Em meio a discussões sobre corte de gastos públicos, a TV Justiça, emissora pública oficial do Judiciário, pretende colocar em funcionamento a partir de agosto o novo sistema de câmeras em alta definição para transmissão ao vivo das sessões plenárias do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte vai gastar até R$ 2,9 milhões para realizar a troca de equipamentos de captação e transmissão. As sessões são televisionadas no programa Direto do Plenário, às quartas e quintas-feiras, e reprisadas em outros dias durante a programação.
Esse tipo de transmissão vem sendo apontado por especialistas e estudiosos não só como uma forma de divulgar atos do Poder Judiciário como um fator de influência no comportamento dos ministros durante as sessões e na extensão dos votos de cada um deles.
Na semana passada, por exemplo, o bate-boca entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso durante o julgamento que manteve a proibição de doações ocultas em campanhas eleitores foi transmitido ao vivo. Tradicionalmente com posições opostas, ambos protagonizaram uma troca de agressões verbais. Barroso disse que o colega é “uma pessoa horrível”, uma “mistura do mal com o atraso e pitadas de psicoterapia”. Gilmar rebateu recomendando que Barroso “fechasse seu escritório de advocacia”. No ano passado, o plenário da Corte também foi palco de outros embates entre ministros.
Criada em maio de 2002, a TV Justiça tem sede no Supremo Tribunal Federal e iniciou as atividades em agosto daquele ano. Coube a Marco Aurélio Mello, que é ministro da Corte desde 1990, a sanção da lei que criou a emissora. À época, Marco Aurélio era o presidente do STF e ocupou interinamente a Presidência da República durante uma viagem de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao exterior. Ele ocupou o cargo porque também estavam fora do País o vice-presidente e os presidentes da Câmara e do Senado.
No dia da sanção da lei, Marco Aurélio afirmou que o serviço seria “importantíssimo porque a última trincheira do cidadão é o Judiciário”. A administração da TV Justiça está sob a responsabilidade da Secretaria de Comunicação Social da Corte com o auxílio de um Conselho Consultivo.
Investimento
Os R$ 2,9 milhões previstos serão usados para bancar novas câmeras de alta definição, lentes, monitores e sistema de operação à distância com controle e robótica. Há pelo menos duas empresas interessadas. O STF quer que elas comprovem experiência no fornecimento dos equipamentos. O sistema é considerado crítico, porque, em caso de mau funcionamento, afeta a transmissão do plenário.
A TV Justiça está buscando no mercado produtos com tecnologia de ponta, fabricados por líderes do mercado mundial de produção e transmissão de vídeo. A exigência é que as câmeras captem em full HD (resolução máxima da alta definição), mas não em ultra HD ou 4K, com qualidade quatro vezes superior. O 4K é considerado como próximo passo da tecnologia padrão de TVs e já foi usado em transmissões na Olimpíada do Rio, em 2014.
O Supremo afirma que a substituição dos equipamentos vai permitir melhores condições de manutenção, de infraestrutura tecnológica e possibilitar a captação de imagens em HD. A justificativa do tribunal para o investimento é que as câmeras atuais estão obsoletas, defasadas tecnologicamente e em operação há um longo tempo – pelo menos dez anos desde que foram adquiridas.
Atualmente, as imagens da TV Justiça são captadas e transmitidas em aspecto 4:3, proporção que era o padrão no Brasil até as primeiras transmissões da TV digital, iniciada em 2007. As câmeras que serão substituídas foram compradas naquele ano, ao custo de R$ 1,5 milhão.
Para melhoria da qualidade de som e imagem possibilitada com os sinais digitais, foi adotado na TV aberta o padrão 16:9 (widescreen), similar à tela de cinema, com mais área nas laterais. Quando retransmitido para televisores mais modernos, a qualidade da imagem piora e aparecem barras pretas nas laterais da imagem.
Câmeras
O plenário do Supremo possui ao todo dez câmeras em cinco posições diferentes. Todas são operadas remotamente por meio de cabos ligados a uma sala de controle (switcher). Elas ficam afixadas nas paredes, e não há cinegrafistas dentro do plenário. As cinco câmeras da TV Justiça, instaladas mais ao alto, serão trocadas. As outras cinco servem apenas para documentação de eventos internos e das sessões de julgamento pela Seção de Áudio e Vídeo, “com aplicabilidade distinta e sem relação direta com os equipamentos da TV Justiça”, segundo a Coordenadoria Administrativa da Secretaria de Comunicação Social. Elas foram adquiridas em 2012, num edital com valor de R$ 2,2 milhões.
O STF vem investindo na renovação de sua infraestrutura de áudio e vídeo. Em 2014, lançou licitação de R$ 5 milhões para câmeras e outros equipamentos para gravação em estúdios e externas. No ano passado, realizou outro de R$ 1,7 milhão para compra de um switcher de vídeo para transmissões, que poderá ser usado com as novas câmeras.