O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, vai fazer um alerta, nesta quarta-feira (5/2), contra qualquer tentativa de limpeza étnica na Faixa de Gaza. A informação foi adiantada pelo porta-voz Stéphane Dujarric a jornalistas, de acordo com a Agência France-Press.
Na última terça-feira (4/2), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na Casa Branca e falou novamente sobre a retirada de moradores do território palestino e a tomada de controle da região “a longo prazo”. O líder americano disse que os EUA “assumirão o controle da Faixa de Gaza” e farão “um bom trabalho”.
“Seremos os donos dela (Gaza) e seremos responsáveis pelo desmantelamento de todas as perigosas bombas não detonadas e outras armas neste lugar”, afirmou Trump, segundo a AFP. Ele se comprometeu a “nivelar o lugar e se desfazer dos edifícios destruídos” para desenvolver o território economicamente, a fim de se ter “quantidade ilimitada de emprego e habitação para as pessoas da área”.
Nesta quarta, adianta Dujarric, Guterres vai declarar, em discurso, que “é crucial permanecer fiel aos fundamentos do direito internacional” e “essencial evitar qualquer forma de limpeza étnica”.
Trump declarou que Gaza poderia se tornar “a Riviera do Oriente Médio”. Mais cedo, havia dito também que os habitantes de Gaza “adorariam” deixar a região e viver em outro lugar se tivessem a opção. “Vamos tomar o controle dessa parte e vamos desenvolvê-la, criar milhares e milhares de empregos, e será algo de que todo o Oriente Médio poderá se orgulhar. Acho que o potencial da Faixa de Gaza é incrível.”
Reações internacionais
O representante do país norte-americano disse que conversou com dirigentes de países árabes e que eles apoiaram a ideia, mas, segundo a AFP, o anúncio foi duramente criticado por líderes do mundo inteiro — a exceção, de Netanyahu, que acredita que a medida poderia “mudar a história”; e do ministro das Finanças de Israel, que prometeu, nesta quarta, fazer de tudo para “enterrar definitivamente” a ideia de um Estado palestino.
O porta-voz do Hamas Abdel Latif al Qanu chamou a proposta de Trump de “racista”, “agressiva” e “alinhada com a da extrema-direita israelense”. Segundo o grupo palestino, o plano “não servirá para a estabilidade na região”, como prometeu o americano, “e apenas jogará mais lenha na fogueira”.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, também rejeitou “vigorosamente” a ideia e garantiu que não vai permitir que os direitos do povo palestino sejam violados.
Palestinos ouvidos pela imprensa internacional desaprovam qualquer tentativa que os obrigue a sair de Gaza, devido ao trauma de expulsão que passaram durante a criação do Estado de Israel em 1948. “Sou de Gaza, meu pai e meu avó são daqui”, relatou à AFP Ahmed Halasa, de 41 anos. “Só temos uma opção: morrer ou viver aqui".
Além do secretário-geral António Guterres, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, reiterou que qualquer transferência forçada ou deportação de um território ocupado é “estritamente proibida pelo direito internacional”.
O rei da Jordânia, Abdullah III, com quem Trump havia conversado no último sábado (1º/2), se posicionou, nesta quarta-feira, contra qualquer tentativa de deslocamento da população palestina. O Egito, com quem o presidente americano também buscava diálogo e para onde sugeria transferência da população de Gaza, o Catar, a Turquia e a Liga Árabe se opuseram à proposta.
Além deles, China, Brasil, Espanha e França demonstraram incompreensão e contrariedade ao plano de Donald Trump. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, diz que, até o momento, o presidente dos EUA “ainda não se comprometeu a enviar tropas ao terreno em Gaza”.