Otan aprova gasto de 5% do PIB em defesa após pressão de Trump; Espanha fica isolada

Ao dobrar os investimentos em defesa na Otan, ele alega que as 32 nações estarão mais protegidas, mas esbarra na negativa da Espanha. É chamado de "querido" e "papai" pelo secretário da aliança, Mark Bukke, que faz mil elogios

27/06/2025 07h41 - Atualizado há 3 dias
Otan aprova gasto de 5% do PIB em defesa após pressão de Trump; Espanha fica isolada
Durante a reunião em Haia, na Holanda, o norte-americano define o acordo firmado como uma "grande vitória para os Estados Unidos" - (crédito: AFP)

Após pressionar e ameaçar quem estava em desacordo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump conseguiu o que tanto queria. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se comprometeu a repassar 5% do PIB (Produto Interno Bruto) para as despesas com defesa e segurança mediante riscos de conflitos armados. É também uma demonstração de apoio a Trump na disputa de forças com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Porém, isolado, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, recusou-se a apoiar a iniciativa. A reação veio imediatamente.

"Eles (os espanhóis) são os únicos que se recusam a pagar. Vamos fazê-los pagar o dobro", ressaltou o republicano, esquecendo-se de incluir a Bélgica, como outro país resistente ao acordo. Os espanhóis afirmam que a retaliação virá via acordos comerciais. "A Espanha, portanto, não gastará 5% de seu PIB em defesa, mas sua participação, peso e legitimidade na Otan permanecerão intactos", ressaltou Sánchez.

Para Trump, apesar do dissabor com a Espanha, a Cúpula da Otan, em Haia, na Holanda, foi positiva. "Uma grande vitória monumental para os Estados Unidos", resumiu. "Acho que a cúpula foi fantástica, um grande sucesso", acrescentou o norte-americano. O acordo foi finalizado antes da reunião em Haia e depois assinado pelos líderes. Sánchez conseguiu excluir expressões mais densas e manter as neutras.

"Essa é uma aliança mais forte, mais justa", definiu o secretário-geral da aliança, Mark Rutte, após o término da reunião. "O presidente Trump deixou claro: os Estados Unidos estão comprometidos com a Otan. Ao mesmo tempo, deixou claro que os Estados Unidos esperam que os aliados contribuam mais."

A declaração, em que os líderes se comprometem com o repase de até 5% do PIB para despesas militares, contem apenas cinco parágrafos. Os representantes da Espanha e da Bélgica reagiram, informando que não dispões de orçamento para tanto. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, chegou a ser ameaçado por Trump.

O primeiro-ministro espanhol chamou sua meta de gastos de "suficiente, realista e compatível". No entanto, Trump denunciou a posição espanhola como "terrível" e alertou que faria Madri pagar "o dobro" nas negociações comerciais em andamento.

O repasse de até 5% dos respectivos PIBs nacionais até 2035 é ambicioso e histórico. O compromisso exigirá que os membros gastem significativamente mais em sua segurança e aumentem suas capacidades, taxas de fabricação e compras de armas. A meta em vigor de 2% foi alcançada no ano passado por 22 dos países-membros.

Para o professor de relações internacionais da UDF Alan Camargo, a contabilidade é muito mais complexa do que um acordo que define percentuais e investimentos. " Ainda assim, os desafios internos e externos à sua implementação indicam que a medida, embora relevante, está longe de assegurar uma vitória estratégica duradoura para os EUA ou de restaurar plenamente a ordem ocidental."

Ucrânia

Após conversar com Trump, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que pediu apoio para a compra de sistemas de defesa antiaérea americanos e coprodução de drones.Essa foi da primeira reunião entre Trump e Zelenky frente à frente, depois de terem se encontrado em Roma em abril para o velório e enterro do papa Francisco.

"Falamos sobre como alcançar um cessar-fogo e uma paz verdadeira. Conversamos sobre como proteger nosso povo", após mais de três anos desde o início da invasão russa, escreveu Zelensky em suas redes sociais.

Agradar o papai

Elogiar, admirar e alardear as qualidades até aí, tudo bem. Mas o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, foi mais adiante na valorização ao presidente norte-americano, Donald Trump, durante a cúpula da Aliança Atlântica em Haia, na Hola. Simplesmente, ele se referiu ao republicano como "papai" e, em algumas vezes como "querido Donald" e "bom amigo"

As câmeras flagraram Trump e Rutte conversando animadamente, quando o norte-americano comparou Israel e Irã a estudantes, pois se comportariam como "duas crianças no pátio de uma escola". Foi aí que Rutte comentou: "Há momentos em que o papai tem que usar uma linguagem mais dura".

O secretário-geral se referia ao palavrão que Trump falou anteontem quando Israel quebrou o cessar-fogo. "Não sabem que m...estão fazendo", disse o norte-americano, deixando escapar a expressão pouco utilizada em negociações políticas e diplomáticas. Rutte disse que o norte-americano "merece todos os elogios" por tomar uma "ação decisiva" contra o Irã e pressionar os aliados da Otan a aumentar de forma drástica seus gastos militares.

Por fim, Rutte classificou Trump como um "homem de paz" por ter articulado a trégua entre israelenses e iranianos, dois dias depois de o exército americano bombardear por ordem sua três instalações nucleares iranianas.

 O caixa

A maioria dos 32 países da Otan se comprometeu a investir em defesa, o equivalente a 5% do PIB nacional até 2035. A Espanha se manifestou contrariamente, alegando ausência de condições, e a contribuição máxima de 2,1%. A Bélgica idem. O valor de 5% será utilizado em dois tipos de despesas. Pelo menos 3,5% irão para compras de armas, salários e pensões das Forças Armadas. Estas despesas correspondem às capacidades militares. Já 1,5% adicional será aplicado em funções militares e civis, como controle de fronteiras e infraestruturas (portos, aeroportos, estradas).


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