06/10/2016 às 11h43min - Atualizada em 06/10/2016 às 11h43min

No DF, mais de mil alunos estão em unidades provisórias

Jéssica Antunes
JB online
No Distrito Federal, mais de mil estudantes não têm uma escola para chamar de sua. Eles foram retirados das salas de aula por problemas estruturais, riscos à saúde e até construção de aterro sanitário. Em unidades provisórias, enfrentam o dobro de dificuldades, influenciando o desempenho educacional. A situação também é complicada para escolas criadas como temporárias, mas que se tornaram definitivas com o tempo: a prioridade é outra.

A Secretaria de Educação contabiliza apenas três casos de escolas provisórias na capital. Em Samambaia, na Estrutural e na Vila Planalto os alunos foram transferidos para outras unidades enquanto o destino dos prédios é decidido. A promessa é que duas delas voltem a funcionar no próximo ano letivo e, a terceira, em 2018. No entanto, em outros pontos da capital também há reivindicações por sedes definitivas para as unidades de ensino.

 

O Centro Interescolar de Línguas do Guará (Cilg), por exemplo, divide espaço há mais de 20 anos com o Centro de Ensino Fundamental 2. O que mais incomoda, segundo a diretora Adriana Lopes, é o barulho. “A gente entende que é uma escola regular e que isso é normal, mas atrapalha muito o desenvolvimento educacional. Quem está no lugar errado somos nós”, diz. O espaço físico limitado também prejudica as execuções de atividades.

São décadas reivindicando sede própria. Até existem terreno e projeto desde 2007, mas nada sai do papel. “Não há previsão de construção no orçamento e não é prioridade no plano de obras. Temos que construir creches”, revela Afrânio de Sousa Barros, coordenador Regional de Ensino do Guará. “O Cilg atende mais de três mil alunos e o ideal é que tivesse um prédio próprio. As duas instituições sempre tiveram dificuldades na relação, principalmente na questão de barulho. Tentamos mediar o conflito, mas uma nova sede não está prevista”, continua.

Abaixo-assinado

Neste ano, por iniciativa de alunos, um abaixo-assinado com mais de mil apoios foi entregue à Regional de Ensino. No mês passado, o Centro Interescolar de Línguas 2, que também funcionava há 18 anos provisoriamente na Asa Sul, ganhou sede própria na 711 Norte.

Saiba mais

  • Uma unidade criada para funcionar por cinco anos e que se tornou permanente é a Escola Classe 59 de Ceilândia, que ultrapassou os 25 anos. Em 2012, o Tribunal de Contas a considerou com a pior estrutura do DF e, desde então, pouca coisa mudou. Em julho deste ano, a Justiça determinou, em decisão provisória, a reconstrução da escola com prazo para agosto de 2017. O governo recorreu, diz que ela não é mais provisória, não esclarece o motivo, mas afirma que a reconstrução acontecerá, sem prazos definidos.

Comunidade sem escola

Onde deveriam estar as salas de aula da única escola da comunidade da Vila Planalto há entulhos, lixo e animais. O Centro de Ensino Fundamental 1 foi construído para ser provisório. Após 25 anos de espera por melhorias, o prédio foi demolido em 2013 com a promessa de início imediato de obras, mas nenhum tijolo foi erguido.

Desde então, centenas de crianças realizam um deslocamento penoso para escolas da Asa Norte, aguardando ônibus sob sol e chuva sem qualquer previsão de quando estudarão perto de casa outra vez. “A construção estava péssima e inadequada aos estudantes”, explica Fábio Pereira de Sousa, subsecretário de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação da Secretaria de Educação.

De acordo com ele, foram elaborados projetos arquitetônicos e complementares. Em breve entrará em processo licitatório e as obras devem ser iniciadas em 2017. A inauguração está prevista para o início do ano letivo de 2018. Ismael Almeida, presidente da Associação de Moradores da Vila Planalto, conta que a comunidade buscou na Câmara dos Deputados uma emenda parlamentar no valor de R$ 6 milhões há um ano. “Com o recurso garantido, conseguiram tocar os projetos. Agora estamos na expectativa do início das obras”, destaca.

Hugo Barreto

A notícia, porém, é encarada com desconfiança. “Não aguentamos mais promessas. Fomos enganados. Em 2013, só aceitamos a derrubada porque o compromisso era construção imediata”, reclama Lina Rodrigues (na foto), costureira de 39 anos que deveria ter três filhos estudando próximo de casa, mas que precisam se deslocar ao Plano Piloto todos os dias.

De rural a urbana

As paredes coloridas da antiga Escola Classe Guariroba, às margens do Aterro Sanitário em Samambaia, guardam apenas lembranças. Erguido há quase 50 anos em um terreno doado, o colégio está em ruínas. Levaram as portas e as janelas e destruíram os telhados do local, que atendia cerca de 200 alunos.

Eles tiveram de sair dali para a construção do aterro e, desde então, estudam em uma área adaptada da antiga sede da Administração Regional da cidade enquanto a nova escola é construída às margens da DF-180 ao custo de R$ 6 milhões. “Espero que o ano letivo já inicie lá. As obras estão avançadas e 80% concluídas”, avisou o subsecretário Fábio Pereira de Sousa. O mestre de obras, no entanto, duvida do prazo. Segundo ele, a parte externa deve ficar pronta, mas a interna, talvez em abril.

Sem gratificação

A mudança de sede também muda a estrutura da escola, que deixa de ser rural. A Secretaria de Educação diz que, conforme o Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), a nova localização é urbana, mesmo que sequer tenha ônibus de linha passando por ali. Por isso, inclusive, professores não fazem mais jus à Gratificação de Atividade em Zona Rural (GAZR).

Peregrinação

Obras na Estrutural. Promessa é reabrir escola no próximo ano. Foto: Hugo Barreto

A Escola Classe 1 da Estrutural, construída sobre um antigo aterro sanitário, foi interditada pela Defesa Civil há cinco anos por causa da presença de gás metano em concentração prejudicial à saúde humana. Depois de serem transferidos para o Cruzeiro, Guará e dois endereços na Asa Sul nos últimos três anos, os 1,2 mil alunos agora são levados a um prédio alugado no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), onde o governo desembolsa R$ 8.391,67 mensais.

Canalização de gás

A unidade é identificada pelo subsecretário como “escola do gás”. Ali, uma empresa recém-contratada faz um estudo para canalizar o gás. “Chegou-se à conclusão que toda a área da Estrutural tem problemas com gás em virtude do acúmulo de lixo. Isso precisa ser canalizado. Assim que a empresa finalizar o processo, as aulas voltarão a ser ali”, explicou. Fábio Sousa espera que as portas da escola reabram no início de 2017 e os pais já podem optar por ela para a matrícula.

“A Secretaria de Educação entende a necessidade da reconstrução dessas escolas o mais rápido possível. Fornecemos o transporte escolar às unidades provisórias e trabalhamos para que voltem para perto de casa o mais breve possível”, diz o secretário. Para minimizar as dificuldades, são mantidos os mesmos grupos de gestores e professores para que os alunos não enfrentem problemas de alteração pedagógica.


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