24/06/2018 às 18h00min - Atualizada em 24/06/2018 às 18h00min

O novo “primeiro comando da capital”

A polícia descobre que ex-senador comanda a ala da penitenciária da Papuda onde estão presos os ex-ministros José Dirceu e Geddel Vieira Lima

Revista Veja

Em alguns Estados, é o crime organizado que dá as cartas nas prisões. Bandidos decidem quem entra, quem sai, quem vive e até quem morre. Na penitenciária da Papuda, em Brasília, onde cumprem pena políticos e ex-políticos envolvidos em corrupção, desconfiava-se havia tempo de que algo similar estava ocorrendo. No domingo 17, policiais civis do Distrito Federal, autorizados pela Justiça, vasculharam as celas ocupadas pelo ex-senador Luiz Estevão e pelos ex-ministros José Dirceu e Geddel Vieira Lima. Os agentes buscavam provas para confirmar as suspeitas de que Luiz Estevão, preso desde março de 2016, atua como chefe do presídio, distribuindo regalias a figurões encarcerados. Os achados comprovaram essas suspeitas. Em um caderno de José Dirceu, encontrou-se uma anotação que indicava que era preciso pedir a Estevão para agendar uma visita fora do horário regular. Para os investigadores, a informação é mais uma evidência de que o ex-senador agia como se fosse o “dono do presídio”.

A polícia também apreendeu manuscritos na cela do ex-ministro Geddel Vieira Lima, além de cinco pen drives que o ex-senador tentou jogar na privada. Os investigadores recuperaram o material, mas seu conteúdo continua sob sigilo. As regalias também ficaram demonstradas. Estevão dividia com Dirceu a maior e mais confortável cela da “ala das autoridades”, enquanto as demais, inclusive a de Geddel, estavam lotadas, com até treze detentos em cada uma. “A biblioteca mais parecia um escritório do ex-senador do que um espaço de uso comum dos outros presos”, diz o delegado Thiago Boeing, um dos encarregados do caso. O senador tinha uma pilha de documentos no seu “escritório”, numa evidência de que continua controlando seus negócios privados de dentro da prisão. Após a operação, o governo do Distrito Federal afastou os diretores da penitenciária.

Não é a primeira vez que Estevão e Dirceu são apanhados em tramoias dentro da Papuda. O ex-senador, condenado a 31 anos de prisão por corrupção, financiou do próprio bolso a reforma da ala onde cumpre pena. Sua cela tem chuveiro elétrico, banheiro com privada, piso de granito, paredes pintadas, iluminação diferenciada e televisão. Já Dirceu, quando cumpria pena no processo do mensalão, tinha tratamento vip autorizado pela própria direção do presídio, à época sob o comando do governo do petista Agnelo Queiroz. O ex-ministro passava a maior parte do tempo na biblioteca, recebia visitas fora do horário e seus familiares não se submetiam à revista íntima.

Publicado em VEJA de 27 de junho de 2018, edição nº 2588


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