Em carta dirigida aos venezuelanos, aos militares e aos policiais, publicada por volta das 15h30 de ontem (16h30 em Brasília), a líder opositora María Corina Machado e Edmundo González Urrutia — que assina como "presidente eleito da Venezuela — conclamaram as forças de segurança a pararem de reprimir as manifestações e a respeitarem a decisão das urnas. "Fazemos um chamado à consciência dos militares e policias para que se coloquem ao lado do povo e de suas próprias famílias. Com essa massiva violação dos direitos humanos, o alto comando se alinha com (Nicolás) Maduro e seus interesses vis", afirma o texto.
"Nós, venezuelanos, não somos inimigos das Forças Armadas Nacionais. (...) Pedimos a vocês que impeçam a selvageria do regime contra o povo e a respeitar, e fazer respeitar, os resultados das eleições de 28 de julho.
Maduro deu um golpe de Estado que contraria toda a ordem constitucional e quer torná-los cúmplices", acrescenta.
María Corina e Edmundo González afirmam que "ganharam as eleições sem dúvida alguma". "Foi uma avalanche eleitoral, cheia de energia e com uma organização civil admirável, pacífica, democrática e com resultados irreversíveis. Agora, corresponde a nós todos fazer respeitar a voz do povo. Procede, de imediato, a proclamação de Edmundo González Urrutía como presidente eleito da República", finaliza a carta, recebida com indignação pelo Palácio de Miraflores.
A resposta demorou três horas e veio na forma da abertura de inestigação criminal por parte do Ministério Público contra María Corina e Edmundo González. Por meio de um comunicado, Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, afirma que os dois opositores fizeram uma "incitação aberta a funcionários policiais e militares à desobediência das leis". "No citado pronunciamento, se evidencia o suposto cometimento dos delitos de usurpação de funções, difusão de informação falsa para causar ansiedade, instigação à desobediência das leis, instigação à insurreição, associação para delinquir e conspiração", afirma Saab.
Documentos
Na noite de ontem, o chefe do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, entregou à Corte Suprema as atas das eleições presidenciais. Maduro assegurou que os documentos comprovam sua vitória no pleito e pediu ao máximo tribunal do país a certificação dos resultados. "Entrega-se tudo o que foi solicitado pelo máximo Tribunal da República", disse Amoroso durante uma audiência, sem dar mais detalhes.
Em entrevista ao Correio, por telefone, Antonio Ledezma — ex-prefeito de Caracas, ex-preso político exilado em Madri e coordenador do Conselho Político Internacional de María Corina Machado — garantiu que as atas eleitorais comprovam a vitória de Edmundo com uma diferença devastadora. "Por isso, o que corresponde, agora, é que ele seja proclamado presidente legítimo e eleito da Venezuela. A eleição ocorreu, e Edmundo González obteve a maioria dos votos. Portanto, não pode haver nenhum tipo de manobra para impedir a proclamação", disse.
No domingo, a União Europeia (UE) somou-se aos Estados Unidos e a países da América Latina que não reconhecem o resultado das eleições. Por sua vez, o papa Francisco pediu "a busca da verdade" na Venezuela. Em meio à pressão, Maduro pediu o boicote ao aplicativo de mensagens WhatsApp, ao alegar que militares, policiais e líderes comunitários que defendem sua reeleição receberam "ameaças" por esta via. "Vou romper relações com o WhatsApp, porque o estão usando para ameaçar a Venezuela. Vou passar meus contatos, pouco a pouco, para o Telegram, o WeChat", declarou, em evento com simpatizantes do chavismo, em Caracas.