O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, descartou, nesta terça-feira (9), qualquer mudança na atual política de fornecimento de armas a Israel. A declaração acontece em meio à pressão interna pela suspensão das vendas de armamentos devido às supostas violações ao Direito Internacional Humanitário (DIH) em Gaza, sobretudo após a morte de três trabalhadores humanitários britânicos em um ataque no enclave palestino.
— No que diz respeito a Israel e ao direito humanitário internacional, e conforme exigido pelo rigoroso regime de controle de exportação de armas do Reino Unido, já analisei os últimos pareceres sobre a situação em Gaza e a conduta de Israel em sua campanha militar — disse Cameron em uma visita a Washington. — A última avaliação deixa nossa posição sobre as licenças de exportação inalterada.
Em uma coletiva de imprensa ao lado do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, Cameron reforçou, por outro lado, que o país se preocupa com a entrada de ajuda humanitária ao enclave palestino.
— De qualquer forma, deixe-me esclarecer: continuamos a ter sérias preocupações sobre a questão do acesso humanitário em Gaza — disse o chanceler britânico.
Os EUA, de longe o maior fornecedor de armas para Israel, também rejeitaram os pedidos para suspender as remessas, apesar da crescente frustração com a condução da guerra pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Três britânicos e um americano-canadense estavam entre os sete trabalhadores humanitários da ONG World Central Kitchen, mortos na semana passada em um ataque israelense que o Exército descreveu como um acidente. O ataque, segundo um pesquisador sênior da Human Rights Watch, "apresenta as características de um ataque aéreo de precisão" e provocou a redução e suspensão em cadeia de organizações humanitárias que atuam em Gaza.
Pressão interna
Em uma carta recente, mais de 600 advogados britânicos, incluindo ex-juízes da Suprema Corte, pressionaram o país a interromper a exportação de armas para Israel. Um dos critérios britânicos estabelece que as armas não devem ser exportadas quando houver um "risco claro" de que possam ser usadas em violações da lei humanitária internacional.
O documento de 17 páginas foi encaminhado na última semana ao primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak. Os signatários citaram a conclusão da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que apelou a Israel para tomar todas as medidas em seu poder para evitar violações da Convenção das Nações Unidas sobre Genocídio, de 1948. Eles argumentam que, dada a conclusão do relatório de que existe um "risco plausível de genocídio" em Gaza, a continuação da venda de armas ao Estado judeu pode tornar o Reino Unido "cúmplice" não apenas do crime, mas também de "violações graves ao Direito Internacional Humanitário".
"Estamos preocupados com o fato de o governo do Reino Unido não estar cumprindo suas obrigações internacionais nesses aspectos", pontuou o documento.
Os signatários acrescentam que embora reconheçam os apelos do governo britânico para o fim dos combates no enclave e o aumento da entrada "irrestrita" de ajuda humanitária, "a continuação simultânea (para citar dois exemplos marcantes) da venda de armas e sistemas de armas a Israel e a manutenção das ameaças de suspensão da ajuda do Reino Unido à UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio] estão muito aquém das obrigações do governo de acordo com o direito internacional."
Uma pesquisa realizada pela YouGov antes do ataque a World Central Kitchen mostrou que a maior parte dos britânicos (56% contra 17%) é a favor da proibição de exportação de armas e peças avulsas. A maior parte dos que se mostraram favoráveis à suspensão de vendas pretendem votar no Partido Trabalhista nas próximas eleições — de acordo com a BBC, a legenda não apelou pela suspensão, mas instou o governo a publicar um parecer jurídico interno sobre Israel estar violando a lei internacional.
Londres aprovou mais de 487 milhões de libras (R$ 3 bilhões) em vendas de armas para Israel desde 2015. Apesar de serem um dos maiores exportadores de armas do mundo, o Reino Unido está longe de ser um dos principais financiadores de Israel. Segundo o ministro dos Negócios, Gref Hands, o valor enviado em 2022 (€ 42 milhões, ou R$ 266 milhões) representava apenas 0,02% das importações militares israelenses naquele ano.