07/06/2024 às 07h15min - Atualizada em 07/06/2024 às 07h15min

A tragédia após chantagem sexual no Instagram que levou mãe a acusar Meta de não colaborar com investigações

Murray Dowey, 16 anos, se suicidou em dezembro do ano passado, após ser vítima de 'sextorsão' no Instagram.

​Criminosos usam as redes sociais para vender guias de como chantagear - (crédito: BBC)

O caso de um adolescente escocês que se suicidou após ser vítima de uma gangue de "sextorsão" — chantagem que ameaça divulgar imagens íntimas — no Instagram vem provocando uma disputa entre a Meta, dona da rede social, e a família da vítima, que acusa a empresa de dificultar as investigações.

Murray Dowey, de Dunblane, tinha 16 anos quando morreu em dezembro do ano passado.

Sua mãe, Ros Dowey, disse à BBC News na quarta-feira (5/6) que a Meta ainda não havia fornecido as informações sobre a conta do filho, apesar de uma solicitação feita pela Polícia da Escócia e de uma ordem judicial.

Após a declaração, a Meta, que também é dona do Facebook e do WhatsApp, afirmou em um comunicado nesta quinta-feira (6/6) ter entregue à polícia os dados relativos a Dowey.

A empresa disse que cooperou com as autoridades e respondeu a todas as solicitações de dados.

A Meta havia dito anteriormente que seus pensamentos estavam com a família. e que estava colaborando com as autoridades competentes.

A Polícia da Escócia confirmou agora que recebeu os dados.

"Que bom que a Polícia da Escócia finalmente tenha os dados, mas demorou demais para a Meta liberar", comentou Dowey.

"Eles precisam melhorar muito a cooperação com os órgãos jurídicos e de segurança pública, porque sua demora está colocando a vida de outros jovens em risco."

Murray se suicidou após ser induzido por criminosos a enviar fotos comprometedoras posando como uma menina no Instagram.

Dowey contou à BBC News que o Departamento de Justiça dos EUA obteve uma ordem judicial solicitando os dados em 1º de maio de 2024.

Ela afirmou que a Meta não estava fazendo "o suficiente para salvaguardar e proteger nossos filhos, quando eles usam suas plataformas".

E acusou a empresa de "comportamento imperdoável" ao "dificultar a investigação" e "colocar em risco a vida de outras crianças".

Disse ainda que a companhia parecia não estar disposta a "cooperar com as agências internacionais de aplicação da lei quando as coisas dão terrivelmente errado".

"Quantas crianças mais o perpetrador que levou Murray a tirar a própria vida pode ter atormentado desde que Murray morreu?", ela questionou.

Dowey fez um apelo direto ao ex-líder do Partido Liberal Democrata britânico e agora presidente da Meta para assuntos globais, Nick Clegg, para "resolver isso".

Um porta-voz da Meta disse à BBC News: "Nossos pensamentos estão com a família Dowey durante este momento difícil".

"Estamos em contato com as autoridades competentes sobre este caso e cooperando plenamente."

"Por razões de ordem legal, não podemos comentar mais."

Em outra declaração à BBC nesta quinta-feira, eles disseram:

"Cooperamos totalmente com as autoridades policiais nesta investigação, inclusive respondendo a qualquer solicitação de dados."

A sextorsão envolve frequentemente que a vítima receba um nude antes de ser convidada a enviar um de sua própria autoria em troca — simplesmente para receber, na sequência, ameaças de que a foto será divulgada publicamente, a menos que cumpra as exigências do chantagista.

Uma investigação da BBC descobriu anteriormente que criminosos estão vendendo guias nas redes sociais sobre como praticar sextorsão.

Paul Raffile, analista de inteligência e especialista em sextorsão baseado nos EUA, disse que Meta estava "pisando na bola".

Ele alegou que a empresa possui equipes para resposta de emergência a questões jurídicas e de segurança pública, especialmente no caso da morte de uma criança, que deveriam ser capazes de fornecer informações em questão de horas ou dias.

Outros casos
"Esta não é a primeira vez que Meta fracassa em cooperar com as autoridades policiais após um suicídio de adolescente por causa de uma sextorsão que ocorreu em sua plataforma", diz ele.

Em 2022, ele alega que Meta não respondeu a uma solicitação de dados feita pela polícia dos EUA sobre contas pertencentes ao adolescente Jordan DeMay.

Jordan, de Michigan, tinha 17 anos quando tirou sua própria vida após ser vítima de uma gangue de sextorsão.

"Quando a polícia finalmente obteve acesso aos dados, descobriu que os mesmos golpistas haviam explorado e chantageado outras crianças", conta Raffile.

Dois irmãos foram agora extraditados da Nigéria para os EUA para serem julgados.

As autoridades da Nigéria também estão envolvidas na investigação da morte de Murray, mas sua mãe descreveu o avanço como "dolorosamente lento".

Ao falar sobre os criminosos que chantagearam seu filho, ela disse:

"Eles destruíram totalmente a nossa família."

Murray era, segundo ela, um "menino adorável" que tinha o "melhor senso de humor".

"Como família, estamos perdendo a esperança de fazer Justiça para Murray", acrescentou.


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