Narcotráfico colombiano fabrica o primeiro submarino teleguiado

Marinha intercepta embarcação submersível controlada remotamente no Mar do Caribe. Capaz de transportar 1,5t de cocaína, o artefato estava na fase de teste e não levava drogas. Descoberta mostra avanço tecnológico do crime organizado

04/07/2025 08h02 - Atualizado há 8 horas
Narcotráfico colombiano fabrica o primeiro submarino teleguiado
Botes da Marinha colombiana cercam o submarino, na costa do Parque Tayrona, perto da cidade de Santa Marta - (crédito: Marinha da Colômbia/AFP)

Para driblar a lei e escoar o carregamento de drogas no mercado internacional, cartéis de narcotráfico da Colômbia têm se aprimorado em estratégias e em tecnologia. Pela primeira vez, a Marinha colombiana apreendeu um drone submersível. Sem tripulantes, controlado à distância e de difícil detecção pelos radares, o narcossubmarino foi interceptado por dois botes rápidos da Marinha próximo à costa de Santa Marta (norte), a cidade mais antiga do país, situada à beira do Mar do Caribe.

No fim de maio passado, as autoridades da Colômbia haviam interceptado, no Oceano Pacífico, um submarino tripulado que transportava uma carga de cocaína avaliada em US$ 1,7 bilhão. No entanto, a descoberta de ontem surpreendeu pela ousadia, pelo aparato tecnológico e pela tentativa de burlar as Forças Armadas.

O narcossubmarino teleguiado poderia deslocar-se por 800km a 1.280km de distância sem perder contato com a base de controle. De cor cinza, trazia uma antena de satélite instalada na proa. A agência de notícias France-Presse obteve a confirmação de que a antena comunicava-se por meio da Starlink, a provedora de internet via satélite do executivo sul-africano Elon Musk, considerado o homem mais rico do mundo.                         

A apreensão do narcossubmarino não tripulado ocorreu no marco da "Estratégia Multinacional Orión", uma iniciativa antidrogas comandada pela Marinha colombiana que envolve 62 países, 127 instituições e 10 organizações multilaterais. A operação é considerada uma das mais eficazes do mundo para a apreensão de narcóticos no ambiente marítimo. 

Automação

Em entrevista coletiva, o almirante Juan Ricardo Rozo, comandante da Marinha colombiana, afirmou que, assim que os militares fizeram a interceptação, perceberam que a embarcação submersível estava em "fase de preparação". "Não havia drogas a bordo. Nós o imobilizamos e o levamos até o porto de Cartagena, onde foi submetido a um estudo mais detalhado por parte da equipe de inteligência da Marinha", relatou. "Então, identificamos as capacidades autônomas de navegação e de comunicações do artefato, o qual poderia transportar cerca de 1,5t de cocaína em seu interior."

Ele reconheceu que o narcossubmarino representa um avanço tecnológica sem precedentes das organizações de narcotráfico. "Ele reflete a migração para sistemas mais sofisticados não tripulados, que aumentam a capacidade de evasão (...) para dificultar seu rastreamento por radar e, inclusive, operar com autonomia parcial por parte de redes criminosas", declarou Rozo.

As autoridades colombianas investigam a procedência do drone submersível. Os primeiros indícios apontam envolvimento do Exército Gaitanista da Colômbia (EGC), popularmente conhecido como Clã do Golfo. No Caribe colombiano, essa organização comete crimes e  disputa o negócio do narcotráfico, rivalizando com o grupo Las Pachenca. "Nosso setor de inteligência pôde avançar na determinação de que esse artefafo estava sendo preparado para o transporte de narcóticos pelo Clã do Golfo", acrescentou o almirante, ao citar uma apuração preliminar.

O jornal colombiano El Tiempo, ao citar o think tank Insight Crime, publicou que 38 narcossubmarinos foram descobertos somente em 2018, quando começou a ser utilizado esse tipo de embarcação.

Sofisticação

Especialista em temas de segurança da Universidad Nacional Autónoma de México, Raúl Benítez Manaut explicou ao Correio que os grupos que exportam cocaína da Colômbia para os EUA e outros países cada vez mais usam tecnologia sofisticada para enganar as forças militares. "Os exportadores de cocaína contratam especialistas em tecnologias de comunicação e em navegação automatizada para fabricarem esses submersíveis. No caso deste narcossubmarino, a vantagem está no fato de não levarem tripulação e, em caso de captura, não se pode deter ninguém, apenas fazer a apreensão da carga", afirmou.

De acordo com Manaut, a interceptação da embarcação mostra um êxito da Marinha colombiana, mas um fracasso na guerra ao tráfico de cocaína, na medida em que os cartéis empregam transportes cada vez mais sofisticados.

UM FANTASMA NO MAR

Saiba mais sobre o narcossubmarino não tripulado descoberto pelas autoridades colombianas

>> TECNOLOGIA

O narcossubmarino apreendido em Santa Marta, no norte da Colômbia, dispõe de uma antena Starlink, é totalmente automatizado, com dirigibilidade operada à distância. Também é considerado pouco permeável à detecção pelos radares, graças ao desenho técnico da embarcação, chamado de "perfil". O formato hidrodinâmico também deixa pouco rastro, o que torna difícil sua identificação por meio de aeronaves.

>> CAPACIDADE

Segundo a Marinha colombiana, a embarcação estava pronta para transportar até 1,5t de cocaína. As autoridades, no entanto, afirmam que não havia carregamento no interior do submarino e que ele estaria passando por uma fase de testes. 

>> CUSTO ESTIMADO

De acordo com o Centro Internacional de Investigação e Análise contra o Narcotráfico Marítimo (Cimcon) — órgão ligado à Marinha da Colômbia —, os cartéis investem até US$ 150 mil (ou R$ 814,5 mil) para construir um narcossubmarino. No entanto, outras entidades estimam que o valor final passe de US$ 1 milhão (ou R$ 5,43 milhões). 

 


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