As paixões políticas levam as pessoas a santificar ou demonizar os que se dedicam à chamada vida pública, dependendo da perspectiva de quem os julga. Não há meio termo, e os políticos que não despertam paixões, positivas ou negativas, são geralmente ignorados e esquecidos, por mais méritos que possam ter. Os grandes políticos são – ou foram — amados e odiados.
Joaquim Roriz foi o político de maior expressão e importância em Brasília, exaltado por alguns e atacado por outros. Por quatro vezes ocupou o Palácio do Buriti, e suas gestões foram elogiadas e criticadas pelos brasilienses, praticamente meio a meio. Roriz, como os bons políticos, nunca foi unanimidade. As vitórias eleitorais que teve em 1998 e 2002, para o governo, foram apertadas. A de 2006, para o Senado, foi com 51% dos votos.
A partir de seu primeiro governo, ainda antes de o Distrito Federal ganhar sua autonomia política, constituiu um grupo político de peso, que se desdobra atualmente em quatro chapas que disputam o governo do Distrito Federal e em muitos dos candidatos que concorrem a senador e a deputado federal e distrital. As próximas horas e dias mostrarão a que ponto vão chegar a exploração política desse passado e as tentativas de herdar o espólio do ex-governador. E como a morte de Roriz influirá nas eleições de 7 de outubro.
A viúva Weslian e as duas filhas que seguiram o caminho da política, Jaqueline e Liliane, já deixaram claro que apoiam Eliana Pedrosa, do Pros. É na coligação de Eliana, inclusive, que Joaquim Roriz Neto é candidato a deputado federal e Weslian postulante a suplente de senador.
Outros oriundos do grupo do ex-governador, como Alberto Fraga (DEM), que disputa o governo, e Tadeu Filippelli (MDB), que quer voltar a ser deputado federal, usam imagens de Roriz em suas propagandas. Foram desautorizados pela família, mas ignoraram. Os sobrinhos Paulo e Dedé Roriz também são candidatos, a deputado federal e distrital, respectivamente.
Fraga e Rogério Rosso (PSD) foram secretários em governos de Roriz. Ibaneis Rocha (MDB) é o único dos quatro candidatos ao governo que não tem passado rorizista, mas Filippelli é o presidente de seu partido e seu candidato a vice, Paco Britto, tem longa história no grupo do ex-governador.
Todos têm como reivindicar a ligação política, a proximidade física e até a amizade, nem sempre real, com o ex-governador, o que pode resvalar para o oportunismo eleitoreiro. Que, aliás, marcou a nota de pesar do governador Rodrigo Rollemberg (PSB). O socialista candidato à reeleição conclama os eleitores a não trazer de volta o passado, sempre se opôs ferrenhamente a Roriz e, agora, o exalta e o compara a Juscelino Kubitschek.
Roriz foi mesmo um governador competente e dinâmico que trouxe muitos benefícios para o Distrito Federal e para os brasilienses, especialmente aos mais pobres. Porém, cometeu erros, como é natural, e é responsável por alguns males que assolam a capital do país.
Sofreu muitas acusações e talvez tivesse mais problemas com o Ministério Público e com a Justiça nos dias de hoje do que teve em seu tempo. Nunca perdeu uma eleição, mas sofreu algumas derrotas políticas – uma delas quando seu candidato a presidente da Câmara Legislativa foi derrotado, em uma articulação, por sinal, liderada por Eliana Pedrosa. Outra foi quando, por manobra de Filippelli, teve de sair do então PMDB. A pior, a derrota de Weslian para Agnelo Queiroz (PT).
A tradição brasileira é que a morte absolva e até santifique, pelo menos publicamente, os que em vida foram criticados e combatidos. Os herdeiros políticos de Roriz podem se beneficiar disso nessas eleições.