1/3Em novembro de 2017, uma conta de R$ 6 mil foi entregue à casa de Marlene Veronezi Ferrão, 73 anosArquivo pessoal
Uma surpresa desagradável esperava o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) e a família, quando eles voltaram de férias em janeiro de 2016: uma conta de água e esgoto cobrava R$ 6.367,30. No mês seguinte, a fatura atingiu R$ 7.072,37. Os valores exorbitantes foram acumulados por ao menos nove meses, até a dívida chegar a R$ 50,4 mil, contou o parlamentar ao Metrópoles.
Com receio de ter o abastecimento cortado, ele firmou um acordo com a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), há um ano. Embora receba salário em torno de R$ 33 mil, o deputado optou pelo parcelamento e fracionou a dívida em 24 vezes de R$ 2,1 mil – 13 já foram quitadas, segundo Fraga.
Na casa rústica, localizada à beira do Lago Paranoá, moram o deputado, a esposa, Mirta Brasil Fraga, a mãe dela e um filho do casal. Para Fraga e Mirta, a cobrança não tem cabimento, pois o preço imposto pela Caesb pelo consumo de água e pelo serviço de esgoto teria começado a subir logo após a troca do hidrômetro – feita pela própria empresa pública, em outubro de 2015.
Eles reclamaram à Caesb diversas vezes, e a empresa analisou as contas, mandou técnicos para a casa a fim de verificar a situação do hidrômetro e apontar possíveis vazamentos, mas nada foi encontrado, segundo Mirta. O coronel da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal contou que, antes da alteração, a fatura ficava em torno de R$ 600.
O próprio casal contratou um caça-vazamentos, que também atestou não haver desperdício do recurso, de acordo com a esposa do deputado. Indignado com a situação, Fraga afirma ter levado o problema ao presidente da Caesb, Maurício Luduvice, mas não teve jeito: ou pagava, ou ficava sem água.
“Isso é a coisa mais absurda do mundo. Ficou evidenciado: realmente, esse hidrômetro causou o aumento”, dispara. “Eles alegam ter sido consumo, mas não tem como, pois moram só quatro pessoas”, sustenta Mirta. Ela diz que a família ocupa o imóvel há 10 anos e nunca teve contas tão altas.
Para Mirta, intriga o fato de a cobrança ter voltado ao habitual, “milagrosamente”, após as partes finalizarem a negociação. “Foram vários meses com valores altíssimos e, depois que foi feito o acordo, as contas voltaram ao normal. Ou seja, esse suposto vazamento sumiu sozinho?”, questiona.
Outros casos
Histórias semelhantes à da família do parlamentar se multiplicam pelo Lago Norte, bairro nobre brasiliense. Em novembro de 2017, Marlene Veronezi Ferrão, 73 anos, recebeu uma conta de R$ 6.736,75. Segundo a Caesb justificou na fatura, foram consumidos 327m³ de água em outubro. No mês seguinte, a cobrança de R$ 2.868,24 causou mais um sobressalto – a família teria gastado 150m³.
A moradora da QL 11 defende que os preços indicados pela Caesb não correspondem ao consumo da casa em outubro e novembro. Na residência, onde moram sete pessoas, as contas de água e esgoto alcançam, no máximo, R$ 600, de acordo com Marlene. Para ela, o hidrômetro novo, instalado em setembro, é o culpado pelo aumento.
“No mesmo dia [em que a primeira prestação chegou] chamei o caça-vazamentos, e ele veio aqui em casa, examinou tudo e não encontrou nada”, relata.