O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva protagonizou cena de confronto nesta quarta, 14, durante seu depoimento à juíza Gabriela Hardt, que substituiu Sérgio Moro na Lava Jato. Os dois discutiram no início do interrogatório sobre o sítio de Atibaia, em São Paulo. A juíza mandou o ex-presidente baixar o tom. E advertiu: “Se continuar assim, nós teremos problema”.
“Doutora, eu só queria perguntar para o meu esclarecimento. Eu sou o dono do sítio ou não? Porque eu estou disposto a responder toda e qualquer pergunta. Eu sou dono do sítio ou não?”, perguntou Lula.
“Isso o senhor que tem que responder e eu não estou sendo interrogada nesse momento”, disse a juíza. Lula interrompeu dizendo que tem que responder é quem o acusou. Gabriela Hardt então chamou a atenção de Lula: “Senhor ex-presidente, esse é um interrogatório –e se o senhor começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema”, enfatizou.
A força-tarefa do Ministério Público Federal acusa Lula de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por supostamente ter sido contemplado pelas empreiteiras OAS e Odebrecht e também pelo amigo pecuarista José Carlos Bumlai com um valor total de R$ 1,02 milhão para obras de reforma e melhorias do sítio.Durante o interrogatório o ex-presidente disse que havia pensado em comprar o sítio, mas que o dono do local não quis vendê-lo.
“Eu na verdade pensei em comprar o sitio para agradar a Marisa em 2016. Eu tive pensando porque se eu quisesse comprar o sitio eu tinha dinheiro para comprar o sitio. Acontece que o Jacob Bittar não pensava em vender o sítio, o Jacob Bittar tinha aquilo como patrimônio”, disse Lula.
O ex-presidente afirmou ainda que nunca conversou “com ninguém sobre as obras do sítio de Atibaia porque eu queria provar que o sítio não era meu. E hoje aqui nessa tribuna vocês me deram o testemunho: o sítio não é do seu Lula. Eu pensei que eu vim aqui prestar depoimento porque o sítio era meu. O sítio não é meu.”
Foi a primeira vez que Lula deixou a prisão em Curitiba – onde cumpre pena de 12 anos no caso do triplex do Guarujá – desde que foi preso, em abril último. O interrogatório foi das 15 horas às 17h40. Ao final do depoimento, ele voltou para a cela na Polícia Federal do Paraná.
Diálogo áspero – Preso desde 7 de abril, o ex-presidente deixou a prisão sob forte escolta, até o gabinete de Gabriela Hardt, na Justiça Federal.
Veja trechos da conversa entre os dois:
“O sr. sabe do que está sendo acusado?”, indagou a juíza, seguindo o rito dos interrogatórios a que são submetidos todos os réus.
“Não”, respondeu secamente o petista, para, em seguida, emendar que estava disposto a responder a toda e qualquer pergunta. “Eu sou dono do sítio ou não?”, ele protestou.
“Isso é o senhor que tem que responder e não eu”, ponderou Gabriela. “E eu não estou sendo interrogada nesse momento.”
“Quem tem que responder é quem acusou”, interrompeu Lula.
“Eu vou fazer as perguntas para que o caso seja esclarecido, para que eu possa sentenciar, ou algum colega possa sentenciá-lo ”
Em um momento seguinte da audiência, Lula perguntou a juíza. “Quando eu posso falar, Dra?”
“O sr pode falar, o sr pode responder quando eu perguntar no começo”, disse Hardt.
“Mas pelo que eu sei é meu tempo de falar”, respondeu o ex-presidente.
“Não, é o tempo de responder às minhas perguntas. Eu não vou responder interrogatório nem questionamentos aqui, está claro?”, afirmou a magistrada.
“Está claro que eu não vou ser interrogada?”, insistiu Hardt.
“Eu não imaginei que fosse assim, Dra”, disse Lula.
“Eu também não”, afirmou Gabriela.
“Como eu sou vítima de uma mentira há muito tempo”, afirmou Lula
“Eu também não imaginava, então, vamos começar com as perguntas. Eu já fiz um resumo da acusação e vou fazer perguntas. O sr fica em silêncio ou o sr responde”, disse a juíza.