e o manejo responsável de resíduos devem ser mantidos”, alertou. “Hoje, temos 769 agentes de vigilância ambiental fazendo um trabalho conjunto com 247 militares do Exército e 300 bombeiros na visitas às moradias do DF.”
Moradora da Colônia Agrícola 26 de Setembro, Guiomar Lobato comemorou a vacinação da filha Helena, 10. “Como a gente mora em uma área rural, a presença do mosquito costuma ser maior. Meu marido mesmo pegou dengue na semana passada e ainda está se recuperando da doença”, disse a servidora de 49 anos. “Tenho certeza que a vacina é a melhor solução para que a epidemia seja evitada, mas também precisamos cuidar das nossas casas, para que o Aedes aegypti não se propague.”