30/04/2019 às 06h30min - Atualizada em 30/04/2019 às 06h30min

Saiba quem foi Tales Cotta, o modelo mineiro que faleceu de mal súbito

Ao sair do evento, Dalasam falou rapidamente com a coluna. “O lamento sobre a perda da vida se perdeu. O cara morreu e tava todo mundo lá desfilando”, disse. A marca se posicionou pelo Instagram Stories com uma declaração do fundador, Alberto Hiar. “Aconteceu na passarela, onde ele fazia o que amava, mas poderia ter acontecido em outro lugar e ficaríamos abalados da mesma forma”, disse a publicação.A moda nacional viveu um de seus momentos mais tristes no último sábado (27/4/19), dia do encerramento da 47ª edição do São Paulo Fashion Week. Durante o desfile da grife Också, o modelo mineiro Tales Cotta, 25 anos, sofreu um mal súbito e caiu na passarela. Por volta das 19h10 daquele dia, a assessoria de imprensa do evento confirmou, por meio de uma nota, a morte do rapaz.
 

Tales Newton Gomes Alvarenga Soares, ou Tales Cotta, nasceu em Manhuaçu, município do interior de Minas Gerais, a 280 km de Belo Horizonte. Vegetariano e formado em educação física, se destacava pela aparência andrógena, os olhos verdes e os cabelos platinados.

Apaixonado pela profissão, ele iniciou a carreira de modelo em Vitoria (ES), há sete anos. No currículo, três edições da Casa de Criadores para os designers Diego Fávaro, Felipe Fanaia e Rafael Silvério.

Na 47 º edição do SPFW, que ocorreu na última semana, além da Också – passarela na qual sofreu do mal súbito que veio a causar o seu falecimento, Tales também marcou presença para a marca Ratier (26/4/19). Instantes antes da fatalidade, ele havia publicado vídeos no backstage do que seria seu último desfile.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM/@TALES.COTTA
Reprodução/Instagram/@tales.cotta

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Tales Cotta era agenciado pela Base MGT há um ano e oito meses. Bruno Piazzi é o bookerresponsável pelos desfiles do modelo

Em entrevista ao jornal O Globo, o agente Rogério Campaneli disse que Tales estava escalado para os desfiles de Verão 2020 na Semana de Moda Masculina de Milão, em junho. Além disso, em poucos dias, participaria de uma propaganda de marca de combustíveis.

Segundo Campaneli, o jovem modelo era sorridente, “um garoto de ouro mesmo”. Em São Paulo, dividia um apartamento com mais quatro rapazes. Pelo Instagram, o agente homenageou o modelo e publicou um vídeo dele em momento descontraído.
 

O momento
Além de ter sido um susto, a queda de Tales deixou o público na dúvida. Por um momento, muitos acharam que se tratava de uma performance, até ele ser socorrido. De acordo com a assessoria de imprensa do SPFW, o modelo foi “prontamente atendido pela equipe de socorristas do evento e em seguida levado ao hospital”.

Procurada pela coluna, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo informou que ele foi encaminhado para a Assistência Médica Ambulatorial (AMA) de Sorocaba, onde já chegou sem vida. Segundo a agência Base MGT, o Instituto Médico Legal (IML) deve levar de 60 a 90 dias para concluir a causa da morte.

A estilista Flavia Aranha, fundadora da marca que desfilou depois da Också, disse pelo Instagram que não sabia do incidente quando apresentou suas criações. “Eu não fazia ideia do que havia acontecido. Se soubesse não teria desfilado. E sinto necessário tornar essa informação pública. Ficou muito estranho sentir alegria sem saber da dor que ocorria logo ali, do meu lado. Minhas mais sinceras condolências à família”, declarou.
 

A coluna esteve no evento e acompanhou a movimentação do local. Após a confirmação da morte, o ambiente ganhou um ar triste, mas a programação foi mantida mesmo assim. Segundo o SPFW, as marcas tiveram a opção de cancelar os desfiles. Piet, Ponto Firme e Cavalera, que ainda apresentariam suas apostas para a temporada, optaram por fazer um minuto de silêncio antes de seus shows. O vídeo com as instruções de segurança, bem como a vinheta da 47ª edição, foram exibidos sem som.

O desfile da Cavalera encerrou a programação do evento na mesma passarela em que Tales havia caído horas antes. Entre as várias participações de rappers brasileiros, a performance que chamou mais atenção foi a do paulistano Rico Dalasam, conhecido pela música Fogo em Mim. Em vez de cantar, ele preferiu se manifestar contra a continuidade dos desfiles.

“Me chamou porque quis. Não era para ninguém estar aqui. O garoto acabou de morrer e vocês estão aqui como se a vida não valesse nada. Enquanto os ricos não lamentarem as mortes dos negros, dos brancos e da humanidade das pessoas, a agonia vai estar no travesseiro de todo mundo”, declarou na passarela.

Ao sair do evento, Dalasam falou rapidamente com a coluna. “O lamento sobre a perda da vida se perdeu. O cara morreu e tava todo mundo lá desfilando”, disse. A marca se posicionou pelo Instagram Stories com uma declaração do fundador, Alberto Hiar. “Aconteceu na passarela, onde ele fazia o que amava, mas poderia ter acontecido em outro lugar e ficaríamos abalados da mesma forma”, disse a publicação.

Manifestações
A mãe do jovem, Heloisa Cotta, se manifestou pelas redes sociais. No Facebook, negou os boatos de que ele estaria sem comer, seria usuário de drogas ou teria epilepsia. Pelo Instagram, a mãe compartilhou uma imagem enviada pelo filho diretamente do evento, que aconteceu no Espaço ARCA, Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo.

“Vc (sic) me deixou aqui nesse plano. Meu companheirinho de tudo. Com a gente não tinha segredos. Vai me fazer muita falta. Mas vc (sic) é luz. Agora está junto do seu irmão Vitor e do vo (sic) Valdemar. Sua missão aqui se encerrou. Nos encontraremos quando eu tbm (sic) voltar pra nossa pátria espiritual. Essa foi a última foto que me enviou poucas horas antes do desfile. Amor eterno”, publicou a mãe.
 

Na noite desse domingo (28/4/19), a Också se pronunciou, lamentando a tragédia e se desculpando por ter seguido com o desfile. Estreante na programação do evento, a grife de Igor Bastos disse que “tudo aconteceu muito depressa”. “Em nome de toda equipe pedimos desculpas por temos dado continuidade ao desfile, independente das informações que dispúnhamos naquele momento, no backstage. Independente se tivesse sido uma queda ou ele desmaiado, jamais deveríamos ter dado continuidade ao desfile”, lamentou.

“Vocês não imaginam nossa dor, tristeza quando recebemos essa notícia. Nesse momento, só pedimos que canalizem suas energias em preces, orações e mensagens de apoio e carinho para a família do Tales e amigos. Acreditamos que, com união e amor, conseguiremos juntos amenizar a dor dessa tragédia e dessa perda imensurável”, finalizou.

Na publicação, a marca foi confortada pela mãe do modelo, que pediu para que não se culpassem pelo ocorrido. “Não se culpem. Tales era profissional. Vcs (sic) não fizeram mal nenhum. No momento ninguém sabia realmente o que tinha acontecido. O certo era seguir o desfile pra não desestabilizar o restante”, comentou pelo Instagram.
 

A organização do evento lamentou a fatalidade e disse que estava prestando “sinceras condolências à família”. Pelo Facebook, se pronunciou ainda sobre os questionamentos feitos pelo público e justificou a continuidade do desfile. Segundo a nota publicada na rede social, havia comida vegetariana em todos os backstages.

Ainda não há informações se houve algo além do mal súbito. O modelo foi socorrido com vida. “A organização e a marca Också decidiram por seguir, pois não esperávamos este desfecho”, concluiu.

No fim da tarde desta segunda (29/04/2019), a assessoria do SPFW afirmou que Paulo Borges, organizador do evento, não atenderia a imprensa. A princípio, ele só iria se pronunciar depois da confirmação da causa da morte pelo IML. No entanto, o idealizador da iniciativa voltou atrás e publicou um vídeo no IGTV. Em um comunicado de quase seis minutos, o empresário falou sobre os fatos que sucederam o acontecido nos bastidores.

Leia na íntegra:

“Eu estava há quase dois dias em silêncio, primeiro, em respeito ao sepultamento do Tales e à família, esperando esse momento onde eu posso dizer, de uma maneira que eu sempre falo com as pessoas: sendo transparente, objetivo e simples.

Eu queria começar dizendo que a gente está vivendo algo inimaginável. Não existe manual para lidar com uma situação tão trágica, inesperada e surreal. No momento em que o Tales teve o mal súbito e foi prontamente atendido pelo socorristas e encaminhado ao hospital, não havia possibilidade e ninguém contava com uma tragédia. Todos ali estavam o tempo todo com pensamentos positivos, realizando seus sonhos de meses.

O desfile da Ocksa aconteceu porque o acidente, até então não trágico, já havia sido atendido e foi assim que se deu: todo mundo assustado e emocionado. Assim foi também com o desfile da Flávia Aranha. O óbito ocorreu às 18h40 e fomos informados às 18h50. Os desfiles já tinham acontecido.

Nesse momento, onde fomos informados oficialmente, eu entendi que todos ali presentes deveriam ser comunicados, pois eu trabalho com pessoas. Eu não estou na moda pela roupa, mas por causa das pessoas, do que elas são, significam, fazem, pensam e sentem. Eu não desejaria a ninguém estar ali no olho do furacão, vivendo uma energia tão inexplicável, difícil e dolorosa.

Eu percebi que, naquele momento, meu papel era conduzir e dividir aquilo com todas as centenas de pessoas estavam ali. Centenas de pessoas que trabalharam por meses e estavam ali por um sonho. É muito difícil, nesse momento, você saber qual é a melhor decisão. Não existe essa lógica fria, onde depois do fato você consegue decidir.

Posso atestar que, no olho do furacão, pensando no coletivo, humanizando os processos, momentos e pessoas, acompanhando o Tales ao hospital, com a família, eu entendi que meu papel era me solidarizar com todos. E essa foi a grande decisão ali: dividir com cada um, ouvir com cada um e seguir juntos para fazer o trabalho de centenas de pessoas.

Não tem como achar a melhor solução. Todos ali, absolutamente humanos e humanizados, estavam tão impactados como eu. Se existia alguém ali que pudesse parar tudo, seria eu, mas fiz da maneira que fiz porque sou humano como todos.

Sigo impactado com toda a emoção e com tudo que aconteceu e só consigo estar aqui fazendo esse vídeo porque, desde o acidente, estive em contato com a dona Heloísa, várias vezes. Se alguém me ensinou como lidar com a situação, foi ela. Então eu quero, mais uma vez, deixar meus sentimento, dor, tristeza e respeito, e dizer que meu pensamento sempre está ligado às pessoas, quem elas são e o que elas significam para o futuro”, declarou.


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