Na última terça (27/2), durante entrevista coletiva em que convocou a população para o Dia D, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que uma das razões para a alta expressiva nos casos de dengue em 2024 é a circulação de sorotipos diferentes do vírus.
“Em muitos locais que tínhamos prevalência do sorotipo 1, está mudando para grande infecção do sorotipo 2, como é o caso do Distrito Federal. Há fatores ambientais, socioambientais e também a dinâmica do vírus, a sua variabilidade”, explicou a ministra.
Os quatro sorotipos do vírus da dengue são encontrados no Brasil, mas em proporções diferentes. Como estão circulando em outros locais, pessoas que já tiveram contato com o patógeno podem voltar a ficar doentes e, inclusive, desenvolver a dengue grave (hemorrágica). Ainda assim, segundo o ministério, o indicador de letalidade da doença está mais baixo do que o registrado em 2023 até o momento – 0,02 contra 0,07.
O pico da dengue ainda não chegou
Historicamente, o ponto mais alto da curva epidemiológica de casos de dengue ocorre entre abril e maio. Por isso, especialistas acreditam que o pior ainda está por vir. “Nunca tivemos tantos casos suspeitos apenas no começo da sazonalidade. O pico tradicional é no final de abril, início de maio”, afirma o infectologista Julio Croda.
A propagação da doença tem uma relação direta com a temperatura e as chuvas, que ocorrem de maneira bem importante até março. A água acumulada nesse período é o ambiente ideal para o nascimento de mosquitos no começo de abril.
“Eles vivem cerca de 30 dias. Uma vez que a pessoa é picada por um mosquito infectado, a incubação leva até 15 dias. Assim, teremos mais doentes em maio”, explica o sanitarista Jonas Brant.
Soluções
A prevenção de novos casos nos próximos meses depende do engajamento social e das autoridades. Do ponto de vista individual, a população pode contribuir criando uma rotina de manutenção da casa que inclui:
• A limpeza anual das calhas, que acumulam água;
• O uso de telas nas janelas e portas;
• Uso de repelente.
De uma perspectiva coletiva, o professor da UnB destaca a mobilização da sociedade e do governo nas ações de limpeza pública, controle de urbanização e melhoria do planejamento das cidades para aprimorar as condições no futuro.
Do governo federal, é esperado o estabelecimento de políticas com o financiamento e a cobrança dos agentes de endemia, mobilização social e implantação de novas tecnologias.
Entre elas se destaca o projeto com a Wolbachia, uma bactéria que impede o nascimento das larvas do mosquito da dengue, evitando sua reprodução. A vacina também é uma ferramenta importante, mas deve demorar a chegar para a população e atingir uma cobertura adequada a fim de controlar a transmissão.
O que podemos esperar?
Brant acredita que a adoção de medidas na fase em que nos encontramos pode achatar o tamanho da curva epidemiológica, mas não deve acabar com a transmissão da dengue.
“É lógico que as pessoas têm um papel importante, mas, no contexto de uma doença epidêmica, o governo é fundamental. Precisamos de uma mobilização muito efetiva”, afirma.