Uma discussão entre a defesa do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, marcou os depoimentos desta segunda-feira, (13), na ação penal da Lava Jato que envolve o caso do tríplex em Guarujá, no litoral de São Paulo. Foi durante o depoimento do ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, nesta manhã, por videoconferência de Salvador, na Bahia.
A defesa de Lula interrompeu um questionamento de Moro e o acusou de fazer “perguntas de um inquisidor, e não as perguntas de um juiz”.
O bate-boca começou quando Moro perguntou a Gabrielli o motivo que o levou a substituir Nestor Cerveró por Jorge Zelada na diretoria internacional da Petrobras. Gabrielli revelou que a decisão do Conselho Administrativo, mas por orientação do governo.
Quando Moro perguntou se o ex-presidente não havia questionado o motivo da substituição, a defesa interrompeu alegando que há limites para as perguntas: “as suas perguntas são perguntas de um inquisidor, e não as perguntas de um juiz”.
“Respeite o juízo”, disparou Moro.
José Sérgio Gabrielli foi interrogado como testemunha de defesa do ex-presidente Lula. Em todos os questionamentos ele reafirmou que as conversas que teve com o ex-presidente foram “sempre no plano da importância da Petrobras para o Brasil”.
Gabrielli negou ainda que tenha ouvido do ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, do ex-diretor da estatal, Nestor Cerveró, ou ainda de Pedro Barusco, ex-gerente da estatal, (os três já condenados na Lava Jato), qualquer palavra sobre possível envolvimento de Lula em desvios de recursos da Petrobras. Gabrielli foi nomeado pelo petista e comandou a estatal de 2005 a 2012.
Jaques Wagner
Também por videoconferência, no mesmo processo, o ex-ministro de relações institucionais do Governo Lula, Jaques Wagner (PT), prestou depoimento como defesa de Lula. Disse desconhecer o uso de recursos desviados da Petrobras, mas admitiu que era procurado por senadores, deputados, governadores e prefeitos, e que isso era “absolutamente normal”. Argumentou que a proximidade com Lula facilitava o atendimento às demandas dos políticos. Porém negou que a base fosse mantida às custas de pagamentos com “dinheiro de origem espúria”. Negou ainda ter participado diretamente da indicação de cargos na estatal enquanto esteve no Conselho da Petrobras, entre 2003 e 2006.
Nesta ação penal Lula responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de ter se beneficiado com R$ 3,7 milhões de propina através de favores pagos pela OAS: a compra e a reforma de um triplex no Guarujá e o armazenamento de bens retirados do Palácio do Planalto ao final do segundo mandato do petista. O esquema de corrupção, de acordo com o Ministério Público Federal (MPF), movimentou mais oitenta e sete milhões de reais (R$ 87,6 milhões).
Esse é o terceiro dia de audiências com testemunhas de defesa deste processo. Cerca de 80 pessoas foram indicadas pelos advogados dos oito réus do processo. As audiências dessa fase da ação começaram na semana passada e seguem até o mês que vem.