O presidente da Associação Brasiliense de Construtores (Abrasco), Luiz Afonso Assad, confirmou em depoimento nesta tarde (22/11) à Justiça ter sido procurado pelos deputados distritais Bispo Renato (PR) e Júlio César (PRB). Segundo ele, os parlamentares propuseram um acordo para a realização de obras na capital federal em troca de propina. Nos encontros, os três teriam discutido onde seriam investidos R$ 30 milhões economizados do orçamento da Câmara Legislativa em 2015. No entanto, Assad nega participação no esquema. O depoimento foi prestado na denúncia contra os servidores, que tramita na 8ª Vara Criminal de Brasília.
No depoimento, o empresário apontou que sugeriu aos distritais que investissem igualmente o valor no sistema de saúde e de educação do DF. Segundo ele, outro parlamentar entrou em contato confirmando a destinação de R$ 15 milhões para cada área. “A Liliane Roriz (PTB) me disse que estava tudo certo. Mas não foi isso que aconteceu, e eu fiquei surpreso”, disse. O empresário revelou ainda conhecer grande parte dos deputados da Câmara Legislativa (CLDF), por estar familiarizado com pedidos de obras.
No entanto, durante as negociações, a “sobra” aumentou para R$ 31 milhões – sendo que, na mudança, R$ 1 milhão seria destinado a educação, e o restante para a saúde. Empresas relacionadas a Assad seriam responsáveis pelas obras das escolas, porém, os parlamentares teriam pedido uma “ajuda”, considerada pelo empresário propina. “Eles me disseram que precisavam de R$ 10 mil para cobrir as despesas”, revelou. Em resposta, ele teria negado a participação.
Além do depoimento de Assad, a Justiça ouviu também o ex-secretário de Saúde Fábio Gondim e o chefe de gabinete de Liliane Roriz, José Adenauer. Os depoimentos serviram como base para as investigações contra o ex-secretário geral da CLDF, Valério Neves, ex-diretor do Fundo de Saúde, Ricardo Cardoso e do ex-servidor do gabinete do distrital Bispo Renato, Alexandre Cerqueira.
Gondim negou ter conhecimento de qualquer irregularidade enquanto esteve à frente da Secretária de Saúde, e também que tenha conversado com qualquer distrital sobre o assunto. No entanto, o ex-secretário disse ter sido informado sobre um depósito de R$ 30 milhões para uma empresa prestadora de serviços de UTIs no DF. “O que foi dito é que houve o pagamento para a Intensicare. Mas não achei nada disso (no sistema), então eu achei que fosse alarme falso”, explicou.
Sobre Ricardo Cardoso, Gondim explicou que a relação entre os dois era profissional, mas que, pouco antes de deixar a Secretaria, pediu ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB), a substituição do diretor do Fundo de Saúde. Era ele o responsável por fazer os pagamentos para as prestadores de serviço da área de saúde. A sugestão ocorreu pouco depois do secretário ser informado sobre uma viagem entre Ricardo e o distrital Cristiano Araújo (PSD). “Nossa relação não era fácil, mas não tínhamos animosidade”, contou.
O funcionário do gabinete de Liliane Roriz, afirmou que essa foi a primeira vez que a “sobra” teve uma destinação diferente, desde quando iniciou o trabalho na CLDF, em 1991. “O comum é a destinação para o pagamento de pessoal do judiciário local, e por isso eu estranhei a divisão entre escola e saúde”, detalhou.
Drácon
Deflagrada em 2016 pelo MPDFT e pela Polícia Civil, a operação Drácon cumpriu 14 mandados de busca e apreensão e oito mandados de condução coercitiva na residência de parlamentares, servidores e ex-servidores da Câmara Legislativa. Ela teve como principal motivação a divulgação de uma conversa entre as deputadas Liliane Roriz e Celina Leão sobre um suposto esquema de corrupção.
O alvo foi a Mesa Diretora da CLDF, composta pelos parlamentares Celina Leão (PPS), Raimundo Ribeiro (PPS), Julio Cesar (PRB) e Bispo Renato Andrade (PR). E também os servidores Alexandre Cerqueira, ex-servidor do gabinete de Bispo Renato, Valério Neves, exonerado no mesmo dia do cargo de secretário-geral da Casa, e Ricardo Cardoso, ex-diretor do Fundo de Saúde, da Secretaria de Saúde. Além disso, o deputado Cristiano Araújo (PSD) também é alvo da operação.
A segunda fase da operação teve como objetivo alcançar outros locais de busca e apreensão que ainda não tinham sido investigados. Além de verificar se os computadores e outros equipamentos tinham sido retirados de gabinetes da Câmara. Os indícios apontavam, na época, que havia os deputados haviam ocultado e se livrado de provas. Na terceira fase, o assessor da deputada Celina Leão, Sandro de Vieira Morais, e Alexandre Cerqueira foram considerados suspeitos de retirarem computadores com possíveis provas da CLDF. Uma nova audiência está marcada para o dia 11 de dezembro.