Dizendo trazer experiência de quem passou pelo “Caso Banestado” – que, na década de 1990, investigou escândalo de evasão de dezenas bilhões de reais do Banco do Estado do Paraná –, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, fez duras críticas ao sistema político brasileiro.
Em sua apresentação no 9º Seminário de Transparência e Controle, em Florianópolis, nesta quarta-feira (30), Carlos Fernando acusou o Congresso de tramar um plano para anistiar políticos investigados dos crimes a eles imputados pela Lava Jato, medida que, segundo ele, põe em risco as apurações dos últimos três anos e meio da maior operação de combate à corrupção da história do país.
“Eles não vão arriscar perder o foro privilegiado. E será uma anistia enganosa, vão pedir pela finalidade de caixa dois para se livrarem de todos os crimes”, afirmou, sem especificar de que maneira a proposta é articulada. “Se mantivermos esse Congresso, a Lava Jato vai perecer”, acrescentou.
Segundo o procurador, as revelações da Lava Jato precisam resultar na punição dos reconhecidamente culpados para não cair em descrédito. “Precisamos de um Legislativo que não queira se anistiar de qualquer forma e de um Judiciário que não mude a jurisprudências de acordo com a cara do freguês”, declarou.
Depois do impeachment
Carlos Fernando também demonstrou incômodo com as críticas que a Lava Jato recebeu. Primeiro, da parte de petistas, que acusavam a operação de mirar somente o Partido dos Trabalhadores e os governos Lula e Dilma. E, depois, dos que se deram por satisfeitos com a saída da petista do Planalto.
“Sentimos uma mudança muito grande a partir do impeachment da presidente (Dilma). Sabemos e sempre soubemos que parte do establishment só queria retirar o Partido dos Trabalhadores do poder. Nós estamos investigando corrupção, seja de que partido for. Infelizmente, parte da comunidade jurídica, da imprensa e da população não entendia da mesma forma. Entendia que isso era apenas um movimento para tirar a presidente Dilma do poder. Isso não é fato, as investigações continuaram e revelaram fatos de outros partidos”, disse.
Para Carlos Fernando, a transparência na administração pública e as investigações são boas ferramentas para se combater a corrupção. “Mas podem representar mais corrupção se a população souber o que ocorre e nada for feito”, observou. “Nós precisamos mudar os paradigmas. Quem cumprirá a lei quando percebe que parlamentares não precisam cumprir”, emendou.
“Tome vergonha na cara”
Enredado em recente troca de farpas via Facebook com Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado de réus e demais investigados na Lava Jato, o procurador argumentou que na internet é um cidadão e que pode manifestar suas opiniões políticas. “Ainda mais nos dias de hoje, em que nossa política é criminosa”, disparou.
A troca de farpas têm se intensificado nos últimos dias. No início da semana, Kakay afirmou que a relação do juiz Sérgio Moro com o advogado Carlos Zucolotto Junior, acusado por ele de fazer negociações com a operação, deveria ser interpretada como crime de obstrução à Justiça.
Em sua página oficial no Facebook, Carlos Fernando retrucou o advogado em tom duro. “Kakay diz que Sérgio Moro deveria ser preso em decorrência das fantasias de um livro de um réu foragido, cujos trechos foram publicados em uma coluna social. Mesmo considerando os flexíveis limites éticos do ‘autoproclamado melhor advogado do país’, desta vez Kakay foi longe demais. O que cabe aqui é simplesmente lhe dizer: ‘Tome vergonha na cara’”, disparou o procurador.