02/12/2016 às 06h41min - Atualizada em 02/12/2016 às 06h41min

Bailarina Asta-Rose deixa um legado de cultura para a capital federal

Asta-Rose Alcaide morreu ontem, aos 94 anos, uma semana depois de sofrer um AVC

Correioweb
cone da cultura na capital, a bailarina Asta-Rose Alcaide morreu às 7h15 de ontem, aos 94 anos. Vítima de um Acidente Cerebral Vascular (AVC), há uma semana, estava internada no Hospital de Santa Maria em coma. A catarinense de Joinville começou a estudar balé ainda criança. Desde então, ela dizia ter “mania de dança”. Quando se mudou para São Paulo, começou a levar a sério a arte e foi admitida no Teatro Municipal. Foi uma das primeiras bailarinas da capital paulista.
 
Aos 17 anos, conheceu o marido, o português Tomaz Alcaide, com quem foi casada durante 40 anos. Ao lado dele, que era compositor e maestro, viveu em Buenos Aires, na Argentina, e em Portugal. Moradora de Brasília desde 1975, alegava que podia trazer música de verdade à cidade e assim o fez enquanto presidiu a Associação Ópera Brasília.
 
Atualmente, vivia na 114 Sul. O apartamento abrigava a dançarina e também muitas lembranças. Ficavam à mostra de quem a visitava os quadros bordados à mão pela mãe, as preciosidades russas, as aquarelas, os retratos, além dos abajures de Sintra nas mesinhas e as fotografias das óperas. Também havia os castiçais de uma catedral portuguesa, as partituras assinadas por artistas de renome, as tantas condecorações e os livros, muitos, em todas as línguas.
 

Delicadeza

 
Em um último encontro com Asta-Rose, um mês antes do AVC, o ex-secretário de Cultura do DF Silvestre Gorgulho conversou algumas horas com a eterna bailarina. “Ela se sentia muito sozinha, mas nunca vi alguém tão gentil, tão delicado e tão competente como ela. Sempre elegante e sofisticada, como uma bailarina de 18 anos”, relembra.
 
Secretária de Asta-Rose havia 15 anos, Maria Aparecida Deolindo Neta recebeu com tristeza a notícia da morte, mas com o coração apaziguado. “Ela precisava descansar.” Emocionada, Cida aponta a generosidade como a marca registrada de Asta. “Ela não teve filhos, mas era uma mulher que ajudava muito os outros. Doava muito, para pessoas e instituições, não podia ver ninguém na rua com fome. E ninguém precisava saber, não fazia nenhuma questão de aparecer. É uma grande perda para Brasília”, conta.
 
Sobre o vasto acervo que tem em casa, de livros, discos de ópera e obras de arte, ela não havia decidido ainda o destino. “Era uma preocupação dela; agora vamos ver o que fazer”, diz Cida. É possível que parte dele vá para Portugal, para onde serão levadas as suas cinzas, conforme seu pedido. “Ela queria estar ao lado do marido.” O tenor português Tomás Alcaide foi seu único e grande amor. Para ele, foi erguido um monumento na cidade de Extremoz, onde nasceu. Uma sobrinha dela veio ao DF assim que soube que ela estava doente.
 
Amigos da família relataram que encontraram muita dificuldade para conseguir uma unidade de tratamento intensivo (UTI) e só soube da morte na tarde de ontem, quando uma sobrinha e a cuidadora foram visitá-la no Hospital Regional de Santa Maria. O desejo de Asta-Rose Alcaide era ser cremada. O velório será hoje no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, ainda sem horário definido.

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »