23/12/2018 às 18h22min - Atualizada em 23/12/2018 às 18h22min
Distrito Federal ganhará nova cidade que deve abrigar 118 mil pessoas
O Conselho de Planejamento Territorial e Urbano aprova o projeto de um empreendimento próximo a Sobradinho. A iniciativa tem licença ambiental e estudos de tráfego, mas especialistas revelam insegurança com impacto no trânsito e no meio ambiente
Prédios de até 10 andares sem grades ou cercas, integrados ao espaço público e envoltos por 3 milhões de metros quadrados de parques. Essa é a proposta urbanística de um novo empreendimento para o Distrito Federal, que começou a sair do papel. A Cidade Urbitá, como foi batizada, recebeu a aprovação do Conselho de Planejamento Territorial e Urbano (Conplan) na semana passada. Era a última pendência que faltava para o projeto, desenvolvido com discrição máxima na última década. A nova cidade é uma iniciativa privada ao lado de Sobradinho, com capacidade para 118 mil moradores. O projeto tem licença ambiental, estudos de tráfego aprovados e poderá gerar investimentos de pelo menos R$ 300 milhões nas primeiras etapas.
A Cidade Urbitá será erguida nas terras da antiga Fazenda Paranoazinho, uma área de 1,6 mil hectares que engloba condomínios irregulares e terras vazias. O projeto aprovado inclui 922 hectares, dos quais 387 estão livres para receber o projeto. A gleba pertence à Urbanizadora Paranoazinho S.A. (UPSA), que, em 2007, comprou a área dos herdeiros de José Cândido de Souza, um dos maiores latifundiários da região (leia Memória). Desde então, a empresa trabalha para regularizar os lotes ocupados em 54 condomínios irregulares dos setores Grande Colorado, Boa Vista e Contagem. Paralelamente, a firma desenvolveu o projeto da nova cidade, que era o grande interesse dos empreendedores ao comprarem a gleba.
Em novembro, o Conplan aprovou o projeto global da nova localidade e, na última quarta-feira, os conselheiros deram o aval ao projeto urbanístico detalhado da primeira etapa. Essa fase do empreendimento poderá abrigar 11 mil moradores (leia Radiografia).
Uma das preocupações com a proposta, no entanto, é o agravamento de problemas enfrentados por moradores da região norte do Distrito Federal. Mesmo que a previsão de ocupação seja a longo prazo, a iniciativa deverá levar em conta o trânsito saturado na área, com os constantes engarrafamentos na BR-020, principalmente na subida do Colorado. A obra do Trevo de Triagem Norte, que prevê a duplicação da Ponte do Bragueto, no Lago Norte, e de um complexo de viadutos para aliviar o trânsito foi concebida sem levar em conta esse adensamento populacional.
Como a região vizinha à Urbitá surgiu sem nenhum planejamento urbano, com a construção de centenas de condomínios irregulares, é escassa a oferta de serviço público e faltam até mesmo áreas vazias para a construção de escolas, postos de saúde ou hospitais. A criação de uma cidade terá de considerar, ainda, a fragilidade do abastecimento de água na capital federal, que passou por uma crise hídrica e saiu há apenas seis meses do racionamento.
Desafio
O diretor da Urbanizadora Paranoazinho, Ricardo Birmann, diz que o desafio do projeto é transformar a Urbitá em um centro catalisador de desenvolvimento, e não apenas em uma cidade-dormitório. “O lado sul do Distrito Federal está saturado, e a região norte tem potencial de desenvolvimento”, argumenta. “A Urbitá tem um projeto ancorado no espaço público que tem como premissas a sustentabilidade, a inovação e a tecnologia, com muita ciclovia, boas ruas e calçadas. Esses são os motes centrais das discussões sobre desenvolvimento urbano no mundo”, detalha o diretor da empresa. “É um projeto a longo prazo, para ser desenvolvido nos próximos 40 anos, pelo menos”, acrescenta Ricardo.
A cidade terá uma área de preservação com conceito de parque linear — uma estrutura que permeia os quarteirões ao longo do projeto. A Urbitá será integrada a Sobradinho por meio de um prolongamento na Avenida Sobradinho. A construção da pista é uma das exigências para a liberação do empreendimento, além da construção de uma ponte sobre o Ribeirão Sobradinho. Os estudos de tráfego foram desenvolvidos ao longo de quatro anos e receberam o aval do governo em 2018. Ao contrário do que é feito nos empreendimentos imobiliários tradicionais, os primeiros lançamentos não serão residenciais, mas em lotes comerciais e institucionais. “Queremos trazer uma grande escola, um bom supermercado, uma importante instituição de saúde e, a partir daí, lançar os empreendimentos residenciais. Essas são carências dos moradores das cidades vizinhas”, explica Ricardo Birmann. O projeto detalha até mesmo a localização das redes de esgoto, de drenagem, de água, de telefonia e de iluminação pública. As concessionárias de serviços públicos do DF deram o aval à proposta, antes da tramitação no Conplan.
Memória
Impasse e atrasos Os problemas fundiários na antiga Fazenda Paranoazinho se arrastam há mais de uma década. Desde a aquisição do terreno, em 2007, a Urbanizadora Paranoazinho se tornou a responsável por administrar o espaço e regularizar os parcelamentos, que ocupam metade do espaço da fazenda. A outra parte ficou livre da ação de grileiros, época em que a companhia reforçou o desejo de construir novos empreendimentos quando a área fosse legalizada. A UPSA pagou pela elaboração dos estudos ambientais e urbanísticos dos loteamentos, deu entrada no processo de licenciamento e encaminhou os projetos para avaliação do Grupo de Análise de Parcelamentos (Grupar). Mas a chegada da empresa foi vista com desconfiança por alguns moradores. Muitos reclamaram de não terem participado da elaboração dos projetos feitos pela UPSA e encaminhados à Câmara Técnica do Conplan. Isso atrasou todo o processo de regularização na área.