A Operação Circus Maximus, deflagrada na manhã desta terça-feira (29/1), apura um esquema criminoso instalado na cúpula do Banco de Brasília (BRB) que movimentou, segundo investigadores, R$ 400 milhões da instituição financeira – que tem 96,85% das ações ordinárias controladas pelo Governo do Distrito Federal. Os procuradores estimam que atividades fraudulentas movimentaram mais de R$ 40 milhões em propinas.
Na decisão que embasou uma série de autorizações judiciais para cumprimento de prisões e diligências de busca e apreensão, o juiz federal da 10ª Vara do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), Vallisney de Souza Oliveira, descreve “um cenário de possíveis crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção e tráfico de influência supostamente praticados por empresários, funcionários públicos e agentes financeiros autônomos em dois empreendimentos e, potencialmente, um terceiro”.
Com base na investigação da força-tarefa da Greenfield, do Ministério Público Federal (MPF), a peça cita: o Edifício Praça Capital, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA); o LSH Lifestyle Hotel, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro; e a reestruturação da dívida do jornal Correio Braziliense, que tem sede no Setor de Indústrias Gráficas (SIG). O Metrópoles teve acesso aos documentos da investigação do MPF e às decisões judiciais que autorizaram o cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão.
Nesta terça-feira (29), a Polícia Federal cumpriu 14 mandados de prisão no âmbito da Circus Maximus, além de mandados de busca e apreensão em 34 endereços no Distrito Federal, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Entre os alvos das prisões preventivas (10) e temporárias (quatro) estão integrantes da cúpula do Banco de Brasília durante a gestão do ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB).
Até as 19h30, a PF não tinha informado quantas prisões haviam sido efetuadas, mas a reportagem apurou que os detidos foram levados para o Bloco 5 do Centro de Detenção Provisória, no Complexo Penitenciário da Papuda.
Segundo o MPF, os suspeitos “organizaram uma indústria de propinas e favorecimentos para investimentos em detrimento do procedimento técnico e da boa gestão que se espera das instituições financeiras”.
Entre os alvos da operação estão o presidente licenciado do BRB, Vasco Cunha Gonçalves – recém-indicado diretor-presidente do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes) –, os diretores Financeiro e de Relações com Investidores, Nilban de Melo Júnior, e de Serviços e Produtos, Marco Aurélio Monteiro de Castro, além do ex-conselheiro da instituição Ricardo Luiz Peixoto Leal.
Ricardo Leal é apontado, pelos 11 procuradores da República que assinam a peça, como o líder da organização criminosa que dilapidou o BRB. Ele assumiu a função em 2015 e deixou o cargo no dia 11 de fevereiro de 2017, logo após vir a público disposição do operador Lúcio Funaro em fazer delação, já que estava preso preventivamente desde julho de 2016.
Apontado como negociador de propina para figurões do MDB, Funaro incluiu, em seu cardápio de nomes a serem entregues ao MPF, Ricardo Leal, que, segundo ele, comandava um esquema vigoroso de corrupção via BRB. Os dois eram amigos próximos há 20 anos.
Segundo o MPF, Ricardo Leal, conhecido também pelos apelidos de Kid, Criança e Chuck, assumiria o controle do Conselho de Administração do BRB após ter atuado como o tesoureiro da campanha de Rollemberg em 2014.
Empreendimentos suspeitos
De acordo com os procuradores, o Banco de Brasília foi peça decisiva para beneficiar empreendimentos em operações consideradas fraudulentas e com intermediação de pagamento de propina.
No primeiro caso citado pela ação do MPF, integrantes do BRB teriam recebido propina em troca de investimentos do banco no LSH Lifestyle Hotel, antigo Hotel Trump. O aporte do Banco de Brasília em empreendimento carioca que não se mostrava bom negócio para a instituição foi realizado mesmo assim – na base de vantagem indevida, sabe-se agora.
Para construir o hotel, a LSH foi ao mercado e lançou debêntures (títulos de dívida) junto a instituições financeiras para a captação de recursos. A operação totalizou R$ 80 milhões, em valores corrigidos. Desse total, 42% são do BRB, ou seja, R$ 33,6 milhões. O banco entrou de cabeça no negócio, adquirindo, administrando e custodiando o fundo por quase quatro anos, entre 2013 e 2017.
Veja trechos da investigação do MPF: