Mary Rose, navio de guerra da marinha inglesa do século XVI, conquistou recentemente um título do Guinness World Records por ter a maior quantidade de armamento medieval já recuperado de um naufrágio. Mais de 19 mil artefatos arqueológicos — entre armas, canhões, alabardas, lanças e armaduras — foram resgatados do navio, que afundou em 1545 durante a Batalha de Solent, próximo ao porto de Portsmouth, no Reino Unido.
Segundo as informações divulgadas pelo Guinness World Record, foram necessários mais de 11 anos de escavações e mais de 28 mil mergulhos para levar o navio ao ponto em que fosse estruturalmente seguro o suficiente para ser removido. E, em 11 de outubro de 1982, mais de 60 milhões de pessoas ao redor do mundo assistiram ao Mary Rose respirar o ar do mar pela primeira vez em mais de quatro séculos.
Uma arca do tesouro submersa
Desde a redescoberta do Mary Rose em 1971 e a elevação em 1982, arqueólogos marinhos têm explorado o local, recuperando uma variedade impressionante de armamentos:
• 10 canhões de bronze
• 9 canhões giratórios de ferro
• 5 coronhas de pistola
• 8 escudos de canhão
• 4 peças de granizo de ferro fundido
• 44 balas de linstock
• 3 dardos incendiários
• 172 arcos longos (de um total de 250)
• 3.899 flechas, das quais cerca de 2.300 estão completas
• 24 protetores de pulso
• 105 pontas de flecha
• 20 lanças e 836 fragmentos de armas de haste
• 1 alabarda
• 1 espada com cabo de cesto
• 65 punhais balock, 1 adaga rondel
• 177 elos de cota de malha
Esses itens oferecem uma visão detalhada das práticas militares e da vida a bordo de um navio de guerra. O estado de conservação dos artefatos é considerado alto, pois foram preservados graças ao ambiente escuro e sem contato com oxigênio e estável sob o lodo, proporcionando insights valiosos sobre a tecnologia e o cotidiano da época.
Não se limitam às armas os itens encontrados. Também foram recuperados ossos humanos e de animais, incluindo o esqueleto completo de um cão whippet terrier que provavelmente foi utilizado como caçador de ratos a bordo no navio.
As pesquisas sobre esses objetos revelam a vida dos que viveram os períodos Tudor e Medieval. A análise de moedas e cerâmicas recuperadas auxiliou os pesquisadores a estabelecer a estrutura do navio, enquanto as vestimentas encontradas a bordo contribuíram para a identificação da posição social, as ocupações e as atividades de lazer dos tripulantes.
História do navio Mary Rose
Construído entre 1509 e 1511, logo após Henrique assumir o trono, Mary Rose era uma poderosa arma de guerra, símbolo da força naval emergente da Inglaterra. Projetado para enfrentar as ameaças da França, Escócia e outras potências europeias, o navio foi armado com dezenas de canhões e equipado para transportar mais de 400 homens — incluindo marinheiros, arqueiros e soldados.
Henrique VIII investiu fortemente no fortalecimento da marinha, enxergando o controle dos mares como essencial para a proteção e expansão do reino. O Mary Rose participou de várias campanhas militares ao longo de mais de três décadas de serviço. Seu design inovador, com canhões dispostos em laterais, refletia as mudanças nas táticas navais da época e ajudou a estabelecer as bases para a moderna guerra marítima.
Em 19 de julho de 1545, durante a Batalha de Solent contra a frota francesa, o Mary Rose afundou dramaticamente diante dos olhos do rei, que assistia à batalha do Castelo de Southsea. A causa exata do naufrágio ainda é debatida, mas de acordo com informações do Guinness, acredita-se que uma combinação de manobras abruptas, excesso de carga e portas de canhões abertas tenha permitido que a água invadisse o navio rapidamente. Cerca de 500 tripulantes morreram no desastre, e o navio permaneceu submerso por mais de 400 anos.
O Mary Rose Museum
Atualmente, os artefatos recuperados estão em exibição no Mary Rose Museum, localizado no Portsmouth Historic Dockyard. O museu oferece aos visitantes uma experiência imersiva, permitindo que explorem a história do navio e de sua tripulação. Além das armas, o acervo inclui objetos pessoais, ferramentas e até restos mortais de tripulantes, proporcionando uma compreensão abrangente da vida no século XVI.