01/02/2019 às 08h06min - Atualizada em 01/02/2019 às 08h06min

Bolsonaro e os seus generais excomungam 4 casamentos em um funeral

Notibras

Sobre os casamentos de Lula com o PT, com José Dirceu, com Dilma Rousseff e com Antônio Palocci, tudo já foi dito. Inclusive sobre os divórcios com os mesmos cônjuges. O grande evento que criou um movimento de consequências imprevisíveis nesta semana foi um funeral. Os fatos que movimentaram os bastidores da República pouco foram sentidos pelos brasileiros.

Durante as 24 horas em que aconteceram, o país e suas lideranças estiveram próximos de uma crise não experimentada antes, que poderia produzir muitos outros funerais, caso não tivesse sido debelada com a habilidade, paciência, preceitos legais e ajuda de um grande aliado: o relógio.

Foi assim:

domingo, 27 de janeiro – o presidente Jair Bolsonaro é internado em São Paulo para aguardar a terceira cirurgia decorrente do atentado que sofreu em Juiz de Fora – trama ainda não desvendada que já tem um fugitivo;

segunda, 28 de janeiro – Bolsonaro é submetido ao procedimento cirúrgico para retirada da bolsa de colostomia que durou mais de sete horas, no Hospital Albert Einstein. O general Hamilton Mourão responde pelo Governo Federal;

terça, 29 de janeiro – morre em São Paulo o irmão de Lula, Genival Inácio da Silva, conhecido como Vavá. O advogado do ex-presidente condenado entra com pedido de autorização para que Lula deixe a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, e compareça ao funeral. Alega o Artigo 120 da Lei de Execução Penal que prevê essa possibilidade.

O problema é que ele encaminhou a petição à juíza Carolina Lebbos, da Vara de Execuções Penais de Curitiba, quando deveria ter encaminhado inicialmente à Superintendência da Polícia Federal, que hospeda Lula em Curitiba. Perdeu tempo.

Durante a tarde da terça-feira, a agora deputada federal e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o agora desempregado e ex-senador Lindbergh Farias, convocam a militância da esquerda para um ato político em torno do funeral. Arquitetam um manifesto sem precedentes que chama a atenção das autoridades do Planalto.

Imaginam eles que ali – cemitério da Pauliceia em São Bernardo do Campo – o cenário seria emblemático para um quebra-quebra, entre túmulos e mausoléus. Informações chegam alertando que, uma vez fora das grades, Lula teria a oportunidade, em meio ao tumulto, de não voltar para sua hospedagem de origem e empreender fuga de futuras condenações, além daquela que cumpre hoje. Esse plano é admitido pelas autoridades de segurança.

Uma grande correria no Palácio do Planalto identifica o perigo na convocação que fazem Gleisi e Lindbergh, que poderia atrair coroas de flores, terços, foices, martelos, pistolas, fuzis e outros instrumentos próprios para produzir novos óbitos e manchetes internacionais. Plano muito apropriado para o momento.

As redes sociais vermelhas são incendiadas, a imprensa que apoia o presidiário vibra com as possíveis matérias e imagens que seriam geradas naquele ambiente, perfeito para a ocasião. Durante toda a tarde a contrainformação entra em ação.

Bolsonaristas vão às redes sociais afirmar que Lula, quando presidente, não foi ao enterro dos irmãos João Inácio, morto em 2004, nem de Odair Inácio, desaparecido em 2005. Petistas rebatem e afirmam que Lula só amava Vavá. O clima é tenso durante toda a tarde. A turma do Mito contra a turma que ataca o Coiso.

Promessas de enfrentamento nas últimas consequências são registradas em posts na internet. O general Mourão, vice-presidente, desarma o clima hostil com a declaração de que é a favor do comparecimento de Lula ao sepultamento por uma questão humanitária. As Forças Armadas ficam de prontidão.

Enquanto Mourão mantinha um tom respeitoso sobre o assunto, as autoridades ganhavam minutos e segundos preciosos. Nos bastidores todas as forças de segurança são convocadas, de olho no relógio. O tempo passa.

Às 20h45, a juíza Carolina Lebbos encaminha pedido de parecer à DIP – Diretoria de Inteligência da Polícia Federal, instância inicial onde Lula deveria ter solicitado a permissão. O superintendente, delegado Luciano Flores de Lima, conversa então com João Camilo Pires do Campo, secretário de Segurança Pública de São Paulo, que afirmou ser impossível uma logística capaz de garantir a segurança do funeral.

Próximo de meia-noite, além de não garantir que seria capaz de impedir a fuga de Lula, também não poderia contar com aeronaves, em função de ter os helicópteros todos em missão no acidente de Brumadinho, onde a população aguarda mais de 300 funerais. Deu a entender que a tragédia em Minas Gerais e as famílias vitimadas, simples e honestas, eram prioridade.

Enquanto isso, prevendo que seria consultado, o general Ajax Porto Pinheiro, assistente do ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, prevê que depois do indeferimento da juíza Lebbos, o advogado de Lula recorreria ao TRF4, que também negaria o pedido, e que depois chegaria ao Supremo Tribunal Federal. E o tempo passa.

Toffoli aguardou a sequência dos fatos durante toda a noite. Já estava decidido conceder o alvará de Lula para comparecer ao funeral-comício organizado pelas estrelas do PT, Gleisi e Lindbergh. Mas havia ainda a decisão da juíza Lebbos, aguardada na madrugada e a do desembargador do TRF4, na sequência.

– 23h50 – a juíza Lebbos, de posse dos fundamentos recebidos do delegado Luciano de Lima da DIP Curitiba, indefere o pedido. O tempo passa;

quarta, 30 de janeiro – a madrugado foi tensa nos bastidores do Planalto e nas redes sociais entre os grupos verde-amarelo e vermelho. Enquanto os advogados de Lula amanhecem na expectativa de uma resposta do TRF4, o velório de Vavá tem início com o sepultamento marcado para as 13h00.

O desembargador de plantão, Leandro Poulsen, responde ao recurso com um redundante “não”: Lula não vai a lugar algum. Ato seguinte, como previsto, a defesa de Luiz Inácio recorre ao STF de Toffoli onde a decisão já estava pronta, contrariando os três indeferimentos anteriores.

De olho no relógio, em nome do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli acenou com um “SIM” no final da manhã, conforme o general Mourão havia abençoado.

Lula é comunicado próximo das 12h00, quando em São Bernardo do Campo a urna de Vavá já era conduzida ao túmulo. Embora a autorização permitisse o translado do corpo do querido irmão (e adiamento do enterro) ao lugar reservado para o ex-presidente e sua família, em unidade do Exército.

Entretanto, não foram permitidas regalias. Então, sem a famosa garrafinha de água mineral, sem faixas, sem cartazes, sem imprensa, sem celular, sem comício, sem Gleisi, sem Lindbergh, o funeral não teria a menor graça. Lula, assim, desistiu de comparecer.

– 13h00 – Vavá é sepultado; Lula é calado; Gleisi e Lindbergh são frustrados no show macabro em que pretendiam transformar o sepultamento. O Brasil volta a atenção aos brasileiros sofridos de Brumadinho e seus mortos que também pagaram a conta. Ufa!

O tempo passou…


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