Diante das incertezas do cenário político nacional, as peças da disputa pelo Palácio do Buriti estão embaralhadas. A seis meses do prazo final ao registro de partidos políticos e coligações para as eleições, o único nome confirmado no pleito é o do governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Entre ligações e encontros, as coalizões seguem adiando o lançamento de seus pré-candidatos, apesar de a campanha deste ano ser mais curta — 45 dias em vez de 90. Em alguns casos, porque lideranças da capital federal colocam as próprias pretensões acima das do grupo; noutros, devido à falta de opções. As articulações, porém, seguem a todo vapor. Enquanto isso, o governador trabalha na campanha. A agenda é dividida entre lançamentos de projetos, visitas a cidades, anúncios de agrados ao funcionalismo — como o adiantamento dos salários — e inaugurações. Entre um compromisso e outro, o chefe do Executivo local faz vídeos e selfies para adicionar às redes sociais, na tentativa de uma aproximação com o eleitorado. Com mais discrição, ele trata das articulações políticas. Na última semana, Rollemberg dedicou-se ao fortalecimento de laços com possíveis desertores, principalmente da frente evangélica, cuja base eleitoral é forte no DF.
O PRB, fundado por bispos da Igreja Universal do Reino de Deus, considerava certo o desembarque da base aliada. Mas, depois de uma conversa com o governador, a sigla suavizou a postura: decidiu estudar as possibilidades de uma nominata governista e adiar a decisão sobre a debandada. O desfecho dependerá das ofertas e da viabilidade eleitoral do socialista. Um dos nomes republicanos que interessam ao Buriti é o da secretária de Esportes, Leila Barros.
O governador também se aproximou do Podemos, que conta com a ex-distrital e candidata a um cargo majoritário Eliana Pedrosa. A ideia é afinar o diálogo com o partido, que estava em constante afastamento, ao lado de PRB, PSC e PHS — esses dois últimos declararam oposição a Rollemberg nas próximas eleições. O chefe do Buriti ainda manteve as costuras com aqueles que deverão estar ao seu lado em outubro: os deputados federais Ronaldo Fonseca (Pros), com grande influência na Igreja Assembleia do Reino de Deus, e Augusto Carvalho (SD).
Outro alvo foi o ex-secretário de Meio Ambiente e presidente do PV-DF, Eduardo Brandão. Atualmente, o partido integra a base aliada e recebeu a proposta de disputar a Vice-Governadoria na chapa de Rollemberg. A sigla reuniu-se, nesta semana, para discutir o posicionamento nas eleições, mas também retardou a definição.
Nesta segunda-feira, Rollemberg reforçará a tentativa de viabilizar uma união com o PSDB, de Maria de Lourdes Abadia. Isso porque o presidente do partido e pré-candidato ao Planalto, Geraldo Alckmin, deve vir a Brasília para o Encontro dos Governadores. Desta vez, a conversa acontecerá em meio a um embate entre as siglas pelo Palácio dos Bandeirantes. Em São Paulo, nenhuma das legendas pretende abrir mão da candidatura ao governo. Presidente do PSB-DF, Tiago Coelho minimiza a situação. “O nosso partido tem várias candidaturas ao governo no Norte e no Nordeste que podem servir como palanque eleitoral. Isso nos credencia como bons aliados a presidenciáveis”, ressaltou.
Incertezas
Enquanto Rollemberg investe no fortalecimento da base, partidos de centro-direita, que dividem a herança de José Roberto Arruda e Joaquim Roriz, batem cabeça. Apesar de o ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR) ser, com folga, o primeiro colocado em pesquisas de opinião, a coalizão insiste em encomendar novas sondagens antes de lançá-lo pré-candidato ao Executivo local. “Esse material avaliará quem tem maior intenção de voto, potencial de crescimento e menor rejeição. Com base nos dados, a escolha final deve acontecer na primeira quinzena de abril”, adianta o ex-distrital Alírio Neto (PTB).
O adiamento acontece porque, apesar do discurso afinado, os deputados Alberto Fraga (DEM) e Izalci Lucas (PSDB), além de Alírio, não querem abrir mão da oportunidade de concorrer ao Buriti. Principalmente o petebista, que recebeu da Executiva nacional a garantia de apoio e investimentos na candidatura. A consequência do imbróglio é mais costuras nos bastidores e menos contato do pré-candidato oficial do grupo com a população.
No campo de centro-esquerda, ex-aliados de Rodrigo Rollemberg, insatisfeitos com a gestão, uniram-se para enfrentá-lo na corrida eleitoral. Estão lado a lado o senador Cristovam Buarque (PPS); o deputado federal Rogério Rosso (PSD); e o presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT). Com o intuito de fortalecer a nominata, o grupo busca uma aproximação com outras siglas, como PRB, Podemos, PSC, PHS e PPL.
As projeções apontam Valle como o candidato da frente ao Palácio do Buriti. Integrantes do grupo, porém, asseguram que a definição da composição majoritária não é prioridade no momento. “Essa, talvez, seja a disputa mais complexa da história das eleições no DF. Antes de tudo, as siglas apresentarão projetos sobre os 15 temas elencados na última reunião, como educação, saúde e segurança, para produzirmos o programa de governo”, garantiu Rosso.
Esquerda
Com a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a situação do PT agravou-se, uma vez que alguns partidos têm receio de apoiar uma candidatura que pode não chegar ao fim. A condição respingou na capital federal. Aqui, petistas encontram dificuldades em formar alianças devido ao afastamento de parceiros históricos. Além disso, nenhum nome com densidade eleitoral apresenta-se para disputar o Buriti.
O PSol está mais firme. O partido aguarda o sinal verde para lançar a diretora da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília (UnB), Fátima Souza, ao Executivo local. Em 24 de fevereiro, a agremiação baterá o martelo sobre as candidaturas e os indicativos de alianças. “Conversamos sobre projetos com PDT, PCB, PSTU, Rede, PCdoB e outros. Agora, o diretório apontará com quais devemos falar sobre coligações. Buscamos a formação de uma frente antifascista”, afirmou o presidente regional da sigla, Fábio Felix.
Dúvidas e certezas
A oito meses das eleições, as candidaturas ao Buriti seguem incertas, mas as frentes de disputa começam a tomar forma. Confira:
Rodrigo Rollemberg (PSB) — Com a debandada de aliados no ano passado, como PDT, PSD e Rede, o governador teve de reconstruir a base. O Pros, de Ronaldo Fonseca, e o Solidariedade, de Augusto Carvalho, sinalizaram que estarão ao lado do socialista na disputa. Ele costura, ainda, com PSDB, PRB, PV e Podemos. O chefe do Buriti conta com a vantagem de ter a máquina pública nas mãos e tem investido no cumprimento de promessas de campanha.
Centro-direita — O grupo é integrado por Alírio Neto (PTB), Alberto Fraga (DEM), Izalci Lucas (PSDB), Jofran Frejat (PR) e Tadeu Filippelli (MDB). Investigado na Operação Panatenaico, Filippelli disputará o cargo de deputado federal, mas, por conta da estrutura e do tempo de tevê do partido, terá o poder de indicar o vice-governador da chapa. São nomes cotados o deputado federal Rôney Nemer (PP) e o ex-secretário de Obras Luiz Pitiman (PSDB).
Centro-esquerda — A coalizão conta com nomes de peso, como Cristovam Buarque (PPS), Joe Valle (PDT), Rogério Rosso (PSD) e Valmir Campelo (PPS). Os três primeiros integraram ou apoiaram a candidatura de Rollemberg em 2014, mas, insatisfeitos com a gestão, deixaram a base aliada. Negociam, ainda, com PRB, PPL, PSC, PHS e Podemos.
PT — O partido ficou desgastado após a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as recorrentes investigações que recaem sobre o ex-governador Agnelo Queiroz. Correligionários cogitam a ideia de uma chapa puro-sangue, uma vez que aliados históricos se afastaram. Contudo, faltam interessados em disputar a sucessão de Rollemberg. O único nome colocado à disposição até agora é o da diretora-presidente do Sinpro, Rosilêne Corrêa.
PSol — A sigla pretende lançar o nome de Fátima de Souza ao Buriti, mas aguarda o sinal verde da professora. Para o Senado, contam com um nome de peso: Marivaldo Pereira, ex-secretário executivo do Ministério da Justiça e militante conhecido. Estuda coligações com partidos de esquerda, como PCdoB, PSTU e PCB.
Calendário eleitoral
De 20 de julho a 5 de agosto
» Período em que os partidos estão autorizados a promover convenções para a definição dos candidatos
15 de agosto
» Fim do prazo para partidos políticos e coligações registrarem candidaturas
16 de agosto
» Início da propaganda eleitoral
26 de agosto
» Começa a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão
29 de setembro
» Fim da propaganda eleitoral gratuita veiculada no rádio e na televisão
30 de setembro
» Termina o período de exibição de propaganda eleitoral paga
2 de outubro
» Primeiro turno das eleições