Conseguir um emprego, ganhar dinheiro para ajudar nas contas, ambientar-se em um novo país… As razões que levam uma pessoa a inscrever-se no RenovaDF – programa de capacitação profissional do Governo do Distrito Federal (GDF) – são várias. Mas, no fundo, o objetivo é o mesmo: ter uma oportunidade para mudar de vida.
O programa está no terceiro ciclo. Os mais de 3 mil alunos convocados, um recorde histórico, começaram as aulas teóricas no início d
este mês. Nos últimos dias, passaram a aplicar os conhecimentos na prática, reformando espaços públicos do Distrito Federal.
Um desses espaços é o canteiro central da Avenida Hélio Prates, que cruza Taguatinga e Ceilândia, onde é feita a recuperação das pedras portuguesas. Entre as alunas que atuam no local, está Ivanilda Pereira, 35 anos, que buscou o programa por estar há muito tempo desempregada. “Muitas pessoas que eu vi que fizeram, depois de um tempo, arrumaram um serviço e falaram para mim que era muito bom”, conta.
A história é semelhante à de Regiane Rodrigues, 26: “Não estava nem com fé de que ia ser chamada. Quando vi meu nome na lista, fiquei feliz demais. Estou achando maravilhoso, uma oportunidade muito grande, sei que foi Deus que abriu as portas para mim, porque eu pedia muito para arrumar alguma coisa para mostrar para meu filho que eu ia conseguir”.
A preocupação com os filhos também foi o que fez Ruth Vasquez, 42, não só buscar o Renova, mas mudar de país. Venezuelana, ela está há um ano e meio no Brasil e diz estar gostando de Brasília e da chance que recebeu no programa. “Vou sair com um diploma e seguir estudando. Não tive oportunidade no meu país e, se tenho oportunidade aqui, vou seguir me preparando para guiar meus filhos melhor”, aponta.
Além do diploma em Auxiliar de Manutenção da Construção Civil, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), os alunos recebem uma bolsa de um salário mínimo durante os três meses do programa. Lucas Barbosa, 20, tem usado o dinheiro para pagar um outro curso, de barbeiro, para realizar o sonho de ter um negócio próprio. “Foi uma oportunidade que abriu uma porta para mim”, afirma. Mas ele também projeta usar os conhecimentos adquiridos no Renova na futura empreitada: “Quando tiver uma barbearia, poderei fazer minhas coisas, pintar, deixar tudo direitinho”.
Desde o início do programa, em 2021, cerca de 24 mil pessoas já foram capacitadas e mais de 2,3 mil equipamentos públicos foram reformados. Moradora da Ceilândia, Silvana Araújo, 36, celebra poder melhorar a própria região. “Vou passear por aqui e já posso falar para o meu filho: ‘Eu contribuí com isso aí'”, comenta, sobre o canteiro da Hélio Prates. Mas Silvana não quer que esse projeto seja seu último no Renova. Após o curso, ela espera estar entre os selecionados para as vagas de estágio remunerado em empresas da construção civil: “Já estou pensando em ser chamada entre os 600 [selecionados]”.
Samambaia
Os serviços do Renova já passaram por todas as regiões do DF. No atual ciclo, Samambaia é a cidade que receberá a maior parte dos serviços. “Dos 3 mil convocados, 1,5 mil vão fazer uma ação em Samambaia. Vamos recuperar praticamente todos os equipamentos públicos deteriorados da cidade. O restante vai se dividir pelas outras regiões administrativas. Nosso objetivo é que todos saiam dos programas sociais de transferência de renda e tenham sua carteira assinada”, pontuou o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda, Thales Mendes, na cerimônia de abertura do terceiro ciclo.
Um dos pontos com equipamentos em reforma na região é o 12º Grupamento de Bombeiro Militar (GBM). Por lá, atuam pessoas em situação de vulnerabilidade social – para as quais foram destinadas 10% das vagas totais. Eliana dos Santos, 44, por exemplo, chegou ao programa por indicação de servidores do Centro de Referência de Assistência Social (Cras). “Estava desempregada e estava muito difícil, com duas crianças pequenas. E o horário do Renova é bem acessível [a carga horária é de 4 horas por dia]”, avalia. “Além de levar o diploma, você leva o aprendizado, que é muito bom”, acrescenta.
Já Thayla Silva, 30, estava morando em uma casa de acolhimento quando decidiu inscrever-se no projeto. Hoje, mais do que um auxílio na renda, as aulas têm sido, segundo ela, “o escape de alguns problemas”: “Pode ser um novo começo de vida. Tenho certeza que vai ser”.