As delações premiadas de três funcionárias da TM Medical trouxeram à tona detalhes do mais fraudulento esquema de comercialização de órteses e próteses do Distrito Federal. Os depoimentos evidenciam que havia troca de produtos de melhor qualidade por outros de marcas inferiores. Além disso, havia orientação para reutilizar os materiais e fazer a troca dos lacres para parecer que eram novos. A representante comercial Sammer Oliveira Santos denuncia que a “TM vendia material usado como se fosse novo”. As cirurgias aconteceram em diversos hospitais da capital e as delatoras acreditam que as unidades e os profissionais de saúde tinham conhecimento das fraudes. “Nem tinha como se executar a fraude sem a conivência deles”, alerta Sammer.
No depoimento da representante comercial Danielle Beserra de Oliveira ela conta que em determinada cirurgia teve a necessidade de abrir uma broca nova no momento da procedimento porque a broca que estava em utilização estava sem corte (de tanto uso), e por esse motivo foi censurada pelo Dr. Johnny Wesley Gonçalves Martins e pelo Micael Bezerra Alves. Para Danielle, os médicos que faziam as cirurgias sabiam que as brocas e pinças que estavam usando eram reutilizadas, tanto que quando a broca estava sem corte, o médico chegava a comentar “essa aqui não está cortando, despreza ela pelo amor de deus, não deixa mais isso aqui voltar para caixa não”.
Segundo Danielle, os lacres que iam para o prontuário eram frios e pertenciam a brocas reutilizáveis. Na TM Medical, as funcionárias eram orientadas a entregar os lacres, pois segundo o entendimento deles, como os convênios não estavam autorizando esses materiais, consideravam importante que os lacres desses materiais estivessem registrados em prontuário para que os planos de saúde entendessem que aqueles materiais eram necessários e precisavam passar a ser autorizados. Ela conta que chegou a questionar o trâmite de troca de lacres. “(…) gente, mas como é que você pega um lacre e praticamente todos estão com o mesmo lote, a mesma referência?”
A outra funcionária da TM, a instrumentista Rosângela Silva de Sousa reforça que quando aconteciam as “bonificações”, a orientação da empresa era não abrir material novo, e sim utilizar o reutilizável mesmo. Ela explica também que existiam negociações entre o convênio e a empresa, nas quais a empresa bonificava (doava) alguns materiais da cirurgia para que o plano autorizasse o procedimento.
Segundo Rosângela, a fraude contava com a negligência dos funcionários dos hospitais. “Somente quando o circulante é cuidadoso, entrega-se lacre a lacre, mas se ele permite que os lacres sejam entregues posteriormente, todos de uma vez, fica mais fácil executar a fraude”. Ela diz ainda que a falta de especificação do material na autorização do plano de saúde também ajudou o esquema. “Muitas vezes, na autorização do convênio, não vem especificação de marca, vem apenas especificação de material, então fica fácil de utilizar material barato e entregar ao circulante o lacre de um material caro”.