Morta pelo marido, a servidora pública Isa Mara Dantas Longuinho Floriano, 52 anos, foi assassinada por motivo fútil, torpe e por ser mulher, como define o delegado da 33ª DP (Santa Maria), Rodrigo Têlho Corrêa. Ele narra que Alessandro Ferreira Floriano, 47, com medo do divórcio, premeditou o crime, executado na última sexta-feira e descoberto um dia depois. O cadáver, encontrado perto de estrada em Alexânia (GO), foi carbonizado.
Réu confesso, Alessandro alega ter discutido com a vítima por causa da compra de um videogame, feita no cartão de crédito dela. A mulher teria ficado insatisfeita com a situação e iniciado a briga que chegou às vias de fato.
Segundo o delegado da 33ª DP, o autor relata que a mulher tentou enforcá- lo com um cabo para computador e, durante confronto físico, ele a teria empurrado na escada da casa, em Santa Maria, para se defender. A Polícia Civil contesta a alegação de legítima defesa.
Premeditado
“Ele premeditou o crime. Tudo indica que ele tentou matá-la enforcada e, por algum motivo, eles caíram na escada. O marido está com o cotovelo ralado, inclusive. Isa deve ter batido a cabeça em um dos degraus e começado a sangrar”, descreve Corrêa.
Após o assassinato da esposa, por volta do meio-dia, Alessandro teria tentado criar um álibi. “Ele deixou o corpo na casa e, quando voltou, tinha mais sangue na escada”, corrobora. O autor do crime foi ao hospital pouco tempo depois do assassinato, acompanhado pelo pastor da igreja frequentada pela mulher, alegando que passava mal. À polícia, o líder religioso afirmou que Alessandro dizia sentir fortes dores no corpo.
De volta à casa, Alessandro teria tentado se livrar do corpo. Segundo informações da Polícia Civil, ele telefonou para um amigo para pedir um carro emprestado. Foi, de ônibus, até o Riacho Fundo, retornou a Santa Maria, pôs o corpo de Isa Mara Floriano no carro e dirigiu até um posto de combustível em Novo Gama (GO). “Comprou cinco litros de gasolina e foi até Alexânia, onde queimou o cadáver”, conta o delegado. “Se fosse acidente, teria chamado o Samu e esclarecido os fatos na delegacia”, completa.
Fala reveladora
Segundo o genro da vítima, Argemiro da Silva, 40, agente de trânsito, a última conversa da esposa, filha de Isa Mara, com a vítima, aconteceu na última terça-feira. “Ela disse para a gente que tinha algo muito grave para contar. Algo que ele tinha feito. Mas que não poderia conversar no meio da rua”, confirma a filha Daniela Longuinho, 33, professora. A conversa, porém, não aconteceu. No dia seguinte ao crime, sábado pela manhã, a família foi à residência à procura de Isa.
“Casamento destruiu vida financeira”
Ao chegar à casa da mãe, no sábado, a professora Daniela Longuinho se deparou com a mangueira do quintal esticada e panos de chão molhados, na entrada. “Tinha um cheiro forte de água sanitária e de sangue”, descreve. O delegado Corrêa confirma o relato. “A escada estava lavada e ele estava tentando pintar a parede para ocultar as manchas de sangue”, afirma. Ao confrontar o homem, a família fez com que ele fosse à delegacia dar queixa do desaparecimento.
Mais tarde, Daniela voltou à residência com familiares. Ao buscar por pistas da mãe, o grupo encontrou gotas de sangue perto da escada. Em seguida, acionou a Polícia Civil, que levou Alessandro à delegacia. Ao ser informado de que o cadáver tinha sido encontrado em Alexânia (GO) e de que havia evidências de que o sangue encontrado na casa era humano, ele confessou o crime. Na delegacia, fingiu desmaios, como conta Corrêa.
“Chamamos o Samu, que confirmou que ele não tinha nada. Deram um analgésico, apenas”, lembra. Esse comportamento era frequente, segundo a família. “Quando o confrontamos para saber onde estava a minha sogra, no sábado de manhã, ele fingiu um ataque epiléptico”, acrescenta o genro.
Sobrinho de Isa Mara, Alisson Longuinho Oliveira, 27 anos, técnico em informática, lista as doenças que o homem dizia ter: “câncer nos ossos e lúpus. Pedia dinheiro emprestado para se tratar, fazer implantes nos dentes. Disse que fez até cirurgia na coluna”. Ele acrescenta: “A vida financeira da minha tia acabou depois do casamento. Perdeu bens e muito dinheiro. Eles se conheceram, logo se casaram e ela começou a se endividar”. Os familiares descrevem o suspeito como alguém que afastava Isa Mara das pessoas, não tinha amigos e era viciado em compras. “Tinha controle do cartão dela e não a deixava conversar com ninguém sozinha. Minha tia morreu porque tinha pena dele. Não o amava mais”.
A filha de Isa Mara temeu a morte da mãe desde terça-feira. “Quando ela disse que tinha algo grave para me contar, desconfiei de que ele poderia matá-la. Tive um pressentimento. Hoje, temo que ele consiga o habeas corpus, mas estou mais tranquila por saber que a justiça está sendo feita”, desabafa.
Saiba mais
A condução do corpo ao Instituto Médico Legal de Anápolis (GO) levou a equipe da Polícia Civil do DF à resolução do caso. O autor está preso e responde pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver.
Após a perícia na casa, a família encontrou evidências do vício do homem em compras, como relata o sobrinho da vítima. “Vimos cheques com nome de terceiros, faturas de todos os valores, empréstimos e vários cartões de crédito, tudo no nome da minha tia”.