Um caderno (veja foto abaixo) encontrado por policiais civis do DF com um suspeito de integrar facções criminosas que atuam em presídios revela como funciona o esquema de cooptação de membros e de arrecadação de dinheiro. Pagando mensalidade de R$ 200, chamada de “cebola”, os detentos garantiam direito a advogados e outras vantagens, que não foram detalhadas pela Polícia Civil. As anotações mostram que o “sistema” é organizado e funciona em todo o território nacional. Cada “irmão” recebe, até, número de matrícula. Porém, para atrair novatos, a organização fez uma promoção: os novos aliados estavam isentos de pagar a contribuição.
O caderno foi apreendido nesta terça-feira (4/12), durante megaoperação deflagrada no DF e em 14 estados por 10 grupos de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaecos) do Ministério Público brasileiro. As prisões ocorreram em Sobradinho e Santo Antônio do Descoberto (GO), Entorno do DF. Foram expedidos 12 mandados de prisão para serem cumpridos pela PCDF. Seis alvos foram localizados, sendo que três já estavam no sistema prisional.
A operação foi desencadeada em resposta à atuação de facções criminosas em presídios de todo o país. Segundo o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), o apoio à iniciativa nacional tem o objetivo de evitar a instalação da facção do PCC no Distrito Federal.
O bloco estava escondido no telhado de uma casa em Santo Antônio do Descoberto, onde foram apreendidos aparelhos celulares que serão periciados.
De acordo com o delegado da Divisão de Repressão às Facções Criminosas, Maurílio Coelho, a organização “funcionava como uma empresa”. “Alguns eram chamados de irmãos e somente integravam o grupo. Outros eram responsáveis pelos setores de armamento, tráfico de drogas e cadastramento.
Para o delegado Thiago Boeing, o objetivo da facção era “expandir”. “Estão em uma política expansionista. Ele explicou que atualmente havia “isenção” no pagamento da mensalidade, justamente para atrair novos “irmãos”. “Esse pessoal preso hoje estava mais abaixo, ou seja, não correspondiam a grandes nomes dentro do grupo. Os chefes foram detidos durante a Operação Hydra, que prendeu 60 integrantes espalhados pelo país”, explicou.
Aos policiais, os presos explicaram que para entrar no grupo é preciso ser apadrinhado por um membro e “aceitar o estatuto da facção com o coração”.
Veja vídeo da operação:
Para coibir a instalação das facções nos presídios do DF já foram realizadas outras operações, como a Tabuleiro, em 2014; a Palestina (51 denunciados), em 2015; e a Legião (54 denunciados), em 2016. Neste ano, também foram realizadas as operações Prólogo (23 denunciados) e Hydra (60 denunciados).
Ação nacional
Em todo o Brasil, os alvos são integrantes da facção criminosa de origem paulista Primeiro Comando da Capital (PCC); das cariocas Comando Vermelho (CV), Terceiro Comando Puro (TCP) e Amigo dos Amigos (ADA); da capixaba Primeiro Comando de Vitória (PCV); e da paraibana OKAIDA RB, uma dissidência da OKAIDA.
Foram presos 200 envolvidos com as facções criminosas. No total, a Justiça emitiu 266 mandados de prisão. De acordo com o Ministério Público de São Paulo, as diligências continuam para localizar 66 foragidos.
As diligências foram realizadas nos estados: Acre, Alagoas, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Tocantins e no Distrito Federal.
A ação foi articulada em âmbito nacional pelo Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNCOC). No Tocantins, foi realizada inspeção na Casa de Prisão Provisória de Palmas, com a finalidade de apreender armas, drogas, explosivos, aparelhos de comunicação móvel e cadastros de faccionados.
O GNCOC congrega o Ministério Público brasileiro e foi criado em fevereiro de 2002, por iniciativa do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da União (CNPG), para combater o crime organizado que atinge o território nacional. Ainda não foram divulgados os números de quantas pessoas foram presas em todo o país.