31/08/2024 às 09h16min - Atualizada em 31/08/2024 às 09h16min

Maduro culpa "fascistas" por blecaute histórico na Venezuela

Os 24 estados do território venezuelano sofrem apagão "total ou parcial" durante várias horas. Regime chavista denuncia "ataque criminoso", mesmo sem apresentar provas. Líder opositor ignora a terceira convocação do Ministério Público

​Moradores do bairro de Chacao, em Caracas, carregam celulares usando bateria de caminhão, na calçada - (crédito: Juan Barreto/AFP)

A Venezuela mergulhou na escuridão às 4h40 (3h40 em Brasília) desta sexta-feira (30/8), durante um blecaute que afetou de forma "total ou parcial" os 24 departamentos (estados) do país. O Palácio de Miraflores não perdeu tempo, culpou o "fascismo" pelo apagão e denunciou uma ação deliberada. "Como sempre estou junto ao povo e me encontro à frente da situação, enfrentando esse ataque criminoso contra o Sistema Elétrico Nacional", escreveu o presidente Nicolás Maduro em seu canal no aplicativo de mensagens Telegram. "Eu disse e repito: calma e sanidade, nervos de aço! O fascismo desesperado ataca o povo. Juntos, superaremos essa nova arremetida. Nós sempre venceremos", acrescentou. O fornecimento de energia começou a ser normalizado à tarde, cerca de 12 horas depois.

Pela manhã, em meio ao apagão, havia a expectativa sobre se Edmundo González Urrutia, líder da oposição que se proclamou vencedor das eleições presidenciais de 28 de julho, atenderia à terceira convocação do Ministério Público para prestar depoimento. O ex-diplomata de 75 anos, completados na véspera, não compareceu ao chamado, apesar da ameaça de prisão. Nas outras duas vezes, Edmundo González atribuiu a ausência no depoimento à falta de garantias.

Também no meio da manhã, Diosdado Cabello, número dois do chavismo e ministro do Interior da Venezuela, informou que "a rede estava começando a ser energizada". "É um processo que está ocorrendo pouco a pouco, mas é um processo com a segurança de que está sendo feito para não cometer erros", disse ao canal VTV.

Relatos
Morador da cidade de Mérida, nos Andes venezuelanos, o freelancer Jesús — ele não quis ter o nome revelado —, 34 anos, disse ao Correio que o corte de energia teve início às 4h30 (hora local) e começou a retornar seis horas depois. "Desde então, tivemos períodos intermitentes sem eletricidade. Ficamos sem luz de novo das 11h às 15h.  Mas amigos de outras regiões relataram uma falta de eletricidade constante", afirmou.

Em La Asunción, na Ilha de Margarita, a advogada Luisa Muñoz, 38 anos, desabafou ao Correio, às  17h desta sexta-feira (hora local). "Estou sem bateria, a luz não voltou", contou. "Maduro disse que é sabotagem, mas sabemos que todos os que gerenciaram a eletricidade roubaram dinheiro e fugiram do país. Nós é que estamos ferrados e pagando o pato", lamentou. Segundo Luisa, os cortes de energia são diários. "Os aparelhos elétricos queimam e ninguém do regime se importa com isso."

Na cidade de Maracaibo, a segunda maior da Venezuela, o dirigente político e social Edgar Izarra Terán, 27, explicou que o apagão chegou a afetar 90% do país. "É o segundo grande apagão desta semana. A diferença é que o atual foi prolongado e com amplitude geográfica. Ainda que o regime alegue uma 'sabotagem' contra o sistema elétrico nacional, todos nós sabemos que são anos de falta de manutenção e uma corrupação que pode ter desviado US$ 10 milhões", afirmou ao Correio. Terán relatou que sentiu ansiedade, desespero, estresse e "muita raiva" durante o blecaute. "São 14 anos sofrendo apagões, flutuações e cortes 'programados'. O dia foi muito estressante."


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