05/07/2024 às 07h23min - Atualizada em 05/07/2024 às 07h23min

Reino Unido: Partido Trabalhista tenta retorno ao poder após 14 anos

Britânicos elegem integrantes do Parlamento. Pesquisas indicam vitória dos trabalhistas com 20 pontos de diferença. Partido opositor deve consolidar maioria legislativa e escolher Keir Starmer como premiê

​Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, discursa em Glasgow, na Escócia, durante encerramento de campanha - (crédito: Andy Buchanan/AFP)

A estratégia do primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, de antecipar as eleições legislativas para esta quinta-feira (4/7) — as primeiras desde 12 de dezembro de 2019 — pode ter sido um tiro no pé. Todas as pesquisas apontam que o Partido Trabalhista vencerá com uma folga de cerca de 20 pontos percentuais (40% contra 20% para o Partido Conservador, atualmente no poder). As sondagens também mostram que Sunak, candidato a permanecer em 10 Downing Street, amarga uma rejeição de 71% dos cidadãos britânicos. Caso os trabalhistas retomem o poder, depois de 14 anos de governo conservador, Keir Starmer, 61 anos, sucederá Sunak no cargo de premiê. 

"Com base em todas as evidências disponíveis, o Partido Trabalhista retornará ao poder, amanhã, com uma importante maioria parlamentar. A razão principal é negativa: a impopularidade do governo conservador de Rishi Sunak", afirmou ao Correio Andrew Blick, diretor do Departamento de Economia Política do King´s College London. Apesar de reconhecer que o Brexit — o divórcio entre Reino Unido e União Europeia — não foi muito discutido na campanha, o especialista acredita que o tema ampliou o poder de pessoas, como os ex-premiês Boris Johnson e Liz Truss. "Os mandatos turbulentos  de ambos contribuíram para o aparente desastre eleitoral que se aproxima para os conservadores", avaliou Blick. Johnson avalizou o apoio a Sunak e participou de um comício de campanha, em Londres, na noite de terça-feira, em uma tentativa desesperada de evitar a derrota nas urnas. 

De acordo com Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckingham, todas as pesquisas indicam que o voto trabalhista se mantém sólido, em torno de 40%, e que o Tory (Partido Conservador) ficará com 21% e será varrido do Parlamento, tornando complicada a sobrevivência do atual partido governista. "A razão para o provável fracasso do Tory não está tanto no sucesso dos trabalhistas, mas no racha da centro-direita britânica, com o ressurgimento de um partido independente pró-Brexit, o Reform UK, sob o comando de Nigel Farage, que aparece com 17% das intenções de votos. Se somarmos os votos do Partido Conservador e do Reform UK, teremos o Partido Trabalhista apenas três pontos percentuais à frente da centro-direita."

Glees explicou que existe uma incompatibilidade entre os assentos no Parlamento e o seu cálculo preciso, altamente complexo, dado o sistema eleitoral do Reino Unido e o apoio entre os eleitores. "Parece altamente provável que, com apenas 40% dos votos, os trabalhistas conquistem cerca de 430 cadeiras, enquanto os conservadores terão apenas cerca de 100", previu. Para o estudioso, parte do péssimo desempenho dos tories nas pesquisas se deve ao fato de o atual premiê, Rishi Sunak, não ter competências necessárias para ser um comandante do partido e um líder nacional. "Ele não conseguiu concretizar nenhuma de suas promessas; em vez de combater a imigração ilegal, fez com que aumentasse; os preços dispararam e as pessoas sentem-se mais pobres do que em 2010. Mais de 60% dos eleitores consideram que o Brexit foi um desastre total, mas Sunak se orgulha por ter defendido a saída da União Europeia", comentou. 

Ainda segundo Glees, os britânicos não esperam muito de Starmer, exceto que ele não é Sunak e que seu partido não está dividido, como o Tory. Ele acredita que o Reino Unido dará "um grande suspiro de alívio" quando o atual premiê partir de 10 Downing Street. "Todos estamos furiosos com o que os conservadores têm feito desde o governo de Boris Johnson e suas festas durante a pandemia da covid-19, e a loucura econômica de Truss", concluiu Glees. 

Rainier Baubock, professor do Instituto da Universidade Europeia, em Florença (Itália), e diretor do Observatório Europeu sobre Cidadania, disse ao Correio que Starmer terá maioria absoluta no Parlamento e adotará a cautela à frente do Reino Unido. "Ele tem sido cuidadoso em relação a fazer promessas políticas específicas, a fim de não perder nenhum eleitor. Creio que ele não reabrirá negociações sobre um retorno à União Europeia, mas buscará maior colaboração com Bruxelas." (RC)

 
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