Brumadinho, Minas Gerais, 25 de janeiro de 2019. Cerca de 400 trabalhadores da Mina Córrego do Feijão, pertencente à companhia Vale do Rio Doce, foram atingidos pelo rompimento de uma barragem de resíduos. Três anos e dois meses depois do desastre ambiental de Mariana (MG), a história se repetiu. Não como farsa, mas como uma dolorosa realidade a esses funcionários. O triste saldo do dia: sete pessoas mortas, cinco hospitalizadas e 200 desaparecidas. Números que podem ser atualizados.
O rompimento ocorreu no início da tarde, por volta de 13h30. Os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia, o refeitório – exatamente no horário de almoço – e parte da comunidade da Vila Ferteco.
Moradores da região que residem na parte mais baixa de Brumadinho precisaram deixar suas casas, segundo a Defesa Civil. Logo a tragédia tomou as redes sociais. Imagens impressionantes das torrentes de lama ganharam Twitter, Facebook e Instagram. Incrédulas e assustadas, as pessoas pareciam duvidar do que viam.
E as cenas realmente são dramáticas: animais, carros, plantações e seres humanos soterrados pelos resíduos de minérios misturados à lama. O Corpo de Bombeiros logo entrou em ação, junto com a Defesa Civil. Por volta das 21h, as autoridades divulgaram que 182 pessoas haviam sido resgatadas com vida. O Centro Social do Córrego do Feijão foi usado para se montar uma operação de atendimento às vítimas, que recebiam ali os primeiros cuidados médicos. Quase madrugada, a área de emergência começou a ser transferida para uma faculdade da região.
O Hospital João XXIII recebeu os feridos, conduzidos para lá de helicóptero. Um plano de catástrofe na Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) foi declarado e, com isso, todas as equipes do Hospital João XXIII, localizado a 57 km de Brumadinho, estão em alerta para receber as vítimas.
O Hospital Municipal de Brumadinho enviou médicos e enfermeiros para a região onde ocorreu a tragédia. Por isso, os atendimentos cotidianos são direcionados para a capital mineira, Belo Horizonte. Até unidades de saúde da rede privada somaram-se à força-tarefa montada para prestar socorro às vítimas.
Rotina interrompida
Em Brumadinho, a rotina foi bruscamente interrompida. Moradores das margens do Rio Paraopeba, que atravessa a cidade, deixaram suas casas e todo o comércio local fechou as portas. Já o trânsito na ponte que cruza o rio e as ruas principais foi interditado.
Outros municípios da Grande Belo Horizonte emitiram comunicados de alerta a suas populações. A Prefeitura de São Joaquim de Bicas instruiu moradores que vivem às margens do Rio Paraopeba a evacuarem a área por medida de segurança. Em Juatuba, limítrofe com Brumadinho, a gestão municipal também emitiu alerta semelhante ao da comunidade do bairro Francelinos, por onde também passa o rio.
O prefeito de Betim, Vittorio Medioli, divulgou um vídeo nas redes sociais e pediu atenção aos riscos de inundação. “Preste atenção para poder evacuar as casas, caso as coisas fiquem muito sérias”, recomendou Medioli nas imagens.
As autoridades estaduais e federais se mobilizaram. O governo de Minas Gerais montou uma força-tarefa para socorrer vítimas, prestar apoio à população e averiguar a extensão da tragédia. Equipes do Executivo de Minas se deslocaram até a cidade. O secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Germano Vieira, e a secretária de Impacto Social, Elizabeth Jucá, coordenam os trabalhos no município. Foi montado um gabinete de crise, com o apoio de Belo Horizonte.
Socorro às pessoas
“Todo o aparato do governo de Minas foi enviado para prestar os primeiros socorros às vítimas e o suporte necessário para os moradores da região. Nossa atenção neste momento está direcionada para socorrer as pessoas atingidas”, disse o governador Romeu Zema (Novo), que também irá ao cenário da tragédia.
Em Brasília, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), determinou aos ministros da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e do meio Ambiente, Ricardo Salles, que fossem ao local do acidente, além de enviar tropas militares para dar suporte ao município. Salles partiu de Brasília nessa sexta-feira (25/1). Azevedo e Silva irá neste sábado (26).
Dois gabinetes de crise foram criados na capital federal para planejar e coordenar as ações de apoio aos atingidos pelo rompimento da barragem. No final da tarde, em entrevista coletiva, Bolsonaro confirmou que irá visitar a cidade de Brumadinho, acompanhado da primeira-dama, Michelle, nesta manhã.
“O momento é de tristeza para todos. Há 200 desaparecidos e esperamos que o pior não tenha acontecido. Determinei que nos colocassem as informações em tempo real para tomarmos as medidas cabíveis para minorar o sofrimento da região e de familiares de possíveis vítimas, bem como a questão ambiental”, disse o presidente da República.
Os comitês de crise do governo federal fazem um prognóstico nada positivo: o desastre em Brumadinho pode ter proporções maiores do que as do acidente ocorrido há três anos em Mariana.
Mariana nunca mais?
Opinião que corrobora a do presidente da Vale, Fábio Schvartsman, o qual assumiu a companhia em 2017 com o lema “Mariana nunca mais”. Ele disse que deve haver muitas vítimas no local e a companhia pretende fazer uma investigação rápida e profunda sobre o episódio.
“Vamos resgatar e atender as pessoas e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para enfrentar essa situação inimaginável. Ainda não sabemos o número de vítimas. A região é de acesso muito difícil e muito afastada. Tinha muitos funcionários da Vale no momento. Infelizmente, deve ter muitas vítimas”, disse.
Espera-se que, assim como errou com o lema que escolheu, Schvartsman esteja errado também nessa pessimista previsão.
Complexo de Paraopeba
A Mina Córrego do Feijão, cujo rompimento da barragem provocou mais um acidente da mineradora Vale em Minas Gerais em menos de três anos, faz parte do Complexo de Paraopeba, que possui 13 estruturas utilizadas para disposição de rejeitos, retenção de sedimentos, regulação de vazão e captação de água.
Ao todo, o Complexo de Paraopeba produziu 26,3 milhões de toneladas de minério de ferro em 2017, cerca de 7% da produção da Vale, que no mesmo ano registrou produção de 366,5 milhões de toneladas de minério de ferro, segundo a assessoria da empresa.