Em meio à pior seca dos últimos 44 anos, o Distrito Federal está há quase 140 dias sem chuvas. A estiagem é prejudicial à saúde e pode afetar os recursos hídricos da capital federal. O reservatório de Santa Maria — um dos três que abastecem os brasilienses — está com 47% da sua capacidade total. O valor é 50,41% menor do que ao volume registrado na mesma data em 2020. Para especialistas, os números indicam que o DF deve viver uma nova crise hídrica nos próximos anos.
O DF conta com três reservatórios de água. O de Santa Maria, abastece 19% da população. O maior, o do Descoberto, é responsável por 64% do abastecimento; e o Corumbá IV é um reservatório de usos múltiplos e serve como apoio ao Descoberto. Apesar do nível baixo do reservatório de Santa Maria, o Descoberto opera com 81,5% — valor 9% menor que o de 2020.
A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) realiza o acompanhamento do volume útil dos reservatórios Descoberto e Santa Maria diariamente. José Francisco Gonçalves, professor do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), explica que, os atuais níveis não são alarmantes para o momento, mas trazem um alerta.
“Na época da seca, é uma tendência que o volume útil dos reservatórios fique abaixo do esperado. Porém, o que percebemos é que, a cada ano, o volume abaixa cada vez mais. Então, em algum momento, podemos ter mais crises hídricas [como a de 2017]”.
O professor afirma que a falta de chuvas “convencionais” é outro fator que pode acelerar a escassez de água. Sem elas, os reservatórios não conseguem se recompor o suficiente para “enfrentarem” uma nova seca.
“Nesse caso, falamos das precipitações curtas e ao longo de vários dias. As enxurradas — chuvas em grande volume que caem de uma vez — não contribuem com nossas reservas naturais”, detalha.
Medidas de prevenção
A Adasa frisa que os sistemas Descoberto, Santa Maria e Corumbá IV operam de forma integrada no sistema de distribuição de água do DF, “de modo a garantir a segurança hídrica local”. Em nota, a agência reguladora destaca que é importante que todas as instituições, órgãos de governo, setores produtivos e sobretudo a população “mantenham postura consciente e responsável com relação ao uso da água”.
Para o professor Gonçalves, há medidas que podem ser adotadas com o intuito de mitigar os efeitos da próxima crise hídrica.
“Em uma crise hídrica teremos que fazer escolhas. Por exemplo, sabemos que toda a região de Águas Claras. Riacho Fundo, Ceilândia e Taguatinga são áreas criticas de segurança hídrica do subsolo, ou seja, o solo não consegue mais absorver a água que deveria e os reservatórios naturais do subsolo estão abaixo do que era de se esperar. Teríamos que aumentar a permeabilização do solo nessas áreas e diminuir a especulação imobiliária em diversas outras”, explica.
O especialista ainda cita a diminuição da devastação das áreas verdes; melhorar o tratamento de esgotos e melhorar a infiltração do solo como medidas que poderiam amenizar os efeitos de uma crise hídrica. “Uma coisa que não conseguimos controlar é o clima. Por isso, temos que melhorar as outras áreas.”
Crise hídrica de 2017
No início de 2017, o Governo do Distrito Federal precisou instituir o racionamento de água para garantir o abastecimento para consumo humano. No pior momento da crise, por volta de novembro, o reservatório do Descoberto chegou a 5% da capacidade. O de Santa Maria, a 21,5%.
Crise hídrica no DF era uma situação inimaginável em março de 2016
As áreas abastecidas pelo Santa Maria e pelo Descoberto aderiram ao rodízio. Para enfrentamento da situação, reduziu-se, ainda, a vazão de retirada de água nos reservatórios. Em seguida, a Adasa determinou a restrição de dias e horários para a retirada de água por produtores rurais irrigantes.
Somente em 14 de junho de 2018 a medida foi suspensa, depois de o DF sair da crise hídrica.